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Em seus relatos, elas destacam que, d&eacute;cadas ap&oacute;s as conquistas estabelecidas na Constitui&ccedil;&atilde;o de 1988, as mulheres ainda enfrentam desafios, como a desigualdade salarial, obst&aacute;culos no mercado de trabalho, sub-representa&ccedil;&atilde;o em cargos de lideran&ccedil;a e &iacute;ndices alarmantes de viol&ecirc;ncia de g&ecirc;nero.</p> <p class="texto">A reportagem ouviu Sonia Guimar&atilde;es &mdash; primeira negra doutora em f&iacute;sica no Brasil e primeira negra professora no Instituto de Tecnologia Aeron&aacute;utica (ITA) &mdash;, a deputada federal Erika Hilton &mdash; primeira mulher trans e negra a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional &mdash;, a professora aposentada do Instituto de Geoci&ecirc;ncias da Universidade de Bras&iacute;lia M&aacute;rcia Abrah&atilde;o &mdash; primeira reitora da institui&ccedil;&atilde;o &mdash;, e a narradora esportiva Luciana Mariano &mdash; primeira brasileira a narrar uma partida de futebol. Confira, nesta edi&ccedil;&atilde;o, a trajet&oacute;ria profissional dessas pioneiras.</p> <h3>Sonia Guimar&atilde;es: "Sempre tinha algu&eacute;m dizendo que eu n&atilde;o servia"</h3> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/27/675x450/1_whatsapp_image_2025_03_26_at_21_30_13-48712006.jpeg" width="675" height="450" layout="responsive" alt="Sonia Guimar&atilde;es, 67 anos, foi a primeira negra doutora em f&iacute;sica no Brasil e primeira negra professora no ITA"></amp-img> <figcaption>Divulga&ccedil;&atilde;o - <b>Sonia Guimar&atilde;es, 67 anos, foi a primeira negra doutora em f&iacute;sica no Brasil e primeira negra professora no ITA</b></figcaption> </div></p> <p class="texto">Em um artigo publicado em 2018 no jornal O Globo, em parceria com a ONU Mulheres, o Fundo Elas, a Funda&ccedil;&atilde;o Carlos Chagas e o Instituto Unibanco, foi abordada a exclus&atilde;o das mulheres das ci&ecirc;ncias exatas e das tecnologias. Segundo o texto, essa exclus&atilde;o tem ra&iacute;zes na inf&acirc;ncia e no ambiente escolar, onde a socializa&ccedil;&atilde;o das meninas &eacute; fortemente orientada pelos papeis tradicionais de g&ecirc;nero. Isso perpetua a manuten&ccedil;&atilde;o das mulheres em posi&ccedil;&otilde;es subalternas, enquanto os homens ocupam posi&ccedil;&otilde;es de poder e prest&iacute;gio na sociedade.</p> <p class="texto">A primeira mulher negra doutora em f&iacute;sica no Brasil, Sonia Guimar&atilde;es, n&atilde;o escapou dessa realidade. Em relatos de sua trajet&oacute;ria, ela revela que o ingresso das mulheres negras nas ci&ecirc;ncias exatas e o desenvolvimento de suas carreiras s&atilde;o obst&aacute;culos ainda mais desafiadores. Sonia compartilha que, durante o ensino m&eacute;dio e a gradua&ccedil;&atilde;o, foi constantemente desmotivada, ouvindo que n&atilde;o se tornaria uma f&iacute;sica. "Sempre tinha algu&eacute;m dizendo que eu n&atilde;o servia, que n&atilde;o era inteligente o suficiente. Mas parece que essas palavras n&atilde;o se fixaram em mim. Definitivamente, n&atilde;o grudaram", afirma.</p> <ul> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:</strong> <a href="/opiniao/2023/05/5093360-visao-do-correio-as-mulheres-e-o-mercado-de-trabalho.html">Vis&atilde;o do Correio: As mulheres e o mercado de trabalho</a></li> </ul> <p class="texto">Al&eacute;m das dificuldades para entrar no meio acad&ecirc;mico, como a escassez de bolsas de p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o, Sonia destaca a falta de oportunidades no mercado de trabalho. "Eu nunca conheci um chefe do departamento de f&iacute;sica negro, todos os chefes s&atilde;o homens brancos e, na hora da contrata&ccedil;&atilde;o, eles preferem contratar homens brancos. Mesmo com doutorado, voc&ecirc; tenta trabalhar e n&atilde;o consegue. Isso &eacute; muito frustrante e desmotiva qualquer pessoa", lamenta. Ela ainda faz um apelo: "Continuo insistindo para que as meninas n&atilde;o desistam."