Oxfam Internacional

CEOs ganham 56 vezes mais que trabalhadores, aponta relatório

Relatório da Oxfam mostra que executivos receberam 56 vezes mais que trabalhadores em 2024. Mulheres ainda trabalham "de graça" às sextas-feiras, e bilionários lucram mais em uma hora do que um trabalhador médio em um ano

A disparidade entre a elite corporativa e a classe trabalhadora nunca foi tão gritante, aponta estudo. -  (crédito: Caio Gomez)
A disparidade entre a elite corporativa e a classe trabalhadora nunca foi tão gritante, aponta estudo. - (crédito: Caio Gomez)

A disparidade entre a elite corporativa e a classe trabalhadora nunca foi tão gritante. Um novo levantamento da Oxfam Internacional, divulgado às vésperas do Dia do Trabalhador, revela que a remuneração média dos CEOs em 2024 alcançou os US$ 4,3 milhões — um aumento real de 50% em relação a 2019. No mesmo período, o salário médio dos trabalhadores teve crescimento de apenas 0,9%.

“Ano após ano, vemos o mesmo espetáculo grotesco: a remuneração dos CEOs dispara, enquanto os salários dos trabalhadores mal se mexem. Isso não é um defeito no sistema — é o sistema funcionando exatamente como planejado, canalizando riqueza para cima enquanto milhões de trabalhadores lutam para pagar aluguel, comida e saúde”, denuncia Amitabh Behar, diretor executivo da Oxfam Internacional.

O estudo analisou dados de quase 2 mil corporações em 35 países, com informações públicas extraídas da base S&P Capital IQ. A diferença de rendimentos chega a extremos: os bilionários acumularam, em média, US$ 23.500 por hora no último ano — valor superior à renda média anual global, estimada em US$ 21 mil.

Na Alemanha, o CEO da BioNTech, empresa que lucrou com a vacina contra a covid-19, embolsou um pacote de US$ 274 milhões em 2024. O valor médio da remuneração de executivos na Irlanda e Alemanha também chama atenção: US$ 6,7 milhões e US$ 4,7 milhões, respectivamente. Já na África do Sul, os CEOs receberam, em média, US$ 1,6 milhão.

O abismo se acentua quando se observa a desigualdade de gênero. Mesmo com uma leve melhora, ando de 27% para 22% entre 2022 e 2023, as mulheres ainda trabalham, na prática, “de graça” às sextas-feiras. No Brasil, a situação se agravou: mulheres receberam 20,7% a menos que os homens em 2023, ante 19,4% no ano anterior. Para mulheres negras, o quadro é ainda mais alarmante — a diferença pode ultraar 50%.

“Estamos vendo na prática como as desigualdades históricas se perpetuam. Quando uma mulher negra precisa trabalhar o dobro para ganhar o mesmo, fica claro que o racismo e o machismo, frutos de uma herança colonial, ainda ditam as regras do jogo no mercado de trabalho”, alerta Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

Além disso, apenas 7% das empresas com CEOs que ganham acima de US$ 10 milhões têm uma mulher no comando. A Confederação Sindical Internacional (ITUC), que assina o relatório com a Oxfam, também chama atenção para o papel das grandes corporações na manutenção dessa estrutura desigual.

“A desigualdade escandalosa entre a remuneração dos CEOs e dos trabalhadores confirma que falta democracia onde ela é mais necessária: no trabalho. Ao redor do mundo, os trabalhadores são privados do básico para viver enquanto as corporações registram lucros recordes, sonegam impostos e fazem lobby para evitar responsabilidades”, afirma Luc Triangle, secretário-geral da ITUC.

A Oxfam e a ITUC pedem aos governos medidas concretas para enfrentar o problema: aumento de impostos sobre os super-ricos, alíquotas de até 75% sobre a renda dos mais abastados e garantias legais para salários dignos, direito à sindicalização e igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

 

postado em 30/04/2025 21:01
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