
No centro das disputas geopolíticas, o setor de minerais lida com desafios nas mesas de negociação internacionais. Para especialistas, é necessário um controle maior sobre produtos brasileiros exportados. O objetivo é preservar as riquezas naturais dentro do país e garantir a concorrência justa entre os micro e pequenos mineradores que, atualmente, representam mais de 88% da área.
Na avaliação da advogada Lina Ester Barbosa Ribeiro, diretora-presidente da Companhia de Mineração do Tocantins (Mineratins), o Brasil deve ponderar ao exportar seus minerais e atuar com foco no investimento nacional. Estratégico, o setor também deve ser incluído em debates sobre transição energética e pela reindustrialização.
"O lítio, por exemplo, se torna estratégico por conta das baterias para carros elétricos. Já em uma sociedade rural, o estratégico pode ser o fosfato ou o calcário. Isso varia com o tempo e o contexto", diz ao Correio.
Para a especialista, o Brasil tem um potencial mineral único."Somos uma potência em diversidade mineral. O problema, na minha avaliação, é que vendemos na natura. Uma tonelada de ferro sai por US$ 100. Se for beneficiado, pode valer centenas de vezes mais", aponta. "Quem ganha é quem processa, não quem extrai", completa.
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A consequência é a perda de espaço no mercado continuando, assim, como pouca expressão na geopolítica das commodities minerais "Precisamos parar de ser fornecedores de matéria-prima e pensar em reservas estratégicas. Hoje, vendemos tudo porque o preço é bom. Mas vai chegar o tempo da escassez e será tarde. A China compra muito do que também tem, porque ela está se preparando para esse futuro", alerta Lina.
A vice-presidente da Mineratins aponta para a falta de estrutura para o beneficiamento interno. A questão ambiental também está no centro do debate no setor. Lina defende uma mineração social e sustentável, que respeite as comunidades e o meio ambiente. "Não basta cumprir as licenças ambientais ou pagar multas milionárias. A comunidade precisa fazer parte do processo, do desenvolvimento", destaca.
A especialista explica que a mineração ocupa 0,53% do território nacional e não pode ser desprezada. "O agro, por exemplo, faz parte de 27% e não sofre o mesmo tipo de demonização, apesar de também causar impactos", compara a advogada.
Para Lina, o equilíbrio a pelo respeito às leis, pela escolha criteriosa das áreas de lavra e pelo planejamento de longo prazo. "Planos de fechamento de mina são essenciais. Uma hora a mina acaba. O que fica para a comunidade? Se você não criar alternativas enquanto a mina estiver ativa, a cidade entra em colapso", observa.
CB Talks
O debate sobre mineração no Brasil frequentemente esbarra em tensões entre preservação ambiental, direitos de comunidades locais e os interesses econômicos e industriais do país.
Para tratar desse tema, o Correio e o Instituto Escolhas promovem, nesta terça-feira, dia 13, o evento "Os desafios da agenda de minerais estratégicos para o Brasil". O encontro reunirá autoridades do Executivo e do Legislativo, além de especialistas em mineração. A edição do CB Talks começa às 9h no auditório do Correio Braziliense.
* Estagiária sob a supervisão de Luana Patriolino