O estudante Edson Gabriel Dornelas, 18 anos, denunciou ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e ao Ministério Público ter sido prejudicado pelo atendimento especializado falho durante aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no último domingo (13). Edson tem baixa visão, deficiência intelectual e comprometimento motor fino (dificuldade para fazer atividades que requerem o uso coordenado dos dois lados do corpo). De acordo com a professora Kleyne Cristina, 47, mãe de Edson, o acompanhamento de profissionais que deveriam auxiliar o filho foi completamente inadequado.
Por ter múltiplas deficiências, o edital do Enem prevê a Edson o direito de acompanhamento de ledor, transcritor, prova ampliada e adicional de uma hora no tempo de prova. Segundo a mãe, os ledores, no entanto, não leram a prova de espanhol para o jovem. “A leitura do Edson é mais lenta e isso afeta a interpretação dele. Ele disse que a ledora não fez a leitura da prova de língua estrangeira porque não sabia falar espanhol”, relata Kleyene. Segundo ela, das 90 questões do exame, o filho conseguiu responder apenas 52.
Além da falta de leitura da prova, outro problema relatado por Edson foi a falta de auxílio dos profissionais na prova de redação. “Por ter comprometimento motor fino, seu movimento é mais lento e ele tem mais dificuldade para escrever. Na hora de fazer o rascunho da redação, escreveu tudo por conta própria e o transcritor redigiu o texto apenas na folha definitiva, ou seja, ele não apenas precisou gastar mais tempo escrevendo, mas pelo fato de a letra dele ser pouco legível, o profissional pode ter transcrito de forma incorreta”, explicou.
Assim que falou com o filho, Kleyne entrou em contato com a ouvidoria do Inep, que reconheceu o erro e garantiu que Edson terá direito a refazer uma nova prova neste domingo (20). A professora também entrou em contato com o Ministério Público, mas não obteve resposta.
Esta foi a primeira vez que Edson prestou o Enem. Depois que tomou conhecimento do ocorrido, ele diz ter se sentido chateado. “Na hora, eu estava feliz de ter chegado até ali. Porém, não sabia que tinha sido prejudicado. Na volta pra casa, conversei com minha mãe e descobri o que realmente aconteceu. Não desejo o que aconteceu comigo para ninguém”, frisou. “Espero que não só os meus, como os direitos de todas as pessoas com deficiência sejam respeitados.”
O sonho de Edson é seguir na área de agronomia e cursar gestão do agronegócio, devido ao gosto e à vivência que tem com o campo. “O Edson é um estudante esforçado, sempre procura fazer o máximo que pode dentro de suas capacidades. Ele está sempre buscando vencer barreiras e, por isso, o Estado precisa garantir seus direitos básicos”, argumenta a mãe do rapaz, afirmando, ainda, que o Inep deve ficar atento à escolha dos profissionais do atendimento especializado e se estão, de fato, sendo preparados para exercer a função.
O que diz o Inep 4h245w
A reportagem do Correio entrou em contato com Inep, que confirmou que o estudante Edson Gabriel Dornelas terá direito a participar da reaplicação do primeiro dia do Enem 2022. "A autarquia tomou conhecimento sobre as questões alusivas à execução da aplicação e apurou que houve falha da aplicadora contratada na condução do atendimento especializado. Em função disso, todas as medidas necessárias para resguardar os direitos do participante foram tomadas", diz a nota.
Conforme previsto no edital do exame, a reaplicação do primeiro dia de provas ocorrerá em 10 de janeiro. "O Instituto informa que implementou os ajustes necessários à solicitação de atendimento especializado do participante de forma a garantir que, no próximo domingo, 20 de novembro, o estudante receba todo o e que necessite para efetuar as provas do segundo dia."
Neste ano, o Inep aprovou 6.765 pedidos de auxílio para leitura, 5.755 de auxílio para transcrição e 4.313 de prova ampliada.
*Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende