Tarifaço

Efeito Trump provoca dias de incerteza nas américas, mostra relatório Fitch

Em nota, a agência Fitch aponta que os países das regiões Sul e Central do continente sofrem consequências da política estadunidense

Agência alerta que América Latina enfrenta crescente incerteza externa com Trump, e espaço fiscal se reduz
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Agência alerta que América Latina enfrenta crescente incerteza externa com Trump, e espaço fiscal se reduz -

A América Latina enfrenta um cenário externo cada vez mais desafiador, marcado por ameaças tarifárias, deportações em massa e juros elevados nos Estados Unidos, alerta um relatório divulgado na terça-feira (4/3) pela agência de classificação de risco Fitch. Com espaço fiscal reduzido, a agência alerta que os países da região têm alcance limitado para responder com estímulos, o que pode comprometer o crescimento econômico.

De acordo com a Fitch, a combinação de dólar forte e taxas de juros elevadas nos EUA deve encarecer os custos de financiamento para governos e empresas latino-americanas. Ao mesmo tempo, esse cenário pode pressionar as moedas locais e levar os bancos centrais da região a adotarem uma postura mais cautelosa em relação a cortes de juros.

“O ambiente de crescimento moderado das economias, preços de commodities mais suaves, pressões de gastos sociais e alívio limitado de taxas de juros estão nublando as perspectivas de consolidação fiscal para a região”, aponta a Fitch.

A agência destaca que o Brasil, embora tenha uma perspectiva de rating estável, deve enfrentar uma desaceleração econômica em 2025 devido ao avanço da inflação, às incertezas fiscais e à manutenção de juros elevados. Além disso, o país está entre aqueles com maiores deficits fiscais projetados para o ano, ao lado de Bolívia, Colômbia e Panamá.

No caso do México, o cenário é ainda mais preocupante. O país, que tem os Estados Unidos como seu maior parceiro comercial, pode ser fortemente impactado pelo protecionismo do governo Trump, que ameaça impornovas tarifas sobre importações mexicanas. A política de imigração mais rigorosa também pode afetar a economia, uma vez que milhões de mexicanos residem nos EUA, muitos deles sem documentação legal.

“Os países latino-americanos têm comércio expressivo com os EUA e correm o risco de serem prejudicados comaumentos de tarifas”, explica o professor de Relações Internacionais Maurício Santoro.

Pressões

Apesar dos desafios, a Fitch destaca que a maioria dos ratings dos países latino-americanos permanece estável, sem perspectivas negativas no curto prazo. No entanto, o aumento dos encargos da dívida em alguns países pode gerar um acúmulo de pressões de crédito negativas, afetando o custo de financiamento e a confiança dos investidores.

Para João Kepler, CEO da Equity Fund Group, a incerteza gerada pelas políticas tarifárias de Trump pode ter impactos de longo prazo. “Ainda não sabemos os efeitos reais das políticas tarifárias de Trump, mas acredito que ainda devemos sentir. Investidores e empresários precisam de um horizonte mais estável para planejar suas decisões, especialmente em um momento em que o crédito caro e a volatilidade do câmbio impactam diretamente os negócios e os investimentos”, ressalta.

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A Fitch prevê um leve crescimento da economia latino-americana em 2025, com uma expansão de 2,2% no PIB regional. A retomada econômica da Argentina deve contribuir para essa alta modesta, mas o crescimento da região segue limitado pelas condições externas adversas.

Diante desse cenário, especialistas apontam que a América Latina precisa buscar estratégias para reduzir sua dependência econômica dos Estados Unidos e fortalecer o comércio regional. O sociólogo e economista Vinicius do Carmo, reforça que o relatório da Fitch aponta que algumas das recentes reorientações políticas do governo norte-americano estão intensificando as incertezas externas enfrentadas pelos países da América Latina.

“Entre os principais fatores destacados estão as políticas comerciais mais restritivas dos EUA, como a imposição de tarifas e barreiras ao o ao mercado norte-americano, além das deportações em massa e das ameaças de retaliação contra países que busquem alternativas ao dólar, como é o caso do Brics. Essas medidas representam desafios significativos para a América Latina e, em particular, para o Brasil”, afirmou o economista.

Carmo cita ainda o ciclo mais longo de dólar forte e juros altos nos Estados Unidos, o que encarece o custo do investimento globalmente. “Para o Brasil, essa conjuntura é ainda mais desafiadora, dada a reduzida margem fiscal do país”, observa.

Mercado pessimista

O mercado financeiro brasileiro volta a operar hoje — após o intervalo de quatro dias de carnaval —, atento aos riscos de acirramento de uma guerra comercial, após a vigência das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, a produtos oriundos do México, Canadá e China.

Ontem, sob impacto do primeiro dia do tarifaço e reações dos países envolvidos, as principais bolsas do mundo caíram fortemente.

O STOXX Europe 600, que compila o portfolio de 600 empresas de grandes, médias e pequenas empresas de 17 países da Europa, caiu 2,20%, a 550,73 pontos.

Em Londres, a queda do índice FTSE 100 foi de 1,27%, a 8.759 pontos. Em Frankfurt, o DAX recuou 3,53%, a 22.328 pontos. O CAC 40, de Paris, caiu 1,85%, a 8.047,92 pontos. Em Madri, o Ibex 35 perdeu 2,49%, a 13.039,60 pontos. Em Lisboa, o PSI 20 registrou baixa de 1,64%, a 6.700,33 pontos, enquanto em Milão, o FTSE MIB marcou variação negativa de 3,41%, a 37.736,16 pontos.

O mau humor não poupou nem mesmo o mercado norte-americano. O índice Dow Jones caiu 1,55%, aos 42.520 pontos. O Nasdaq recuou 0,35%, para 18.285 pontos e o S&P 500 encerrou o dia em queda de 1,22%, aos 5.778 pontos.

Fernanda Strickland
postado em 05/03/2025 03:55
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