
O governo brasileiro confirmou, ontem, o primeiro caso de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em uma unidade de avicultura comercial. Assim que foi feito o anúncio, China, União Europeia e Argentina suspenderam as compras, o que pode comprometer a receita com a venda do produto a outros países, que, em 2024, havia alcançado recorde de US$ 9,928 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
O foco foi identificado em um plantel de matrizes no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, e, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), trata-se de um caso isolado e localizado, já sob controle. Esse é o primeiro foco do vírus detectado em sistema de avicultura comercial no Brasil. No mundo, a circulação do vírus ocorre desde 2006, principalmente na Ásia, África e no norte da Europa.
O Ministério da Agricultura alertou, logo pela manhã, que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos. “A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo. O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas)”, citou, por meio de nota.
A Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi) informou que a área em Montenegro foi isolada e as aves restantes foram “eliminadas”, para que seja iniciado o protocolo de saneamento da granja. “Será conduzida investigação complementar em raio inicial de 10 km da área de ocorrência do foco, e de possíveis vínculos com outras propriedades. A mortalidade de aves no Zoológico de Sapucaia do Sul, que está fechado para visitação, também foi atendida e a Seapi aguarda o resultado do sequenciamento”, citou a Secretaria. A estratégia segue as normas da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).
Compras suspensas
Após o anúncio do primeiro caso, a União Europeia, China e Argentina suspenderam as importações de produtos e subprodutos de frango brasileiro, devido à detecção de gripe aviária em granja comercial. A medida segue protocolos sanitários firmados com esses mercados e ocorre de forma automática.
No caso da União Europeia, a suspensão ocorre por meio de autoembargo, conforme estabelecido no acordo entre o Brasil e o bloco europeu. “Desde o primeiro foco de gripe aviária em aves silvestres, há dois anos, intensificamos a revisão do protocolo com diversos países”, afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
Ele informou que o Brasil busca, agora, negociar com a União Europeia a chamada regionalização do embargo — ou seja, restringir a suspensão das exportações apenas à área afetada, num raio de 10 quilômetros, ou ao estado onde ocorreu o foco. A União Europeia está entre os dez principais destinos do frango brasileiro, sendo responsável por aproximadamente 7% do volume total exportado. Em 2024, o Brasil embarcou cerca de 229,9 mil toneladas de carne de frango para os 27 países do bloco europeu, com receitas que somaram US$ 655,3 milhões.
A China, que lidera a lista de compradores do frango brasileiro, suspendeu todas as importações imediatamente. A agência sanitária estatal argentina, Senasa, também ordenou a suspensão das importações de produtos e subprodutos de aves do Brasil. “O Senasa determinou, como medida preventiva, a suspensão das importações de produtos e subprodutos de aves do Brasil certificados como livres de IAAP. Em relação à genética avícola, continuará sendo permitida a entrada de aves de um dia e ovos férteis, desde que sejam provenientes de compartimentos oficialmente reconhecidos pelo Senasa como livres desta doença”, comunicou a agência. Para a Argentina, o Brasil é o maior exportador de frango.
Ao se manifestar sobre o caso, o ministro Fávaro afirmou que o governo brasileiro aposta na transparência e rastreabilidade do sistema de vigilância sanitária para tentar reverter parte das suspensões. “É possível que consigamos essas mudanças, comprovando que outras regiões não têm risco de foco e, com isso, liberação dos embarques das demais regiões”, destacou Fávaro.
Zoológico
Outro caso da gripe aviária foi confirmado ontem pelo governo do Rio Grande do Sul. Segundo as informações, as mortes de patos e cisnes ocorridas no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foram causadas pelo vírus da gripe aviária (H5N1). A constatação foi feita após a análise de amostras coletadas de aves e da água dos lagos do zoológico, na última segunda-feira.
Inicialmente, suspeitava-se da morte de 38 aves aquáticas. No entanto, a Seapi revisou os dados e confirmou pelo menos 90 ocorrências. As aves, de diferentes espécies, morreram repentinamente, sem apresentar sinais clínicos específicos da doença, conforme relataram os técnicos do parque.
