Tragédia

Família de Thalita Berquó busca respostas e justiça em meio à dor e à revolta

Após o assassinato cruel, a história da vítima é reconstruída por meio de investigações e depoimentos. Parentes deram detalhes sobre o desaparecimento e a morte da mulher, e falaram sobre os desafios durantes as buscas

A mãe e a tia de Thalita revelaram que amigos próximos omitiram informações essenciais tanto da família como da polícia -  (crédito:  Ed Alves CB/DA Press)
A mãe e a tia de Thalita revelaram que amigos próximos omitiram informações essenciais tanto da família como da polícia - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)

A morte brutal de Thalita Marques Berquó Ramos, 36 anos, deixou a família em choque e com um vazio que nada pode preencher. Assassinada em janeiro, a história da vítima vem sendo reconstruída por meio de investigações e depoimentos que revelam não apenas os detalhes do crime, mas também quem era a mulher por trás da tragédia. Entre a dor do luto e a busca por respostas, a família se manifestou pela primeira vez sobre o caso. Ao Correio, a mãe e a tia dela — que pediram para não serem identificadas — contaram como tentam seguir a vida.

A dor da família é imensurável, mas, em meio ao luto, os parentes buscam preservar a memória de Thalita de forma digna. "Queremos justiça e acredito que a teremos. Enquanto isso, não queremos que ela seja lembrada apenas pelo que aconteceu. Thalita era uma pessoa alegre, amável e sempre disposta a ajudar todos ao seu redor. Ela deve ser lembrada pela pessoa maravilhosa que foi", ressaltou a mãe.

Em meio à tristeza de perder Thalita de modo tão terrível, a família sente revolta. A mãe e a tia da mulher revelaram que amigos próximos omitiram informações essenciais tanto para elas quanto para a polícia durante os dias de desaparecimento. Sem rumo, os familiares da vítima buscaram respostas com pessoas que haviam estado com a vítima, mas algumas delas se recusaram a fornecer detalhes concretos. "Se tivessem contado antes o que sabiam, talvez tivéssemos descoberto mais rápido o que tinha acontecido", desabafou a mãe.

Segundo ela, além de não colaborar com detalhes que ajudariam nas buscas, os amigos atrapalharam a procura pela mulher. "Entrei em contato diversas vezes, mas nunca davam informações concretas. Um deles disse que ela havia ligado, dizendo que chegou bem, mas era mentira", lamentou a tia.

Luta contra o vício

Apesar de as investigações indicarem que Thalita foi morta após um desentendimento relacionado à compra de drogas, a família destaca que ela vinha travando uma batalha contra o vício e já havia conseguido se recuperar, mas teve uma recaída que resultou em sua morte. De acordo com a mãe, Thalita usava cocaína em festas, mas nunca teve um histórico de dependência severa. "Sugerimos que ela procurasse ajuda, e ela aceitou, se esforçou muito para isso. No fim de 2023, entrou na reabilitação. A recuperação foi tão efetiva que o pessoal da clínica gostou muito da mudança pela qual ela ou", contou.

Desde agosto de 2024, Thalita estava sem usar drogas e se matriculou em uma academia de luta para ocupar o tempo e manter uma rotina mais saudável. "Ultimamente ela fazia até três vezes ao dia. O esporte é bastante importante para manter a mente ocupada. Ela realmente queria sair disso (vício)", afirmou a tia.

Em meio às memórias, a família guarda um dos últimos registros de Thalita com vida: um vídeo em que ela aparece ouvindo a música de uma caixinha com uma bailarina giratória, um presente que sua mãe lhe deu ainda na infância. Nas imagens, a mulher aparece quase como se estivesse hipnotizada pelo movimento do objeto, enquanto aproveita um breve e singelo momento ainda em vida.

Investigação

O caso começou no fim de semana que antecedeu o dia 13 de janeiro. Thalita havia saído com amigos, mas diferentemente de outras vezes, não deu notícias à mãe sobre onde estava, o que chamou a atenção. O que pareceria ser um caso de desaparecimento, logo se revelou um homicídio chocante quando a cabeça e uma perna de Thalita foram encontradas, em 14 de janeiro, na Estação de Tratamento de Esgoto da Companhia Ambiental de Saneamento do DF (Caesb), na Avenida das Nações. 

