
O planeta está no caminho de novos recordes de calor nos cinco próximos anos, segundo um relatório divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). A análise mais recente das tendências climáticas globais indica uma probabilidade de 80% de que ao menos um dos períodos de 2025 e 2029 supere 2024 como o mais quente já registrado.
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O documento faz um alerta sobre a Amazônia: a maior floresta tropical do mundo deve enfrentar condições mais secas do que a média histórica durante os próximos cinco anos, especialmente entre maio e setembro — período que normalmente concentra os maiores volumes de chuva em diversas áreas da região. A previsão de estiagem prolongada está associada, segundo a OMM, tanto pelo aquecimento da superfície da Terra quanto por fenômenos como o El Niño.
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O relatório também indica uma chance de 86% de que pelo menos um desses anos ultrae a marca simbólica de 1,5°C acima da média da era pré-industrial (1850 – 1900). Esse é o limite estabelecido no Acordo de Paris para evitar impactos catastróficos no planeta. Embora o aquecimento de longo prazo — a média de várias décadas — ainda esteja abaixo desse valor, os dados apontam para uma tendência alarmante.
Em relação à média do período 2025 – 2029, a probabilidade de que a temperatura global exceda os 1,5°C já chega a 70%, um salto significativo em comparação aos 47% estimados no relatório anterior, que cobria os anos de 2024 a 2028. Os efeitos do aquecimento global são sentidos de forma desproporcional em diferentes partes do planeta, destaca a OMM.
Ártico
O Ártico, por exemplo, deve continuar aquecendo em ritmo acelerado. A OMM projeta um aumento de 2,4°C nas temperaturas médias dos invernos (de novembro a março) da região, em relação à média do período de 1991 a 2020. A tendência deve contribuir para uma redução ainda maior na concentração de gelo marinho nos mares de Barents, Bering e de Okhotsk.
O relatório também traz previsões sobre os padrões de precipitação. De maio a setembro entre 2025 e 2029, espera-se que algumas regiões fiquem mais úmidas do que a média histórica, como o Sahel (na África), o norte da Europa, o Alasca e o norte da Sibéria. Na Ásia Meridional, as projeções indicam uma continuidade dos anos mais úmidos, mantendo a tendência observada nos últimos anos — com exceção de 2023, que apresentou comportamento atípico.
A OMM alerta que o nível atual de aquecimento já impulsiona ondas de calor mais prejudiciais, eventos extremos de chuvas, secas intensas, derretimento de camadas de gelo e aumento do nível do mar. Com temperaturas ainda maiores, o cenário deve se intensificar, segundo o relatório.
Porém, o organismo das Nações Unidas ressalta que as previsões não significam uma condenação do limite de 1,5°C do Acordo de Paris, que é baseado em médias de longo prazo. No entanto, o fato de a Terra estar se aproximando com tanta frequência e intensidade desse patamar é motivo de preocupação.
"As chances crescentes de ultraarmos temporariamente o limite de 1,5°C são um alerta de que estamos nos afastando dos compromissos assumidos para conter o aquecimento global", disse, em uma coletiva de imprensa, a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo. Saulo reforçou o apelo por "ações urgentes e eficazes para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, promover a transição energética e ampliar a resiliência das comunidades já estão em curso".
El Niño ameaça manguezais
Os padrões climáticos associados aos fenômenos El Niño e La Niña afetam quase metade das florestas de manguezais do mundo, segundo um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Tulane e publicado na revista Nature Geoscience. A pesquisa ressalta a vulnerabilidade às mudanças climáticas desses ecossistemas costeiros vitais.
A pesquisa baseia-se em quase duas décadas de dados de satélite, de 2001 a 2020, e é a primeira a demonstrar padrões em escala global de como o El Niño-Oscilação Sul (Enos é a sigla utilizada do fenômeno) influencia o crescimento e a degradação dos manguezais. Esses ecossistemas são arbustos ou árvores que crescem em matagais densos, principalmente em águas costeiras salinas ou salobras.
Anteriormente, os impactos haviam sido documentados localmente, como a drástica mortandade no norte da Austrália em 2015, quando mais de 40 milhões de árvores de manguezais pereceram ao longo de um trecho de 1.930 quilômetros de litoral. "Queríamos saber se esses eventos eram isolados ou parte de um padrão mais amplo", disse o autor principal, Zhen Zhang. "Nossas descobertas confirmam que o Enos tem efeitos recorrentes e em larga escala nos ecossistemas de manguezais em todo o mundo."
Inundações
O El Niño é um padrão climático de mudanças de temperatura e ventos no Oceano Pacífico que afetam o clima global. O fenômeno traz águas quentes para o Pacífico oriental. Já o La Niña leva águas frias para lá. Essas alterações interrompem as chuvas, tempestades e temperaturas em todo o mundo, causando inundações, secas e mudanças na atividade de furacões.
Professor de ciências da terra e do meio ambiente da Universidade de Tulane, Daniel Friess, coautor do estudo, afirmou que as florestas de manguezais fornecem serviços essenciais para centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo proteção contra tempestades, armazenamento de carbono e apoio à pesca. Mas sua existência depende de um conjunto de condições ambientais, tornando-as particularmente sensíveis a variações climáticas.
"Os manguezais são um dos ecossistemas mais valiosos do planeta, mas existem em um delicado equilíbrio com o meio ambiente", disse Friess. "Uma melhor compreensão de como esse habitat único é influenciado pelas mudanças climáticas nos ajudará a conservá-lo e restaurá-lo, ao mesmo tempo em que apoiamos as comunidades costeiras que dependem dele."
Previsões 2025 - 2029
» Há 80% de chance de que pelo menos um dos próximos cinco anos supere 2024 como o ano mais quente já registrado.
