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ESPECIAL CORREIO DEBATE: OS CAMINHOS DO OURO

Jungmann faz denúncia sobre detenção de indígenas em Rondônia

Em evento do Correio, presidente do Ibram, Raul Jungman, conta que as indigenista Neidinha Suruí e a filha Txai Suruí "foram cercadas, quase sequestradas e ofendidas" por um grupo armado em Rondônia

Rosana Hessel
postado em 16/05/2023 20:52
De acordo com Jungmann, se não tivesse um jornalista estrangeiro com o grupo, eles não teriam sido libertados -  (crédito:     Marcelo Ferreira/CB/DA Press                                 )
De acordo com Jungmann, se não tivesse um jornalista estrangeiro com o grupo, eles não teriam sido libertados - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/DA Press )

A realidade dos povos indígenas na Amazônia é cheia de perigos. Durante o seminário Correio Debate: os caminhos do ouro, realizado pelo Correio Braziliense, nesta terça-feira (16/5), em parceria com a Casa da Moeda do Brasil, o presidente do Ibram, Raul Jungman, revelou um episódio que ocorreu em Rondônia e, por pouco, não acabou em uma tragédia.

Na segunda-feira (15/5), a indigenista Ivaneide Bandeira, a Neidinha Suruí, a filha Txai Suruí, e outros cinco indígenas do povo Uru-Eu-Wau-Wau, foram abordadas por um grupo de cerca de 50 homens armados em em uma estrada que dá o ao posto de vigilância da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Rondônia, e ficaram detidos por cerca de quatro horas. O grupo acompanhava o ativista Mundano e uma equipe de documentaristas, que iam realizar uma manifestação contra o desmatamento e compra de gado ilegal.

De acordo com Jungmann, Neidinha contou a ele, um pouco antes do evento, que se não tivesse um jornalista estrangeiro com o grupo, eles não teriam sido libertados. O documentarista que acompanhou a equipe era Heydon Prowse, diretor e jornalista inglês.

“Não sei o que poderia ter acontecido com ela, não sei o que poderia ter acontecido. É inaceitável qualquer tipo de violência contra qualquer pessoa e, particularmente, a essas pessoas que estão fazendo a defesa da floresta, como é o caso dos povos originários”, afirmou o ex-ministro da Defesa, que contou ter conversado hoje com a indigenista. “Ela foi cercada, quase sequestrada, ameaçada, xingada e agredida. Teve sorte que não teve um ataque, pois tinha um jornalista, inclusive estrangeiro, com eles”, acrescentou Jungmann, que defendeu um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia e combate ao comércio ilegal de ouro.

Procurada pelo Correio, Neidinha Suruí, fundadora da Associação Etnoambiental Kanindé, contou que eles foram surpreendidos pelo grupo que não se identificou e diziam que eram assentados e proprietários das terras e que ali não era terra indígena.

“A gente foi acompanhar o Mundano que ia fazer uma arte contra o desmatamento e a compra de gado ilegal e de terra indígena. Era uma arte que ele pintava no chão e filmava com um drone. E a gente ia pintar a base da Funai também. E aí, o Mundano ia fazer a pintura, nós fomos cercados por aproximadamente 50 homens que nos mantiveram em cativeiro por aproximadamente quatro horas”, disse. Ela contou que ela e o grupo foram ameaçados “com palavras racistas, discriminatórias e ameaçadoras”. “Foi uma situação bem complicada, dentro da terra indígena do povo Uru-Eu-Wau-Wau, mas é uma área que tem muita pressão por conta da grilagem de terra”, acrescentou.

Além de cercarem e prenderem o grupo, os homens queriam forçá-los a aguardar a chegada de um jornalista amigo deles. “Depois de umas duas horas de detenção eu fui falar com eles para contar que tinha um indígena ando mal e que precisava levar para o médico e ficaram nos filmando no carro. Eu perguntei quem era o líder do grupo e eles disseram que não tinha líder e que todo mundo é líder. E eu disse: já que todo mundo é líder, eu estou há quatro horas em cárcere, se vocês não me libertarem eu vou denunciar para a Política Federal e isso não vai ser legal”, afirmou. “Não sei o que deu neles, quando eu falei que ia denunciar para a PF eles me liberaram e os outros indígenas e o Mundano e os documentaristas ficaram lá”, acrescentou.

Após fazer Boletim de Ocorrência na Polícia Federal, Neidinha Suruí também comunicou o episódio à Funai e ao Ministério dos Povos Indígenas. Após o ocorrido, ela itiu que se deu conta de que sofreu uma emboscada, pois eles sabiam quem a gente era. “Eles estavam muito preparados e orientados. Atravessaram a estrada quando a gente ava”, disse ela, em entrevista ao site Amazônia Real. Segundo a indigenista, a equipe que acompanhava Mundano ainda ficou lá depois que eles foram liberados. “Só recebemos uma ligação de um deles hoje, dizendo que estavam em uma das aldeias Uru-Eu-Au-Au. Mas antes de ir, eles foram forçados a dar entrevista. Por isso eles falam daquele jeito”, completou.

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