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Dia do Combate ao Alcoolismo: 7 pontos para entender melhor a doença

Segundo o presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), Dr. Arthur Guerra, o alcoolismo é um tema que afeta diretamente a saúde pública

Camilla Germano
postado em 18/02/2022 06:00
 (crédito: Reprodução/Pixabay)
(crédito: Reprodução/Pixabay)

Nesta sexta-feira (18/2), comemora-se o Dia do Combate ao Alcoolismo, data criada para dar visibilidade a uma doença muitas vezes negligenciada, mas que tem um duro efeito na saúde pública. Segundo o Dr. Arthur Guerra, médico psiquiatra e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), é importante chamar a atenção para a doença porque a maioria dos pacientes apresentam quadros de “negação” — ou seja, muitos custam acreditar que têm algum problema. Além disso, o especialista destaca que o uso desenfreado do álcool está chegando cada vez mais em duas populações: as mulheres e os jovens, levando em conta um grande aumento do consumo durante a pandemia. 

O Correio entrevistou o representante do CISA para entender a relevância da data e sanar as principais questões sobre o tema.

Quais são os sinais, caso existam, que indicam que a bebida se tornou um problema?

Identificar quando o consumo de álcool ou a prejudicar a saúde e a dependência se desenvolveu não é fácil. Essa progressão é sutil e decorre não somente da quantidade consumida, mas também da frequência, das circunstâncias desse consumo e das consequências à saúde do indivíduo.

Entretanto, alguns sintomas podem indicar que algo não vai bem e reconhecê-los é uma medida importante para procurar o apoio adequado. São eles: forte desejo de beber, dificuldade de controlar o consumo (não conseguir parar de beber depois de ter começado), uso continuado apesar das consequências negativas e priorizar a bebida, deixando de lado outras atividades e obrigações.

Quais são os principais sinais da dependência do álcool?

As pessoas que têm dependência não conseguem ficar sem álcool e na hora que ficam sem consumir, o corpo apresenta tremores e muito suor. A pessoa quer beber e bebe de qualquer jeito, até escondido. Em alguns casos, na falta de álcool comum, chega até beber álcool de limpeza.

O alcoolismo é considerado uma doença? Há uma cura?

O alcoolismo é uma doença crônica, assim como diabetes e hipertensão. E é multifatorial, pois diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento. Mas tem tratamento.

Ainda que a recuperação não seja fácil e ocorram percalços, como as recaídas, os alcoolistas que procuram ajuda adequada estão no caminho certo para recuperar uma vida autônoma e com mais saúde.

Uma vez alcoolista, a pessoa tem grandes chances de ficar bem, se não beber nada. Ele está curado? Curado seria se pudesse voltar a beber socialmente, o que não pode. Ele está curado se não beber nada e vai perceber grande melhoria na qualidade de vida. Mas não pode voltar a beber.

Ainda sim, vale ressaltar que cada indivíduo é único e a avaliação multidisciplinar contínua é a melhor maneira de indicar o apoio mais adequado, inclusive podendo envolver diferentes abordagens (farmacológico, psicoterápico, grupos de ajuda mútua, atividade física e/ou até hospitalização para casos mais graves).

É verdade que o alcoolismo pode ser genético? Se sim, que tipos de precauções podem ser tomadas se existirem vários casos na família?

Não é que o alcoolismo seja genético, o alcoolismo tem características hereditárias. Mas não é porque o pai é alcoolista, que o filho também vai ser. Os filhos de alcoolistas têm uma vulnerabilidade e uma chance maior de vir a ter problemas com o uso do álcool. Eles têm um risco maior, não quer dizer que eles vão ter dependência.

Se junto com esse risco — porque tem mais enzimas que metabolizam o álcool — a pessoa tiver mais o ao álcool (como pessoas bebendo em casa, por exemplo), ou tiver um pouco de ansiedade, um pouco de preocupação, ou tiver em um ambiente onde todo mundo bebe, onde o lazer é beber, pronto. Aquele risco hereditário que tem fica mais evidente e pode sim trazer um maior consumo de álcool.

Como é feito o tratamento do alcoolismo? Existem diferentes métodos?

O tratamento do alcoolismo é um dos grandes desafios da medicina. Porque depois que a pessoa se torna dependente, na minha visão, ela tem uma chance de ficar boa: parar de beber, ou seja, total abstinência. O problema é que vivemos em um mundo completamente alcoólico.

Usar álcool não é ser alcoolista. O alcoolista é aquela pessoa que bebe mais do que o necessário e que por conta desse uso excessivo do álcool, acaba tendo prejuízo, ou para ele ou para quem vive junto com ele.

Então como a gente vai falar para essa pessoa que nega ter a doença, que ela não deve beber mais? Esse é o desafio. A chance de ficar bom é não beber nada!

As pessoas alcoólatras podem desenvolver doenças físicas?

O álcool afeta o corpo humano como se fosse um spray: pega todo o corpo.

No fígado, pode dar um quadro de hepatite alcoólica, depois cirrose alcoólica. No pâncreas, pode dar um quadro chamado de pancreatite crônica alcoólica.

Nos nervos, pode dar um quadro de neuropatia periférica — condição que afeta diretamente os nervos periféricos, responsáveis por enviar informações do cérebro e da medula espinhal para o resto do corpo, além de trazer as mensagens sensoriais ao sistema nervoso central.

No coração, pode dar um quadro de miocardiopatia alcoólica — doença do músculo cardíaco caracterizada pelo prejuízo à dilatação e contração de um ou ambos os ventrículos do órgão.

No entanto, cada pessoa é mais afetada pelo consumo de álcool em um dos órgãos. A bebida não pega todos os órgãos de uma pessoa só. É um processo grave e sério.

Quais são os melhores locais para buscar ajuda. São em centros de reabilitação, buscar ajuda de psicólogos, apoio familiar…?

Existem opções de apoio e tratamentos gratuitos no Brasil, como os Centros de Atenção Psicossocial — Álcool e Drogas (CAPS-AD), ambulatórios de hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e grupos de mútua ajuda, como Alcoólicos Anônimos (A.A.).

 

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