» Há 86% de probabilidade de que pelo menos um desses anos fique 1,5°C acima da média pré-industrial (1850 – 1900).
» A chance de que a média de aquecimento no período 2025–2029 exceda 1,5°C é de 70%, um aumento significativo em relação aos 47% previstos no relatório anterior para 2024 – 2028.
» O aquecimento de longo prazo (média de várias décadas) permanece abaixo de 1,5°C, conforme estipulado no Acordo de Paris.
» O Ártico deve continuar aquecendo mais rapidamente que a média global, com previsão de aumento de 2,4°C acima da média de 1991 – 2020 nos próximos cinco invernos (novembro a março).
» Espera-se uma redução adicional na concentração de gelo marinho em áreas como os mares de Barents, Bering e de Okhotsk.
» Padrões de precipitação previstos para maio a setembro de 2025 – 2029 indicam condições mais úmidas que a média no Sahel, norte da Europa, Alasca e norte da Sibéria, e condições mais secas que a média na Amazônia.
» A previsão também sugere que a região do sul da Ásia continuará experimentando anos mais úmidos que a média, com exceção de 2023.
Fonte: Organização Meteorológica Mundial (OMM)
Saiba Mais
Principais previsões para 2025–2029
» Há 80% de chance de que pelo menos um dos próximos cinco anos supere 2024 como o ano mais quente já registrado.
» Há 86% de probabilidade de que pelo menos um desses anos fique 1,5°C acima da média pré-industrial (1850 – 1900).
» A chance de que a média de aquecimento no período 2025–2029 exceda 1,5°C é de 70%, um aumento significativo em relação aos 47% previstos no relatório anterior para 2024 – 2028.
» O aquecimento de longo prazo (média de várias décadas) permanece abaixo de 1,5°C, conforme estipulado no Acordo de Paris.
» O Ártico deve continuar aquecendo mais rapidamente que a média global, com previsão de aumento de 2,4°C acima da média de 1991 – 2020 nos próximos cinco invernos (novembro a março).
» Espera-se uma redução adicional na concentração de gelo marinho em áreas como os mares de Barents, Bering e de Okhotsk.
» Padrões de precipitação previstos para maio a setembro de 2025 – 2029 indicam condições mais úmidas que a média no Sahel, norte da Europa, Alasca e norte da Sibéria, e condições mais secas que a média na Amazônia.
» A previsão também sugere que a região do sul da Ásia continuará experimentando anos mais úmidos que a média, com exceção de 2023.
Fonte: Organização Meteorológica Mundial (OMM)
Tendência inevitável
"Um único ano globalmente registrar 1,5°C a mais do que os níveis pré-industriais não significa que ultraamos o limite do Acordo Climático de Paris, mas significa que ultraar esse nível perigoso é praticamente inevitável. O limite decidido no Acordo Climático de Paris aplica-se à temperatura da superfície global, calculada em média ao longo de várias décadas, portanto, um único ano não significa que ultraamos esse nível perigoso. Mas, dado que o aquecimento global está se acelerando, é quase certo que ultraar mais vezes o limite será inevitável sem uma mudança radical nos esforços para reduzir os gases de efeito estufa."
Richard Allan, Professor de Ciência do Clima da Universidade de Reading, no Reino Unido
Manguezais ameaçados por El Niño
Os padrões climáticos associados aos fenômenos El Niño e La Niña afetam quase metade das florestas de manguezais do mundo, segundo um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Tulane e publicado na revista Nature Geoscience. A pesquisa ressalta a vulnerabilidade às mudanças climáticas desses ecossistemas costeiros vitais.
A pesquisa baseia-se em quase duas décadas de dados de satélite, de 2001 a 2020, e é a primeira a demonstrar padrões em escala global de como o El Niño-Oscilação Sul (Enos é a sigla utilizada do fenômeno) influencia o crescimento e a degradação dos manguezais. Esses ecossistemas são arbustos ou árvores que crescem em matagais densos, principalmente em águas costeiras salinas ou salobras.
Anteriormente, os impactos haviam sido documentados localmente, como a drástica mortandade no norte da Austrália em 2015, quando mais de 40 milhões de árvores de manguezais pereceram ao longo de um trecho de 1.930 quilômetros de litoral. "Queríamos saber se esses eventos eram isolados ou parte de um padrão mais amplo", disse o autor principal, Zhen Zhang. "Nossas descobertas confirmam que o Enos tem efeitos recorrentes e em larga escala nos ecossistemas de manguezais em todo o mundo."
Inundações
O El Niño é um padrão climático de mudanças de temperatura e ventos no Oceano Pacífico que afetam o clima global. O fenômeno traz águas quentes para o Pacífico oriental. Já o La Niña leva águas frias para lá. Essas alterações interrompem as chuvas, tempestades e temperaturas em todo o mundo, causando inundações, secas e mudanças na atividade de furacões.
Professor de ciências da terra e do meio ambiente da Universidade de Tulane, Daniel Friess, coautor do estudo, afirmou que as florestas de manguezais fornecem serviços essenciais para centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo proteção contra tempestades, armazenamento de carbono e apoio à pesca. Mas sua existência depende de um conjunto de condições ambientais, tornando-as particularmente sensíveis a variações climáticas.
"Os manguezais são um dos ecossistemas mais valiosos do planeta, mas existem em um delicado equilíbrio com o meio ambiente", disse Friess. "Uma melhor compreensão de como esse habitat único é influenciado pelas mudanças climáticas nos ajudará a conservá-lo e restaurá-lo, ao mesmo tempo em que apoiamos as comunidades costeiras que dependem dele."