Em 1582, a Europa vivenciou uma mudança significativa na forma de medir o tempo. Esta alteração, conhecida como a transição do calendário juliano para o calendário gregoriano, foi impulsionada pelo papa Gregório XIII. O ajuste tornou-se necessário devido a um desfasamento acumulado no calendário juliano, que vinha sendo utilizado desde sua implantação por Júlio César no ano 46 a.C.
O calendário juliano, baseado no sistema egípcio, definia o ano como um ciclo de 365 dias e 6 horas. No entanto, o ano solar real é ligeiramente mais curto, com 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos. Essa pequena diferença acumulou-se ao longo do tempo, resultando em um desfasamento de quase 10 dias no século XVI. Este desfasamento começou a impactar a celebração de eventos importantes como a Páscoa, o que levou à necessidade de uma reforma.
Por que se precisou de um novo calendário?
O desfasamento no calendário juliano não era apenas um problema astronômico, mas também tinha implicações religiosas significativas. A celebração da Páscoa, que deveria coincidir com a primeira lua cheia da primavera, estava sendo afetada. Para resolver este problema, Gregório XIII reuniu uma comissão de astrônomos e estudiosos, que desenvolveram o calendário gregoriano.
O novo calendário, baseado nas propostas de Luigi Lilio, introduziu uma correção drástica: a eliminação de 10 dias do calendário. Assim, nos países católicos que adotaram a reforma, a quinta-feira, 4 de outubro de 1582, foi seguida imediatamente pela sexta-feira, 15 de outubro. Esta correção permitiu que o equinócio de primavera voltasse a coincidir com a data tradicional.

Como foi implementada a reforma do calendário?
A implementação do calendário gregoriano foi oficializada por meio da bula papal Inter gravissimas, emitida por Gregório XIII em fevereiro de 1582. Embora a reforma tenha sido adotada rapidamente por países católicos como Itália, Espanha, França e Portugal, não foi aceita de imediato por todos. Muitos países protestantes e ortodoxos a rejeitaram inicialmente, considerando-a uma imposição papal.
A Inglaterra, por exemplo, só adotou o calendário gregoriano em 1752, e a Rússia esperou até depois da Revolução Bolchevique de 1917. Esta disparidade na adoção do calendário gerou situações curiosas, como a diferença nas datas de morte de figuras históricas como Miguel de Cervantes e William Shakespeare, que morreram no mesmo ano, mas em dias diferentes de acordo com os calendários utilizados em seus respectivos países.
Consequências práticas da mudança de calendário
O salto de dez dias no calendário provocou vários problemas práticos. Foi necessário revisar datas judiciais, contratos e pagamentos. Até mesmo os funerais se complicaram, já que pessoas que morreram antes de 5 de outubro foram enterradas, segundo os documentos, vários dias depois, quando na realidade apenas algumas horas haviam se ado.
A despeito desses inconvenientes iniciais, o calendário gregoriano tornou-se o padrão internacional. Embora não seja perfeito, o erro atual é tão pequeno que não exigirá correção até cerca de 3.000 anos no futuro. Esta mudança histórica na medição do tempo destaca a importância da precisão astronômica e seu impacto na vida cotidiana.