
Localizados nas proximidades das asas Sul e Norte, o Sudoeste e o Noroeste, respectivamente, reúnem diversas atividades para o público da capital. Idealizado por Lucio Costa, o Sudoeste surgiu oficialmente em 1987 para abrigar a população que crescia na capital da República. Área tombada de Brasília, os prédios, assim como nas asas, não podem ter mais de seis andares. A localidade se separou do Cruzeiro e é a Região istrativa 22, que engloba a Octogonal.
Um dos espaços que mais reúne atividades para todas as idades é o Parque Bosque do Sudoeste. Foi inaugurado em 2013 e possui quadras poliesportivas, quadras de areia, ciclovia e aparelhos de ginástica. Durante a semana, o local engloba atividades pagas e gratuitas para os moradores se exercitarem em conjunto. O Parque Bosque oferece aulas gratuitas de dança, oficina de xadrez, chorinho no parque, Lian Gong, que é uma ginástica terapêutica, aulas de patins e crochê terapia. De forma paga, estão disponíveis turmas de futebol, futevôlei, beach tennis, yoga, zumba e funcional.
Tereza Canal, educadora física de 51 anos, é responsável pelas atividades no local. Ela nasceu no Rio Grande do Sul e chegou em Brasília em 1998. Em 2010, decidiu fazer a faculdade de educação física. Segundo ela, as aulas servem para ajudar a comunidade e sempre que recebe bom retorno dos participantes percebe a importância das atividades. "Ajudar os outros é uma experiência gratificante, promover momentos felizes, bem-estar ao próximo, fazer diferença na vida das pessoas é contribuir com nossa parte para um mundo melhor", destaca.
"Sempre temos algo a fazer pelo próximo, se cada um de nós fizermos um pouco, teremos uma sociedade mais junta, unida e feliz. A procura pelas atividades aumentando a cada dia, vejo que não tem relatos de depressão, ansiedade ou adoecimentos nesses grupos ativos", ressalta.
A primeira atividade organizada no local foi a aula de patins com o professor Iran Sotero. Assim que o parque foi inaugurado, Iran viu como uma oportunidade e começou a usar o espaço para suas aulas. "Eu tinha sempre em média 15 ou 20 alunos. Em 2019, uma aluna começou a cuidar das minhas redes sociais e aumentou para 40 ou 50 alunos por turma", conta Iran. O projeto é chamado Projeto Família e agrega pais e filhos na mesma aula.
Iran relata que viu muitos pais e filhos melhorarem a relação entre eles por meio das aulas. "Cansei de ver pais e filhos chegarem às aulas um gritando com o outro e depois de um mês, dá para perceber que estão em harmonia. Vale muito mais uma hora de patinação do que ficar três horas vendo um filme com seu filho sem interação", reflete o professor.
Outra atividade do Bosque do Sudoeste é a vida em movimento, aulas de dança abertas três vezes na semana. A professora Áudila Badaró é profissional de educação física há mais de 10 anos. "A aula tem o benefício de ser gratuita e acredito que gera mais leveza e mais interesse dos alunos de virem para as aulas", destaca a professora. Segundo ela, as pessoas vivem em uma época de muita ansiedade, e a atividade física é um pilar essencial para combater esse mal.
Para Áudila, um dos aspectos mais importantes da aula é a convivência e amizade entre as alunas. "A gente não veio para vivermos sozinhos. A gente veio para viver em comunidade. Às vezes, alguma aluna chega mais cabisbaixa, e quem está do lado a estimula e a motiva. A gente chega na aula de um jeito e sai de outro, aqui é o momento de extravasar", ressalta.
Fabíola Torino, aluna de Áudila, é nascida no Rio Grande do Sul e a aula é um dos momentos que a faz se sentir em casa fora de sua cidade natal. "Como muitas famílias aqui, em Brasília, são de outros estados, as pessoas, às vezes, ficam sem família, ficam muito sozinhas", diz, acrescentado que as aulas são momentos de convivência também.
Quadras
O Noroeste é a região mais nova de Brasília com as construções iniciadas em 2009. A região tem o Parque Burle Marx, que está sendo adaptado para receber atividades, mas, no momento, a maioria dos esportes e encontros são organizados nas quadras poliesportivas espalhadas pelo bairro.
Ugo Eichler é biólogo e se mudou para o Noroeste, em 2018, onde começou a fazer aulas de beach tennis nas quadras do bairro. Porém, com a pandemia, o isolamento se instaurou, e a prática esportiva teve uma pausa. Mas depois da crise sanitária, Ugo se juntou com outros três moradores e voltaram a jogar de manhã cedo em uma das quadras. "Hoje, esse grupo do beach tennis tem mais 350 pessoas", conta o biólogo. A comunidade do bairro mantém três quadras no Noroeste e se ajudam para que todos possam jogar.
Os moradores separaram os custos e compraram um pequeno trator para cuidar da areia, além de dividirem materiais como rede, bolinhas e marcação. "A gente se dispôs a melhorar e a cuidar da quadra para a saúde nossa e do esporte. E, com isso, a gente foi construindo uma comunidade engajada em proteger e conservar o espaço que a gente utiliza, além de criar relações", conta Ugo.
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O que começou como uma válvula de escape na pandemia, hoje permeia a vida dos moradores que usam o esporte para conhecer os vizinhos e aproveitar o espaço do bairro. "Atualmente, a gente vê esse grupo muito ativo, com várias amizades sendo formadas e as pessoas praticando esporte, as tirando daquela monotonia do dia a dia de casa. Então, isso acaba movimentando as pessoas e também criando um uso desse espaço público que existe aqui, no Noroeste", argumenta o biólogo.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira
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