
Crítica // Em rumo a uma terra desconhecida ★★★+--
A necessidade de aprovação, companheirismo e solidariedade permeia toda a trama do filme de Mahdi Fleifel, nascido nos Emirados Árabes, e que comandou a produção palestina em que os protagonistas são o fragilizado Reda (Aram Sabbah) e o determinado Chatila (Mahmood Bakr). Contrabandistas de ocasião, ambos compartilham a realidade do desterro. Desnorteados, os protagonistas palestinos vivem do trágico e prospectam alguma estabilidade, numa capital grega em que, visivelmente, sobram.
À frente de um drama bastante elaborado e imprevisível, os dois personagens almejam a ida para a Alemanha, na qual sonham em abrir um café. Chatila carrega a responsabilidade de ter esposa e filho, numa família desmantelada. Já Reda abraçou o mundo das drogas e tenta se regenerar. Com um fundo de vida multicultural, o cineasta comanda com maestria o enredo fundamentado por necessidade de amparo, por documentação falsa e ideais pacíficos, afugentados por situações de tortura e de negociatas de aportes adulterados.
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Personagens coadjuvantes bastante convincentes como Malik (Mohammad Alsurafa) e a desequilibrada Tatiana (Angeliki Papoulia) criam uma atmosfera realista. Planos mirabolantes, tédio e agressividade, além de uma incontida vontade de liberdade, dão as caras no acidentado percurso de Reda e Chatila. Para além dos olhares intensos dos atores e da exploração de temas densos como o tráfico humano, o cineasta ainda se vale de toques literários, quando um dos personagens, inesperadamente (de modo poético), cita o referencial escritor Mahmoud Darwish, morto em 2008, e fundamental na história da criação do Estado da Palestina.
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