
Em setembro de 2022, três amigos ficaram presos dentro de um estúdio em São Paulo, porque o amigo e dono do estabelecimento saiu para assistir o show da Dua Lipa, os deixando trancados. O ócio criativo gerou uma faísca do que seria uma mudança de vida. Eles aproveitaram os materiais para gravar e lançar a faixa Lince. A música, que parecia um jeito de ar o tempo, deu partida no projeto Maria Esmeralda, um álbum conjunto do o cantor Thalin e os beatmakers VCR Slim, Cravinhos, Pirlo e ILoveLangelo que chamou atenção por ser algo diferente dentro da cena hip-hop nacional.
O disco foi um sucesso primeiramente no underground e alternativo, mas ganhou tração com as boas críticas vindas de jornalistas especializados. “Uma das críticas que nós mais gostamos sobre o nosso trabalho é de que ele é uma ‘ópera rap’”, diz VCR Slim em entrevista dos cinco integrantes ao Correio. O fato é que a demanda dos artistas aumentou e agora eles chegam a um grande palco e abrem o último dia do C6 Fest, 25 de maio, em São Paulo.
O trabalho chamou a atenção por construir uma narrativa dessa personagem Maria Esmeralda. Em uma viagem que mistura beats de rap, trechos um tanto jazzistas, samples de músicas internacionais do ado e letras com toques de psicodelia, o álbum traz uma originalidade ímpar. “O Maria Esmeralda é algo que a gente achou para unir a cabeça dos cinco em um mesmo fio condutor. Decidimos que a ideia seria contar a história dessa personagem que inventamos do zero”, destrincha VCR Slim.
Os cinco artistas tinham carreiras muito distintas. Thalin eia por um pouco de tudo e tem mais de 90 músicas registradas, além de outro trabalho de destaque como músico no espetáculo Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso; VCR Slim estudou cinema e se apaixonou por música em casa, aprendeu de forma autodidata e começou a trabalhar na área sem muitas pretensões; Pirlo era baterista, entrou para o lado do rap como produtor e começou a trabalhar com nomes como Derek e a Recayd Mob; Cravinhos já trabalhava com a produção, mas esse é o primeiro disco de boombap que participa; e ILoveLangelo teve bandas e se enveredou para o lado hip-hop.
O Maria Esmeralda, portanto, serviu como um ponto em comum. “O Maria Esmeralda é um disco que tem muita coesão, apesar de ser feito por cinco cabeças pensantes muito diferentes. Para a gente chegar no resultado final, houve muita escuta. A gente abraçou muito a ideia dos outros, trabalhando sempre pelo consenso”, comenta Cravinhos que entende que o diálogo foi imprescindível. “Em todos os momentos, abrimos mão do que queríamos em nome do todo. Nós entendemos que não era sobre fazer o nosso melhor e sim sobre todos juntos fazendo algo que era muito maior que nós”, completa.
Aos poucos, o disco se tornou mais do que só música para aqueles artistas. “O Maria Esmeralda acabou se tornando uma memória de algo que vivi no ado. Ela se tornou uma sensação nostálgica dentro de mim. Todo mundo tem um apego no ado e o disco representa isso”, explica ILoveLangelo. “Esse é um disco familiar em intenção, você não sabe exatamente o que é familiar ali no meio, mas você vai acabar se enxergando ali”, exalta VCR Slim.
Ou seja, o álbum, por sucesso ou importância para os realizadores, mudou a vida dos cinco artistas para sempre. “É um disco que já chegou em lugares que eu nunca imaginava, foi a coisa que nos fez chegar mais longe. Eu quero que o Maria Esmeralda seja imortal”, destaca Thalin.
Shows
Cada vez mais próximos de um momento marcante na carreira, com a apresentação em um festival respeitável do circuito brasileiro, eles se preparam para um grande show. “O show é bem fiel ao álbum. É intenso, bem bonito e dinâmico”, antecipa Thalin. “A gente não está ali fazendo um show com um catálogo de músicas. A apresentação do Maria Esmeralda é o disco do começo ao fim na ordem das músicas. É realmente transformar uma mídia de áudio em algo visual”, complementa VCR Slim. “Parece que você entre em uma memória, em um mundinho de vibe nostálgica. Então nosso show parece uma peça, o mundinho está no palco”, finaliza Cravinhos.
A expectativa é de após esse grande show, expandir ainda mais esse projeto para outros lugares e públicos. Brasília com certeza é uma possibilidade. “Brasília é um dos lugares que mais ouvem o Maria Esmeralda. A cidade está sempre no top 5 ouvintes do Spotify”, relata Thalin que diz ter um carinho especial por quem o escuta na capital.