Exames periciais realizados pela Polícia Civil (PCDF) confirmaram que os restos mortais eram de Thalita e começou o trabalho de investigação para desvendar o que havia ocorrido. Em 17 de março, as ossadas do tronco e da outra perna da mulher foram localizadas enterradas em uma área de mata no Parque Ezequias, no Guará 2. 

 Ossada de Thalita foi encontrada enterrada em parque do Guará, Correio esteve no local e registrou onde os outros membros de Thalita foram desovados e enterrados em uma cova profunda
As ossadas do tronco e da perna de Thalita foram encontradas em uma cova no Parque Ezequias, no Guará 2 (foto: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)

Um dos pontos de questionamento foi a demora da família em registrar o boletim de ocorrência do desaparecimento de Thalita. A mãe explicou que, inicialmente, tentou encontrá-la por conta própria, perguntando para amigos e visitando locais onde a filha costumava ir. "Ela não tinha o hábito de sair sem avisar. Quando ficava muito tempo fora, sempre me mandava uma mensagem, dava algum sinal. Quando percebi que isso não acontecia, comecei a procurá-la por todo canto", relatou. Os familiares só acionaram as autoridades quando as esperanças de encontrá-la por conta própria se esgotaram.

A polícia permaneceu sem respostas ao longo de três meses, mas as investigações acabaram levando a três pessoas que participaram do crime: um homem de 36 anos e dois adolescentes, de 15 e 17 anos. O maior de idade estava preso no Complexo Penitenciário da Papuda por outro homicídio, cometido em dezembro, e teve um novo mandado de prisão expedido pelo assassinato de Thalita. Um dos menores foi apreendido em 28 de março e o outro segue foragido. 

O crime teria ocorrido após um desentendimento com os assassinos por conta de drogas. De acordo com a PCDF, Thalita foi a uma área de invasão para comprar entorpecentes e deu o celular como forma de pagamento. Ao pedir o aparelho de volta, começou o conflito que culminou na morte da vítima.  Interrogados, os envolvidos confessaram o crime e indicaram a cova onde enterraram o restante do cadáver. A polícia acredita que Thalita foi brutalmente espancada antes de ser morta e esquartejada. A cabeça dela apresentava pelo menos seis facadas no rosto, além de hematomas e outras lesões.

 

Perfis

A vítima

A cabeça de Thalita foi localizada em 14 de janeiro, por um funcionário da Caesb - (crédito: Reprodução/Redes sociais)
O Correio apurou que Thalita já trabalhou como gerente de uma rede de fast-food nacional (foto: Reprodução/Redes sociais)

* Thalita Marques Berquó Ramos, 36 anos

Mãe de um filho de 15 anos

Trabalhou como gerente de uma rede de fast-food, em um shopping

Assassinos

João Paulo está preso no Complexo Penitenciário da Papuda por outro crime
João Paulo está preso no Complexo Penitenciário da Papuda por outro crime (foto: Material cedido ao Correio)

* João Paulo Teixeira da Silva, 36 anos

Morador da área de invasão do Guará 2

Trabalhava como vigia de carros

Tem antecedentes por furto e tentativa de homicídio

* Dois adolescentes, de 15 e 17 anos

 

  • As ossadas do tronco e da perna de Thalita foram encontradas em uma cova no Parque Ezequias, no Guará 2
    As ossadas do tronco e da perna de Thalita foram encontradas em uma cova no Parque Ezequias, no Guará 2 Foto: Darcianne Diogo/CB/D.A Press
  • O Correio apurou que Thalita já trabalhou como gerente de uma rede de fast-food nacional
    O Correio apurou que Thalita já trabalhou como gerente de uma rede de fast-food nacional Foto: Reprodução/Redes sociais
  •  01/04/2025. Ed Alves CB/DA Press. Cidades. Entrevista com a familia da Thalita Marques Berquó Ramos.
    01/04/2025. Ed Alves CB/DA Press. Cidades. Entrevista com a familia da Thalita Marques Berquó Ramos. Foto: Ed Alves CB/DA Press
  • João Paulo está preso no Complexo Penitenciário da Papuda por outro crime
    João Paulo está preso no Complexo Penitenciário da Papuda por outro crime Foto: Material cedido ao Correio
  • A última conversa com a filha ficou registrada no celular da mãe
    A última conversa com a filha ficou registrada no celular da mãe Foto: Ed Alves CB/DA Press
postado em 02/04/2025 04:00
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