Na tranquila e espiritual Thimphu, capital do Butão, o tempo segue outro ritmo — inclusive quando se trata de burocracia. Enquanto o mundo avança rumo à digitalização total, todos os nascimentos na cidade (e no país) ainda são registrados manualmente, em cadernos e arquivos físicos, sem o uso de sistemas digitais.
Essa prática faz parte da forma como o Butão preserva suas tradições, ao mesmo tempo em que valoriza o contato humano, a simplicidade e a confiança nos registros comunitários.
Como funcionam os registros de nascimento em Thimphu?
O processo é totalmente analógico:
- Após o nascimento, os pais vão até o escritório local de registro civil, geralmente anexo ao governo distrital
- O nascimento é registrado em livros encadernados à mão, com caligrafia tradicional e tinta permanente
- Dados como nome da criança, dos pais, local e hora de nascimento são anotados em formulários físicos
- Uma cópia do registro é entregue em papel timbrado oficial, válida para todos os fins legais
- Não há banco de dados digital centralizado — as informações são armazenadas em arquivos físicos organizados por família e região
Esse método vale também para casamentos, óbitos e outras ocorrências civis.

Por que o Butão ainda registra nascimentos à mão?
A escolha é consciente e cultural:
- O Butão valoriza a simplicidade, a conexão comunitária e o contato direto com os serviços públicos
- O país adota o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) como indicador nacional, e acredita que tecnologia deve servir à paz social, não à velocidade
- A infraestrutura digital é limitada em áreas remotas, e o sistema físico ainda é mais ível para grande parte da população
- O governo mantém um modelo híbrido de modernização, priorizando qualidade de vida antes de tecnologia por si só
Embora planos de digitalização existam, eles são feitos com cautela e respeito às práticas tradicionais.
Curiosidades sobre Thimphu e os registros manuais
- Cada registro é feito por servidores públicos treinados em caligrafia e arquivamento histórico
- O Butão possui bibliotecas de registros civis com volumes centenários, cuidadosamente preservados
- O país também tem uma das menores taxas de fraude documental do mundo, mesmo sem sistemas eletrônicos
- A prática incentiva a presença das famílias nas instituições públicas, fortalecendo o laço social
- O processo é gratuito e acompanhado de bênçãos em templos locais, reforçando o valor simbólico do nascimento
Thimphu mostra que nem tudo precisa ser digital para funcionar bem — e que tradição e cuidado também podem ser formas de registrar vidas com significado.