
Familiares e amigos se despediram, neste sábado (1º/3), de Ana Rosa Rodolfo de Queiroz Brandão, de 49 anos, motorista de aplicativo morta a facadas por Antonio Ailton da Silva, 43. O crime ocorreu em 26 de fevereiro, no Cruzeiro Velho. Ana Rosa foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros (CBMDF), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
O enterro foi no Cemitério Metropolitano de Valparaíso, onde cerca de 100 pessoas, entre familiares, amigos e colegas de profissão compareceram para prestar sua última homenagem.
Ana Rosa deixou o esposo e dois filhos. Emocionado, Marcelo Max, de 25 anos, ainda tenta assimilar a perda da mãe. Para ele, Ana foi uma guerreira que superou diversas dificuldades ao longo da vida e sempre buscou ajudar o próximo. Marcelo lembrou que a mãe sonhava com três coisas: ter a casa própria, uma família estruturada e ser avó. Um dia antes de morrer, Ana Rosa celebrou a notícia de que esse último desejo se realizaria. "Ela sempre dizia que, depois de conquistar tudo isso, Deus poderia levá-la. E foi o que aconteceu. Ela viveu cada dia como se fosse o último. Eu trocaria tudo para que ela tivesse uma vida longa e tranquila, mas não trocaria a mãe que tive por uma mãe qualquer que vivesse 80 anos", desabafou, entre lágrimas.
Apesar da dor, Marcelo evita alimentar sentimentos de vingança. Para ele, o que resta agora é preservar a memoria da mãe. "Não quero pensar nesse assassino, quero um dia ter a sabedoria da minha mãe para perdoá-lo", afirmou. O jovem também quer homenagear a mãe quando o filho dele nascer. “Se for menina, com certeza vai ser Ana”, concluiu.
Para o sobrinho Davi Rodolfo, 20, Ana era o elo entre todos os membros da família. Sempre alegre e divertida, conquistava a todos ao seu redor com seu jeito carinhoso. A notícia de sua morte trouxe revolta e dor à família, que agora espera justiça. "Fui pego de surpresa com uma notícia horrível. Estava no trabalho e larguei tudo para ajudar no que pude. O que queremos é que a justiça seja feita e que esse crime não fique impune", disse.
A família quer que a memória de Ana Rosa seja preservada pelo que ela realmente foi: uma pessoa que irradiava alegria e promovia união entre os seus.
Pedido de socorro
Amiga de Ana, Adriana Andrade, 52, é fundadora e líder do coletivo Mulheres Motoristas. O grupo busca dar e e segurança às mulheres que trabalham como motoristas de aplicativo. A morte de Ana não só abalou pessoalmente Adriana, mas a todas as integrantes do coletivo, que já conviviam com o medo e a insegurança diários. "A gente achava que trabalhando durante o dia teríamos um pouco mais de segurança. Eu mesma criticava as meninas que dirigiam à noite, mas essa tese caiu por terra", lamentou Adriana. Para ela, o perigo não está no horário, mas sim na falta de segurança pública.
Outra integrante do grupo, Daniela Moraes, 28 anos, que trabalha há um ano e meio como motorista de aplicativo, também expressou sua revolta e descreve o medo constante que acompanha a categoria. "Esse crime despertou um alerta em todas nós, porque poderia ter sido qualquer uma. A Ana não era do tipo que pegava corridas por fora, sem indicação, e estava em uma região considerada segura. Estamos com muito medo”, contou.
O caso
Ana foi assassinada a facadas na manhã do dia 26 de fevereiro, no Cruzeiro Velho. O autor do crime, Antônio Ailton da Silva, esfaqueou a vítima no pescoço com uma faca de serra de cozinha, em uma suposta tentativa de latrocínio.
Segundo a Polícia Civil (PCDF), o homem tentou roubar o carro dela e, ao abordá-la, a esfaqueou. Ao tentar fugir, ele bateu o automóvel, momento em que foi perseguido por populares. O suspeito foi preso pela Polícia Militar (PMDF), próximo ao restaurante Potiguar do Cruzeiro.
A investigação apontou que o crime contra Ana Rosa não foi um caso isolado. Na madrugada anterior, Antônio já era procurado pela polícia por tentar ass a ex-mulher, Maria Custodio da Silva, de 57 anos, e uma amiga dela, de 66 anos, no Recanto das Emas. Inconformado com o fim do relacionamento, ele invadiu a residência onde Maria estava hospedada e tentou estrangulá-la. Além disso, agrediu a amiga da ex-companheira, que chegou a desmaiar.
Maria e Antônio foram casados por cerca de um ano e moravam em Valparaíso de Goiás. Segundo testemunhas, o homem, que inicialmente era identificado como ex-pastor evangélico, começou a apresentar um comportamento agressivo após ar a consumir álcool e drogas. O casamento se desfez, e Maria decidiu deixar a casa onde moravam, alugando um pequeno imóvel ao lado da residência da amiga no Recanto das Emas.
Na noite anterior ao crime, Antônio foi até o local onde a ex-companheira estava. Ela e a amiga não suspeitaram dele e até lhe ofereceram um copo de água. Quando Maria tentou dormir no sofá da sala, foi surpreendida pelo ex-marido, que a atacou com socos e tentou enforcá-la. Para escapar, a mulher fingiu estar morta. Antônio, então, foi até o quarto da amiga de Maria, bateu na porta e pediu ajuda, alegando que a ex-esposa ava mal. Ao abrir a porta, a idosa foi brutalmente agredida.
Após a prisão de Antônio, surgiu a informação de que ele seria um ex-pastor evangélico, o que foi prontamente desmentido pelo pastor João Batista do Nascimento, líder da igreja Assembleia de Deus Vida e Paz, em Valparaíso de Goiás. “Essa informação é mentira. Ele nunca fez parte da nossa igreja, muito menos como pastor. Eu não conheço e nunca tinha visto ele”, afirmou.