
Subiu para 20 o número de países com importações de carne brasileira de frango suspensas, após a detecção de dois casos de gripe aviária no país. Em coletiva de imprensa, ontem, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, esclareceu que em vários desses casos, a interrupção das compras se deu porque partiu do Brasil a iniciativa de não emitir o certificado de exportação atestando que que o país não possui da doença, conforme determina o protocolo sanitário assinado com esses países.
Alguns países fecharam seus mercados para a carne de frango vinda de qualquer parte do país, outros apenas para a região Sul, outros ainda, apenas para o raio de 10 quilômetros onde o rebanho foi atingido.
Segundo Fávaro, caso não haja novos casos e hoje seja confirmada a desinfecções nas regiões onde foram registrados os dois primeiros, no Rio Grande do Sul, em 28 dias o país pode retomar o status de livre de gripe aviária, retomando as exportações. Esse é o prazo para o encerramento do foco da doença, de acordo com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). "Se não teve nenhum outro caso, nós podemos nos autodeclarar livres da dependência. Começa um reconhecimento", afirmou.
O ministro também informou o resultado negativo para a gripe aviária em três produções de subsistência onde havia a suspeita, nos municípios de Gracho Cardoso (SE), Nova Brasilândia (MT) e Triunfo (RS). Ainda estão em análise dois casos em granjas comerciais — Ipumirim (SC) e Aguiarnópolis (TO) — e e dois em uma produção de subsistência, em Salitre (CE) e Estância Velha (RS).
Os dados estão sendo atualizados constantemente no de monitoramento de síndromes respiratórias e nervosas em aves do Mapa e podem ser alterados hoje.
Fávaro explicou que a investigação de suspeitas da doença é corriqueira pelo sistema de defesa agropecuária brasileiro. "É o rigor do sistema ser eficiente e transparente. Com o decreto de emergência zoossanitária, o sistema está mais alerta. Todos os fiscais estão alerta, para qualquer tipo de suspeita", destacou.
Segundo o ministro, ao primeiro sintoma de um animal doente, o alerta é colocado no sistema. "Essa é a maior prova que o sistema está controlando os alertas com transparência. É por isso que o sistema brasileiro é tido como o melhor do mundo e logo voltaremos à normalidade", afirmou.
"O objetivo é restabelecer a normalidade. É importante fazer todo o bloqueio e rastreamento de tudo que saiu da granja onde o foco foi detectado porque, com a inutilização da produção, diminuímos muito o risco de novos casos", disse. "Se não houver nenhum novo caso em 28 dias, podemos dizer aos compradores e ao mercado que o país volta ao status de livre de gripe aviária", acrescentou.
Riscos para Humanos
Com relação ao risco de contaminação humana, o ministro disse que o país está adotando um protocolo específico. "O maior risco de contaminação ao ser humano é de quem manuseia. Os colaboradores da granja do foco estão isolados em processo de monitoramento. Não temos reportes de outros casos."
Ele voltou a dizer que a transmissão por ingestão é improvável. "Ninguém vai consumir carne de frango crua, nem ovos crus porque tem outros riscos, salmonella etc. (Portanto), é muito seguro continuar consumindo."
Exportações
Embora haja estimativas de que o país possa perder US$ 1 bilhão com as suspensões da importações, Fávaro afirmou que é difícil calcular o impacto, já que há medida em que os países percebem a desinfecção, voltam a importar. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 10 bilhões em carne de frango, representando 35% do comércio global. A China, Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos estão entre os principais destinos da produção brasileira, e qualquer sinal de instabilidade sanitária pode gerar restrições comerciais imediatas, como já ocorreu no ado com o Japão.
Para Pedro da Matta, CEO da Audax Capital, a situação expõe fragilidades logísticas e operacionais do setor e pode aumentar a necessidade de crédito emergencial por parte dos produtores.
"O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo, e episódios como esse, mesmo pontuais, têm repercussão global. Já há sinalizações de que alguns países podem rever temporariamente suas importações, o que tende a gerar um excedente de oferta no mercado interno. Isso pressiona os preços de itens como ovo e frango, reduzindo a margem de lucro dos produtores", explicou Matta.
Segundo Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, se o foco for contido e o Brasil mantiver transparência com os parceiros internacionais, a tendência é que os efeitos sejam limitados. "Em casos como esse, já vimos no ado que a sobreoferta de frango no mercado interno pode levar a uma redução pontual de preços, mas ainda é cedo para qualquer projeção concreta", avaliou.
Medidas de contenção
Para evitar maiores prejuízos às exportações brasileiras, as autoridades trabalham em medidas de isolamento sanitário. Como medida preventiva para conter a doença, toneladas de ovos foram destruídos em pelo menos três estados.
Incubatórios localizados em Minas Gerais, Paraná e no próprio Rio Grande do Sul receberam os ovos férteis provenientes da granja de Montenegro com foco de gripe aviária de alta patogenicidade. A granja, no entanto, produzia ovos fecundados destinados à produção de aves, não para o consumo.
O Mapa orientou a destruição do material como medida sanitária preventiva, seguindo o Plano Nacional de Contingência da Influenza Aviária. No Paraná, milhões de ovos estão sendo destruídos em um incubatório por meio da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). Em Minas Gerais, foram descartados 450 toneladas de ovos férteis rastreados da mesma origem, na região Centro-Oeste do estado.
Além disso, animais da granja em que o caso foi confirmado foram sacrificados. As autoridades têm trabalhado em medidas de isolamento sanitário para conter o foco e evitar maiores prejuízos às exportações brasileiras.
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