As queimadas no Distrito Federal têm se agravado nos últimos dias. Áreas urbanas, principalmente próximas ao Parque Nacional de Brasília e à Asa Norte, têm sido tomadas pela fumaça e pela fuligem, e a população recorre a medidas como o uso de umidificadores, máscaras de alta filtragem e a hidratação constante. Mesmo com essas precauções, a situação tem causado desconforto, problemas de saúde e até a suspensão de atividades escolares.
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A Secretaria de Educação do Distrito Federal emitiu nota oficial informando que as escolas localizadas em regiões afetadas pelas queimadas têm autonomia para suspender as aulas. "Reforçamos que a segurança e o bem-estar de alunos e profissionais são prioridades, e a Secretaria acompanha a situação por meio das Coordenações Regionais de Ensino", destacou o comunicado. Ao todo 17 escolas tiveram as aulas suspensas ontem.
Após anunciar que a Biblioteca Central (BCE) ficaria fechada ontem, a Universidade de Brasília (UnB) publicou ato cancelando o expediente presencial na instituição. O motivo foi a extrema concentração de fumaça nas dependências do local causada pelo incêndio no Parque Nacional de Brasília, assim como as condições climáticas adversas e a baixa qualidade do ar.
Além desta medida, no início de setembro, a Secretaria de Educação optou por manter as aulas nas escolas públicas, apesar do longo período de seca na capital. No entanto, as aulas de educação física foram suspensas e os alunos devem realizar outra programação no horário destinado às atividades esportivas. Segundo a pasta, a decisão foi baseada em análises locais das condições atmosféricas, nos dados técnicos e no acompanhamento contínuo da situação ambiental, visando a preservação da saúde dos estudantes.
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Moradores de regiões afetadas relatam as dificuldades que as queimadas têm gerado em suas rotinas. Eron Domínguez, 62 anos, empresário, se mudou recentemente para o Noroeste e compartilha sua experiência nos últimos dias. "Ontem (domingo) à noite, a fumaça era tão intensa na minha casa que parecia neblina. Isso prejudica muito a respiração, e até minha voz está comprometida. Na minha casa, estamos com as janelas fechadas, usando umidificador e tomando bastante líquido", contou ao Correio.
O empresário Gilberto Borges, 80, que mora há mais de 60 anos em Brasília, descreveu que este final de semana foi muito complicado. "Dentro de casa estava muito cheiro de fumaça. O jeito de fugir disso foi fechar as janelas, hidratar muito e evitar sair. Com a secura, parece que você fica até meio tonto. Já vivi muitos anos secos, mas este tem sido um dos piores", afirma.
Na Granja do Torto, onde a escola local teve suas aulas canceladas, Lúcio Afonso Oliveira, 63, precisou buscar o neto, Isaque Batista, na escola após a suspensão das atividades. ""A situação está muito ruim, especialmente à noite. As queimadas só aumentam e todo dia está mais difícil respirar. Meu neto ia fazer prova hoje, mas tiveram que cancelar. Os mais velhos estão sofrendo muito, com problemas respiratórios e tosse. Está inável", disse o aposentado, que mora na região há 34 anos e nunca viu a situação tão crítica.
Outro morador da Granja do Torto, Emílio Teixeira Neto, 74, também está sofrendo com a intensificação das queimadas. Ele tem enfisema pulmonar e conta que a fumaça tornou o ambiente inabitável. "Eu moro aqui desde 1996, mas nunca vi algo assim. Já era quente e seco, mas com a fumaça, está impossível. Todo ano faz calor, mas nunca foi desse jeito. Ficar dentro de casa é sufocante, e sair piora tudo. Não sei como vamos aguentar até chover", desabafa.
Laiana Matias, 35, mora no Noroeste e descreveu o desconforto dos últimos dias. "Desde ontem, sinto uma ardência constante nas vias respiratórias e não sabia mais o que fazer. Como dentista, usei uma máscara que filtra melhor o ar, o que trouxe algum alívio, mas os olhos continuam ardendo e o ar dentro de casa está muito poluído. Estou rezando para que a chuva venha logo e alivie essa situação", enfatizou.
Colaborou Mila Ferreira