Há cerca de 14.300 anos, a Terra foi atingida por uma poderosa explosão de radiação solar, deixando um aumento significativo nos níveis de radiocarbono. Até recentemente, a verdadeira escala desse evento antigo era desconhecida. Um novo modelo químico-climático, o SOCOL:14C-Ex, revelou que este evento da Idade do Gelo foi a tempestade solar mais intensa já identificada, superando em 18% a famosa explosão de 775 d.C. e sendo mais de 500 vezes mais poderosa do que qualquer tempestade de partículas registrada por satélites modernos.
Pesquisadores detectaram um aumento abrupto nas concentrações de radiocarbono (14C) no ano 12.350 a.C. ao analisar troncos de larício preservados sob geleiras alpinas. Esses aumentos, conhecidos como eventos de Miyake, ocorrem quando partículas carregadas colidem com a atmosfera superior, aumentando a produção natural de isótopos cosmogênicos. Embora eventos semelhantes tenham sido identificados em 775 d.C. e 994 d.C., o sinal da Idade do Gelo estava fora do período climático quente do Holoceno, e os modelos existentes não conseguiam simular a química dos isótopos sob condições glaciais.
Como o SOCOL:14C-Ex revolucionou a compreensão dos eventos solares antigos?
O desenvolvimento do SOCOL:14C-Ex foi liderado por cientistas da Universidade de Oulu, na Finlândia. Este modelo combina circulação atmosférica, fotoquímica e caminhos de radiocarbono, incorporando limites de antigas camadas de gelo, níveis mais baixos do mar e um campo geomagnético mais fraco. Validado contra o evento bem estudado de 775 d.C., o modelo estava pronto para desvendar o mistério do evento da Idade do Gelo.
Ao processar os dados de 12.350 a.C. através do SOCOL:14C-Ex, os pesquisadores descobriram fluxos de partículas que superam qualquer coisa na era dos satélites. A tempestade de partículas de 2005, a maior do período moderno, foi ofuscada por este evento antigo, que estabeleceu um novo limite superior para a atividade solar.

Quais são os riscos das tempestades solares intensas?
Até este estudo, havia um debate sobre se a tempestade de 775 d.C. representava um limite físico para a aceleração de partículas solares. O evento da Idade do Gelo prova que o Sol pode superar esse marco. Compreender a escala desse evento é crucial para avaliar os riscos que futuras tempestades solares podem representar para a infraestrutura moderna, como satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação.
A civilização moderna nunca enfrentou algo próximo à explosão da Idade do Gelo. A tempestade geomagnética de 1989, que causou um apagão em Quebec, foi muito mais fraca; o evento Carrington de 1859, frequentemente citado como um aviso severo, não envolveu uma chuva massiva de partículas. Uma repetição da tempestade de 12.350 a.C. hoje poderia paralisar constelações de satélites, corromper sinais de navegação e sobrecarregar linhas de transmissão de longa distância.
Colaboração interdisciplinar e novas descobertas
O estudo reuniu geofísicos, químicos atmosféricos e dendrocronologistas de diversos países, sob a liderança de Edouard Bard do CEREGE. A pesquisa combinou medições de isótopos em laboratório, modelagem em supercomputadores e verificações cruzadas com madeira recém-descoberta nos Alpes ses. Após confirmar a magnitude do pico da Idade do Gelo, a equipe calculou seu impacto climático, que, embora tenha dobrado as taxas de ionização estratosférica por meses, teve efeitos mínimos na temperatura.
Com o SOCOL:14C-Ex validado para cenários glaciais, os pesquisadores planejam explorar anéis de crescimento mais antigos e gelo polar em busca de mais anomalias. Cada descoberta refinará os modelos de dinâmica solar e ajudará a avaliar a ameaça rara, mas potencialmente devastadora, do clima espacial extremo.