
O Brasil precisa ampliar a reciclagem de vidro nos próximos anos. A meta é chegar a 40% de reaproveitamento desse material até 2030, número que, embora pareça modesto, exige um salto expressivo frente ao índice oficial de 11% registrado em 2019. Quem está à frente dessa missão é a Circula Vidro, entidade que representa 100% dos fabricantes do setor no país, com sede no Distrito Federal. Em entrevista ao Podcast do Correio, nessa segunda-feira (19/5), o CEO da organização, Fábio Ferreira, detalhou a situação às jornalistas Mariana Niederauer e Ana Raquel Lelles.
"A gente gostaria muito de chegar próximo dos 100%. O Brasil possui uma série de desafios para a reciclagem, não apenas em relação ao vidro, mas também ao plástico e outros materiais. Precisamos aperfeiçoar o sistema", observou Fábio. Ele aponta que Brasília tem se destacado no cenário nacional quando o assunto é reciclagem de vidro, com um índice de reciclagem superior à média brasileira. "No Distrito Federal, no último relatório, tivemos um percentual acima de 28%. Nacionalmente, a gente ficou em 25,1%".
A Circula Vidro tem sede em Brasília por uma escolha estratégica. A cidade, além de ocupar posição central no território brasileiro, concentra os principais formuladores de políticas públicas ambientais. "Vai muito em linha com o próprio fato de Brasília ter sido escolhida como capital do nosso país. A localização é estratégica", explicou o CEO. "Nós somos uma entidade nacional, então, naturalmente, a gente conversa muito com o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Esse é o nosso principal interlocutor", acrescentou.
Ferreira também destacou a afinidade da cidade com as causas ambientais. "Brasília teve bons índices, acima da média nacional. É uma capital que tem uma preocupação ambiental, com uma população ligada a esse tema. Então, a gente sente que tem muita sinergia com a cidade".
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta entraves estruturais importantes, especialmente relacionados à logística. "O Brasil é um país muito grande, e temos distâncias muito grandes entre o consumidor final e as indústrias de reciclagem. Existem poucas indústrias que estão aptas a fazer reciclagem de vidro. E elas estão majoritariamente localizadas no litoral brasileiro. O grande desafio é a logística. Com o frete caro demais, inviabiliza a empresa de comprar aquele material".
Outro obstáculo citado por Ferreira é o cultural. "Nós não temos tanto hábito de cuidar do que a gente gera. Precisamos ter a consciência de que nós somos pessoas e geramos lixo. A responsabilidade é nossa de descartar de forma adequada".
Com a proximidade da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), a Circula Vidro enxerga no evento uma oportunidade para ampliar o alcance da pauta da reciclagem. "A COP é um evento internacional que acontece há décadas. Os olhos do mundo inteiro se voltam aos locais onde eles são sediados", assinalou.
A Circula Vidro planeja ações durante o evento. "Vamos trabalhar no evento para que não haja nenhum tipo de resíduo. E mais do que isso, aproveitar a oportunidade para mostrar o que estamos fazendo. Parece-me uma oportunidade para mostrar aos nossos governantes que essas iniciativas fazem a diferença", concluiu.
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*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti