
Crítica // Confinado ★★★
Um rapaz sujeito a torturas psicológicas e físicas, em meio ao que pode ser visto como indefensável crime: tentar o roubo de uma SUV — do desejável modelo Dolus (carro que inexiste no mercado de compras real). Se você pensa que já viu um filme parecido a este que chega aos cinemas protagonizado por Bill Skarsgard e Anthony Hopkins, não está enganado. Há três anos, o diretor brasileiro João Wainer acirrou os ânimos entre os personagens de Alexandre Nero e Chay Suede, no provocativo thriller A jaula.
Sai o chamado "maloqueiro" (como se chama), mas o "cidadão de bem" é mantido, na nova adaptação conduzida por David Yarovesky (de Brightburn: filhos das trevas) — que toma por base o texto original do filme argentino 4x4, de Mariano Cohn e Gastón Duprat (com roteiro a cargo ainda do carioca João Cândido Zacharias). Na pele do contraventor Eddie está Skarsgard (Nosferatu), enquanto, via ligações telefônicas, muito se ouve da voz irritante (pausada e sádica) de Anthony Hopkins, que encena William, dono de moral e ética bastante particulares.
Asfixia, sede e outras limitações para Eddie são torturas istradas por William, a distância. Tudo é observado por meio de câmeras, do interior do carro roubado, no filme que apequena a visão de brutalidade.
Com material de roteiro retrabalhado por Michael Arlen Ross (editor de Pânico na floresta e um dos autores do texto de Turistas), o filme ameniza as camadas de debate político (de A jaula) e, num campo exagerado, acentua o risco impresso para Ashley Cartwright, a filha de Eddie (inexistente no outro título). Com ágil e inspirada edição de profissionais de filmes como Boogeyman: Seu medo é real e Ford vs. Ferrrai, Confinado carrega nas tintas da sobrevivência (ou não) do protagonista, mas não deixa de ser bem útil para a ala radical de alguns espectadores, como os brasileiros, que poderão renovar visões em torno de etarismo e redimensionarem dados acerca de direitos humanos (candentes, em A jaula).
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Outras atrações
Embalado como fantasia, o longa A lenda de Ochi chega às telas depois de estrear no Festival de Sundance. Na trama, estrelada entre outros por Willem Dafoe e Emily Watson, uma vila remota abriga uma menina tímida criada em meio rural e que revela alguns temores, entre os quais o medo pelas criaturas ochi. Ao descobrir um bebê da espécie, a menina busca reconduzi-lo ao habitat, já que ele está ferido e abandonado. // De graça, no CCBB, a mostra O cinema de Hirokazu Kore-Eda, que traz enorme retrospectiva do mestre japonês, traz duas atrações: Nossa irmã mais nova (dia 29/5, às 17h) e Assunto de família (às 19h30). // Pela Semana da Língua Alemã, as Embaixadas da Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e Suíça embalam, até sábado, a Mostra de Cinema, com exibições de graça, no Sesc (504 Sul). Amanhã (30/5, às 19h) será a vez do documentário Schlg misteriosa — A conexão dos Habsburgos com o Brasil, que desvenda parte da cidade tida como um real paraíso de inverno, e sábado (31/5, às 16h), de Raindrop — Die Reise des Wassers, um exame da vida aquática.
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