Com o resultado positivo para a gripe aviária, a reabertura do zoológico, que estava prevista para este sábado, foi adiada por tempo indeterminado. O local permanece fechado à visitação como medida de contenção do vírus e de proteção aos demais animais.
Segundo o governo estadual e o Ministério da Agricultura, os protocolos de manejo em ambientes silvestres como o zoológico diferem dos adotados em granjas comerciais. Ao contrário do que ocorreu no primeiro foco da doença no estado, registrado em Montenegro (RS), onde aves foram sacrificadas, os animais sobreviventes no parque de Sapucaia do Sul estão sendo apenas isolados e monitorados por veterinários.
A Seapi reforçou que não há risco de contágio da gripe aviária para a população humana por meio do consumo de alimentos, e que a transmissão direta entre aves e pessoas é rara. O órgão recomenda, porém, que qualquer contato com aves doentes ou mortas seja evitado e comunicado imediatamente às autoridades sanitárias.
Medidas
Em nota oficial, o ministro Carlos Fávaro afirmou que todas as medidas previstas no Plano Nacional de Contingência já estão sendo aplicadas para o rastreamento, contenção e erradicação da doença. “A prioridade do governo é garantir a segurança sanitária do rebanho, preservar a capacidade produtiva do setor e manter o abastecimento interno”, disse o ministro.
A influenza aviária de alta patogenicidade é uma doença viral que afeta principalmente aves, mas, de acordo com o Mapa, não há risco à saúde humana por meio do consumo de carne de aves ou ovos. “Os produtos brasileiros continuam seguros, e não há necessidade de restrição ao consumo”, ressaltou a pasta.
Este é o primeiro registro do vírus em uma granja comercial no Brasil, país que, até então, vinha mantendo a doença afastada de sua avicultura industrial — uma das mais robustas do mundo. Desde 2006, casos de IAAP têm sido registrados principalmente na Ásia, África e Europa, com surtos sazonais e perdas significativas para diversos países produtores.
O governo informou que notificou imediatamente a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), além de ministérios parceiros e representantes da cadeia produtiva. Também estão sendo mantidas comunicações com os principais mercados importadores da carne de frango brasileira, buscando garantir a continuidade das exportações.
Ao longo das últimas duas décadas, o Brasil investiu em medidas preventivas para proteger sua produção avícola, incluindo vigilância epidemiológica, monitoramento de aves silvestres, controle em fronteiras e capacitação constante de profissionais da área veterinária. Essas ações foram decisivas para adiar, por quase 20 anos, a entrada do vírus na produção comercial.
A confirmação do foco representa um desafio para o setor, que responde por uma parcela significativa das exportações agropecuárias do país. Entretanto, especialistas avaliam que, com a rápida resposta das autoridades sanitárias, os impactos tendem a ser limitados. “O histórico de controle sanitário do Brasil é sólido. Se o foco for contido como está sendo anunciado, o país tem todas as condições de manter a confiança dos mercados e da população”, afirma um técnico do setor que prefere não se identificar.
Apesar do alerta, o Mapa reitera que o risco de transmissão para humanos é baixo, principalmente a pessoas com contato direto e intenso com aves infectadas. A recomendação continua sendo o consumo apenas de produtos inspecionados e certificados, como já praticado amplamente no país. As autoridades seguem monitorando a situação e devem divulgar novas atualizações conforme o avanço das ações de contenção. A população é orientada a manter a tranquilidade e buscar informações apenas por canais oficiais.
Setor
A ABPA e a Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV) divulgaram uma nota conjunta ressaltando “a total transparência do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, juntamente com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul em relação à identificação, comunicação e contenção da situação, que é pontual”.
As entidades afirmaram que estão apoiando o MAPA e a Seapi no processo para conter a propagação da doença entre os rebanhos. “Todas as medidas necessárias para o contingenciamento da situação foram rapidamente adotadas, e a situação está sob controle e monitoramento dos órgãos governamentais.