Um estudo recente publicado na revista Nature trouxe à tona evidências intrigantes sobre materiais planetários antigos enterrados profundamente no manto terrestre. Pesquisadores identificaram duas enormes estruturas densas sob a África e o Oceano Pacífico, que podem representar os remanescentes de um corpo planetário antigo chamado Theia. Esta hipótese oferece novas perspectivas sobre a história inicial e violenta do nosso planeta e as colisões cósmicas que moldaram a formação do sistema Terra-Lua.
Utilizando técnicas avançadas de imagem sísmica e simulações computacionais de ponta, a equipe de pesquisa abriu um novo capítulo na compreensão da composição interna da Terra e sua evolução geológica. Este estudo não apenas desafia teorias anteriores, mas também amplia o entendimento sobre as complexas dinâmicas que ocorrem nas profundezas do nosso planeta.
O que são as grandes províncias de baixa velocidade?
As grandes províncias de baixa velocidade, conhecidas como LLVPs, são características enigmáticas localizadas próximas à fronteira entre o manto inferior da Terra e o núcleo externo. Estas zonas imensas, que se estendem por milhares de quilômetros, são conhecidas por sua capacidade única de desacelerar ondas sísmicas que as atravessam. Este comportamento sísmico incomum sugere que as LLVPs possuem uma composição marcadamente diferente do manto circundante, possivelmente enriquecida em ferro ou outros materiais densos.
Por décadas, a origem dessas províncias foi objeto de debate, com teorias predominantes sugerindo que elas consistem em placas tectônicas subduzidas ou material primordial da formação da Terra. O estudo recente propõe uma explicação radical: as LLVPs seriam fragmentos do manto rico em ferro de Theia, um corpo planetário que colidiu com a Terra há bilhões de anos.
Como o impacto de Theia influenciou a formação da Terra?
A hipótese do impacto gigante é amplamente aceita como explicação para a formação da Lua, sugerindo que um planeta do tamanho de Marte, chamado Theia, colidiu com a Terra primitiva há cerca de 4,5 bilhões de anos. Este impacto colossal ejetou grandes quantidades de detritos que eventualmente se aglutinaram para formar a Lua, enquanto reconfigurava a estrutura interna da Terra.
No entanto, o destino do material do manto de Theia permaneceu incerto até agora. A nova pesquisa demonstra que grande parte do manto rico em ferro de Theia não se misturou uniformemente com o manto terrestre, mas afundou profundamente no manto inferior, formando as densas LLVPs observadas hoje.

O que revelam as simulações avançadas sobre o material do manto de Theia?
A descoberta foi possível graças a simulações computacionais sofisticadas lideradas por pesquisadores do Caltech. Esses modelos simulam a dinâmica do evento de impacto gigante e a subsequente distribuição do material do manto de Theia no interior da Terra. Os resultados indicam que os fragmentos mais densos e ricos em ferro de Theia foram protegidos pelo manto inferior mais frio, que absorveu menos energia da colisão, permitindo que esses fragmentos afundassem e se acumulassem perto da fronteira núcleo-manto.
Isso contrasta com suposições anteriores de que o material de Theia se dispersaria uniformemente. Os blocos densos e estáveis que se formaram correspondem espacialmente às LLVPs africanas e do Pacífico mapeadas por tomografia sísmica.
Quais são as implicações mais amplas para a evolução planetária?
Identificar as LLVPs como relíquias do manto de Theia tem implicações profundas tanto para as ciências da Terra quanto para as teorias de evolução planetária. A presença de estruturas densas e ricas em ferro na fronteira núcleo-manto influencia os padrões de convecção do manto, que por sua vez impactam os movimentos das placas tectônicas e a geração do campo magnético da Terra.
Além disso, o estudo sugere que outros planetas e luas terrestres, que também experimentaram impactos gigantes durante sua formação, podem abrigar estruturas ocultas semelhantes. Essas percepções podem ajudar os pesquisadores a entender melhor como colisões planetárias em larga escala contribuem para a diferenciação interna e evolução a longo prazo dos corpos planetários.