
O Podcast do Correio recebeu Tiago Luniere, diretor da Liga das Quadrilhas Juninas do Distrito Federal (LINQ-DFE), uma das três ligas que atuam no DF, para falar sobre o movimento junino na capital. Na bancada, os jornalistas José Carlos Vieira e Mariana Saraiva conduziram a conversa sobre o circuito de quadrilhas juninas que se aproxima. Para Tiago, a capital do país é um polo junino, com uma identidade única, no modo de viver e de celebrar o movimento. "Brasília é referência em vários aspectos, seja técnico, artístico ou mesmo em termos de gestão. As nossas quadrilhas têm um nível muito alto", afirmou.
Há quanto tempo a LINQ-DFE atua no movimento junino?
Hoje, a liga reúne 25 quadrilhas filiadas do Distrito Federal e do Entorno. Algumas têm mais de 40 anos de história, e outras se aproximam dos 50. A liga, em si, surgiu em 2002, quando os grupos, que até então atuavam de forma isolada, decidiram se unir. Nessa época existiam quadrilhas organizadas, mas faltava uma estrutura associativa. A criação da liga veio para preencher essa lacuna.
Qual a importância de uma entidade representativa para as quadrilhas?
A criação da liga foi um marco. Deu tão certo que os fundadores pegaram o carro e começaram a rodar o Brasil, incentivando a criação de federações nos estados, com base na experiência de Brasília. A LINQ-DFE foi a primeira entidade nesse formato e se tornou o embrião do movimento junino estatutário no país. Já existiam quadrilhas antes, claro, mas esse modelo de associação organizada começou aqui.
As quadrilhas do DF são referência no Brasil?
O movimento de Brasília se destaca pela formação de profissionais. Oferecemos capacitações técnicas, artísticas e de gestão. Por exemplo, um técnico de som que atua com quadrilhas ganha experiência que pode ser aplicada em qualquer evento. Hoje, identificamos que muitos profissionais surgem de dentro das quadrilhas. Ao invés de contratar alguém de fora, as próprias quadrilhas formam e empregam seus talentos, com sensibilidade e conhecimento sobre o movimento.
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Qual é a cadeia produtiva envolvida nas quadrilhas juninas?
O movimento junino movimenta uma grande cadeia produtiva. Vai desde os dançarinos, que estão na linha de frente, até o coreógrafo, o figurinista, os músicos, os profissionais da costura, da cenografia, inclusive os que cuidam dos fogos de artifício. É uma rede extensa e muito importante, com diversas funções sendo desempenhadas por trás dos palcos.
Qual a dimensão de uma quadrilha hoje?
Hoje, uma quadrilha é como uma empresa. Está apta a captar recursos públicos, e para isso, precisa de advogado, contador, estrutura jurídica. Algumas quadrilhas juninas chegam a movimentar de R$ 200 mil a R$ 400 mil por ano, dependendo dos fomentos que conseguem executar. É uma engrenagem que gera empregos e oportunidades.
As empresas brasilienses têm percebido o valor do movimento junino, apoiam o evento?
Sim, temos conquistado espaço significativo na sociedade e na mídia, o próprio Correio Braziliense é um exemplo disso. Mas ainda há muito espaço para crescer. É papel das diretorias buscar essas oportunidades. As quadrilhas são plataformas de grande engajamento, e as redes sociais das federações e grupos têm um alcance impressionante.
O que as quadrilhas representam para você?
Tudo. Estamos, inclusive, tentando inserir o movimento junino no campo acadêmico, fechando parcerias com universidades e faculdades para que ele se torne objeto de estudo. Sabemos que a cultura salva vidas. Muitas pessoas superam depressão e ansiedade por meio da quadrilha. Ela tem esse poder transformador e isso precisa ser estudado e valorizado.
Quem é a atual campeã brasileira de quadrilhas?
A atual campeã nacional é do Distrito Federal: a quadrilha Arrocha o Nó, do Paranoá. No ano ado, eles apresentaram o tema O Boneco de Vitalino, um boneco de barro que, na noite de São João, ganha vida. Um espetáculo que encantou o país.
O movimento também é turístico?
Sim, e é um dos nossos grandes objetivos: consolidar Brasília como um polo junino. Temos potencial e capacidade para isso. Este ano, o DF terá cerca de 14 ou 15 grandes eventos juninos, o que movimenta a economia e atrai turistas. O turismo junino é uma realidade que queremos fortalecer.
Como a liga contribui para a valorização da cultura nordestina no DF?
A liga se posiciona como um verdadeiro vetor de transformação. Brasília foi construída por nordestinos e seus filhos, que trouxeram e mantiveram suas tradições. A cultura vai se moldando à realidade local, e Brasília criou até seu próprio o de dança: o Arriúna. A liga atua para preservar essas expressões e mantê-las vivas na nossa identidade cultural.