religiosidade

Divaldo Franco tem despedida em paz e serena

Em um velório simples, muitas pessoas deram o último adeus ao médium e filantropo, na instituição que mantinha, em Salvador. Artistas, políticos e representações da comunidade kardecista ressaltaram o retorno dele à pátria espiritual

Velório seguiu aquilo que Divaldo pedira: uma cerimônia singela e aberta àqueles que quisessem manifestar o carinho que tinham por ele -  (crédito: Romildo de Jesus/Ato Press/Estadão Conteúdo)
Velório seguiu aquilo que Divaldo pedira: uma cerimônia singela e aberta àqueles que quisessem manifestar o carinho que tinham por ele - (crédito: Romildo de Jesus/Ato Press/Estadão Conteúdo)

O líder espírita Divaldo Franco foi homenageado, ontem, por inúmeras pessoas que compareceram ao velório no Ginásio de Esportes da Mansão do Caminho, instituição de caridade e acolhimento que fundou em Salvador. Ele morreu na noite de terça-feira, por volta das 21h45, aos 98 anos, na capital baiana. O médium, escritor e palestrante lutava contra um câncer de bexiga e vinha recebendo cuidados paliativos em casa.

Dois dos 685 filhos adotivos do médium estiveram no velório. "Sabemos que só o corpo físico é que se dilui. Nós estamos aqui não pelo corpo, mas pela gratidão, por tudo que ele tem feito e faz pela gente", disse Eliana Silva, uma das filhas.

Outro filho, Lucas Milagre contou que estava ao lado do pai no momento do falecimento. "Ele desencarnou de uma forma bem pacífica, sereno. Todo mundo ficou muito emocionado. O pouco que eu sei é graças ao muito que ele me ensinou", relatou.

Entre os políticos da Bahia, vários se manifestaram. O governador Jerônimo Rodrigues lamentou a perda de Divaldo e reconheceu sua importância para o estado e para o Brasil. Já o senador Jaques Wagner (PT-BA) destacou que a trajetória do líder espírita foi marcada pelo amor, pela caridade e pela fé — considerava-o um exemplo de luz e acolhimento.

Também baiano, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, lamentou a morte e ressaltou a dedicação de Divaldo às causas humanitárias e à busca pela paz. Por sua vez, o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), enfatizou o legado do médium como defensor da fraternidade e da solidariedade, cuja atuação transcendeu fronteiras religiosas.

O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, publicou no Instagram pessoal a seguinte mensagem: "Lamento muito a morte de Divaldo Franco, um dos maiores líderes religiosos do Brasil. Carismático e atencioso com todos, Divaldo Franco sempre foi um defensor intransigente da paz, do respeito, da tolerância e da convivência harmoniosa entre todos os seres humanos. Para quem não conheceu, vale a pena visitar a Mansão do Caminho, em Salvador, obra grandiosa que ele ajudou a construir, onde acolheu milhares de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, oferecendo dignidade, educação e esperança. Seu legado vai muito além da religião, é um exemplo de solidariedade, compaixão e serviço à humanidade".

Gratidão

Artistas também se manifestaram sobre a morte de Divaldo. A cantora Ivete Sangalo expressou gratidão pela convivência que tiveram e pelas palavras de afeto dele recebidas ao longo dos anos. Ela destacou que a vida do líder espírita foi dedicada ao acolhimento e à caridade.

O cantor e compositor Carlinhos Brown lamentou a perda e agradeceu a Divaldo pela generosidade — disse, ainda, que o mundo continuará precisando das preces do médium. Da mesma forma, o também cantor Netinho classificou Divaldo de "queridíssimo" e desejou que seguisse na luz.

A atriz Beth Goulart — cuja ligação com o espiritismo vem de família — celebrou a jornada de Divaldo, afirmando que "a humanidade perde um grande mestre espiritual". Também ator, Marcos Veras — que integrou o elenco do filme Divaldo — O Mensageiro da Paz — comentou de forma concisa: "Gigante Divaldo. Descanse!". Também integrante do elenco do filme, Regiane Alves lamentou a perda e desejou que ele fosse em paz e ao encontro de Joanna de Ângelis — espírito cujas mensagens psicografava.

Pela Federação Espírita Brasileira (FEB), o presidente Jorge Godinho expressou a saudade, mas também a celebração pela chegada de Divaldo ao plano espiritual após uma existência "exitosa e completista". José Medrado, considerado atualmente um dos grandes nomes brasileiros do espiritismo, falou sobre o legado inspirador que fica. "Desencarna Divaldo Franco. Certamente, um dos seus últimos haustos de vida deve ter sido a conclusão: missão cumprida. Que siga sob o amparo dos amigos espirituais", publicou no Instagram.

O velório começou às 9h e seguiu até as 20h e foi marcado pela simplicidade, conforme pedido do próprio Divaldo. O caixão permaneceu fechado e não houve cortejo em carro aberto. O sepultamento está marcado para hoje, às 10h, no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.

Maior obra

A principal obra de Divaldo Franco é a Mansão do Caminho, fundada em 1952 com Nilson de Souza Pereira com o objetivo de oferecer amparo a pessoas em situação de vulnerabilidade. Antes, em 1947, eles tinham erguido o Centro Espírita Caminho da Redenção.

Natural de Feira de Santana (BA), Divaldo nasceu em 5 de maio de 1927. Em entrevista ao Correio, em 2017, disse que desde criança tinha experiências mediúnicas e enfrentou o preconceito até mesmo dentro da própria família.

Aos quatro anos, afirmou ter visto o espírito da avó, Maria Senhorinha, a quem a mãe nunca havia conhecido. Na adolescência, foi levado a psiquiatras e diagnosticado como esquizofrênico.

"Para mim, era uma perturbação contínua, porque eu não sabia do que se tratava. Como o sacerdote disse que era uma interferência demoníaca, isso me apavorou", contou ao Correio, quando completou 90 anos e foi homenageado na Câmara dos Deputados.

A Mansão do Caminho oferece atendimento gratuito a crianças, jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade. A proposta, desde o início, foi criar lares-famílias, com base em valores cristãos e espíritas, como forma de reconstruir a estrutura familiar de crianças em situação de abandono.

Na Mansão do Caminho, Divaldo acolheu milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Tornou-se referência dentro e fora do Brasil. Recebeu mais de 800 homenagens de instituições religiosas, culturais, sociais e políticas, incluindo prêmios das Nações Unidas. É considerado por muitos como o maior continuador da obra de Chico Xavier.

O líder espírita realizou mais de 20 mil conferências, em mais de 2,5 mil cidades e 71 países. Publicou 260 livros com mensagens psicografadas de mais de 200 autores espirituais, e teve suas obras traduzidas para 17 idiomas.

Livros pelo espírito de Joanna de Angelis 

Alegria de Viver — Aborda temas de autoconhecimento e bem-estar emocional sob a perspectiva espírita.

Amor, Imbatível Amor — Explora a profundidade e a força do amor em diversas dimensões da vida.

Autodescobrimento: Uma Busca Interior — Guia o leitor na jornada de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.

Conflitos Existenciais — Analisa as causas e as formas de lidar com os conflitos internos do ser humano.

Dias Gloriosos — Apresenta mensagens inspiradoras para o cotidiano, focando na fé e na esperança.

Jesus e Atualidade — Reinterpreta os ensinamentos de Jesus à luz da psicologia e do espiritismo.

O Homem Integral — Propõe uma visão holística do ser humano, integrando corpo, mente e espírito. 

 

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

FG
postado em 15/05/2025 03:55
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