
Um novo esquema terapêutico melhorou significativamente a resposta e o controle do câncer de mama triplo negativo avançado — uma das formas mais agressivas e difíceis de tratar da doença. Os dados foram apresentados neste sábado (31) durante o congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), em Chicago, nos Estados Unidos.
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Segundo os resultados do estudo global ASCENT-04/KEYNOTE-D19, conduzido pelo Dana-Farber Cancer Institute, a combinação do anticorpo-droga conjugado sacituzumabe govitecano com o imunoterápico pembrolizumabe levou a respostas mais duradouras e melhor sobrevida livre de progressão (SLP) em comparação ao tratamento padrão — que inclui quimioterapia e pembrolizumabe.
“O câncer de mama triplo negativo representa cerca de 15% dos casos de câncer de mama, tem comportamento agressivo e opções terapêuticas limitadas”, disse, na apresentação do estudo, a oncologista Sara Tolaney, chefe da divisão de oncologia mamária do Dana-Farber e autora principal. “Há uma necessidade urgente de terapias mais eficazes, e é fundamental antecipar o uso desses novos agentes para a linha de tratamento inicial.”
Marcador
O estudo envolveu 443 pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático ou avançado, com expressão positiva da proteína PD-L1 — um marcador associado a tumores mais agressivos e pior prognóstico. Os participantes foram divididos aleatoriamente para receber sacituzumabe govitecano + pembrolizumabe ou quimioterapia + pembrolizumabe, ambos como tratamento de primeira linha.
Após um seguimento mediano de 14 meses, os resultados mostraram:
- Sobrevida livre de progressão (SLP): 11,2 meses no grupo que recebeu sacituzumabe govitecano, contra 7,8 meses no grupo da quimioterapia.
- Taxa de resposta objetiva (TRO): cerca de 60% dos pacientes responderam ao novo tratamento.
- Duração mediana da resposta: 16,6 meses no grupo do sacituzumabe, contra 9,2 meses no grupo da quimioterapia.
- Perfil de segurança: consistente com os efeitos já conhecidos das drogas, com menos interrupções do tratamento no grupo do novo esquema.
Acompanhamento
Os dados de sobrevida global (SG) ainda são preliminares, mas mostram tendência favorável ao novo regime terapêutico. A equipe planeja análises adicionais e acompanhamento mais longo dos pacientes.
O sacituzumabe govitecano já é aprovado como tratamento de segunda linha para pacientes com câncer de mama triplo negativo avançado. Porém, como ressaltou Tolaney, metade dos pacientes não chega a receber uma segunda linha de tratamento devido ao rápido avanço da doença.
“Esses dados mostram que devemos considerar levar o sacituzumabe para a linha de frente, onde ele pode beneficiar um número maior de pacientes antes que sua saúde se deteriore”, afirmou a oncologista. “Esperamos que esse estudo leve à aprovação da combinação como terapia de primeira linha para pacientes com tumores PD-L1 positivos.”
Anticorpo
O sacituzumabe govitecano um anticorpo-droga conjugado, uma forma moderna de quimioterapia dirigida. Ele combina um anticorpo que reconhece a proteína TROP-2, presente em células de câncer de mama triplo negativo, com um potente agente citotóxico. Assim, o fármaco leva a quimioterapia diretamente à célula tumoral, minimizando efeitos sobre tecidos saudáveis. Já o pembrolizumabe é um inibidor de checkpoint imunológico, que age bloqueando o PD-L1 — proteína usada por células tumorais para escapar da ação do sistema imune.
Se os dados forem confirmados e levarem à aprovação regulatória, a combinação poderá se tornar o novo padrão de tratamento de primeira linha para pacientes com câncer de mama triplo negativo avançado que expressam PD-L1 — um grupo que atualmente enfrenta prognóstico reservado e poucas opções eficazes.