</p> <p class="texto">Formada com PhD pela Universidade de Manchester, no Reino Unido, Sonia ingressou no corpo docente do Instituto Tecnol&oacute;gico de Aeron&aacute;utica (ITA) em 1993, em um momento em que a institui&ccedil;&atilde;o sequer aceitava mulheres entre seus alunos. Ela foi n&atilde;o s&oacute; a primeira mulher negra, mas tamb&eacute;m a primeira mulher no departamento de f&iacute;sica do instituto, onde se destacou com suas pesquisas sobre semicondutores e sensores de calor.</p> <p class="texto">Ao longo dos anos, sua trajet&oacute;ria acad&ecirc;mica e profissional se consolidou, levando-a a conquistar pr&ecirc;mios e homenagens. Em 2025, Sonia foi reconhecida pela revista Forbes como uma das mulheres mais poderosas do Brasil. Em 2023, foi eleita uma das 100 pessoas mais inovadoras da Am&eacute;rica Latina pela Bloomberg L&iacute;nea e recebeu a Medalha Santos Dumont de Honra ao M&eacute;rito pelos seus 30 anos de contribui&ccedil;&atilde;o no ITA.</p> <h3>M&aacute;rcia Abrah&atilde;o: "Os homens acham que n&oacute;s n&atilde;o sabemos o que estamos fazendo"</h3> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/27/675x450/1_whatsapp_image_2025_03_26_at_21_31_36-48712013.jpeg" width="675" height="450" layout="responsive" alt="M&aacute;rcia Abrah&atilde;o, 60, foi a primeira mulher a ocupar o cargo de reitora da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB)"></amp-img> <figcaption>Beto Monteiro/Secom UnB - <b>M&aacute;rcia Abrah&atilde;o, 60, foi a primeira mulher a ocupar o cargo de reitora da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB)</b></figcaption> </div></p> <p class="texto">A express&atilde;o "teto de vidro" ou "glass ceiling", usada pela primeira vez pela norte-americana Marilyn Loden na d&eacute;cada de 1970, faz refer&ecirc;ncia aos obst&aacute;culos que impedem que mulheres cheguem aos cargos de lideran&ccedil;a onde trabalham independentemente das suas qualifica&ccedil;&otilde;es. Uma pesquisa da Universidade de Bras&iacute;lia (UnB)&nbsp; sistematizou os principais obst&aacute;culos enfrentados por mulheres para ocupar cargos da alta gest&atilde;o na istra&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica federal. O estudo entrevistou 70 mulheres que ocupam ou j&aacute; ocuparam esses postos.</p> <p class="texto">Segundo a pesquisa, os principais desafios enfretados por mulheres no ambiente de trabalho pelo fato de ser s&atilde;o: discrimina&ccedil;&atilde;o por g&ecirc;nero (160 men&ccedil;&otilde;es), ass&eacute;dio moral (120 men&ccedil;&otilde;es) e a sobrecarga de trabalho dom&eacute;stio (mais de 120 men&ccedil;&otilde;es). J&aacute; em rela&ccedil;&atilde;o aos fatores que dificultam a ascen&ccedil;&atilde;o a um cargo de chefia, as mulheres citaram a discrimina&ccedil;&atilde;o por g&ecirc;nero, dificuldades em conciliar o trabalho com a maternidade e a sobrecarga de trabalho dom&eacute;stico.&nbsp;</p> <ul> <li><strong><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong></strong><a href="/cidades-df/2025/03/7082263-participacao-das-mulheres-no-mercado-de-trabalho-aumenta-em-2024-no-df.html">Participa&ccedil;&atilde;o das mulheres no mercado de trabalho aumenta em 2024 no DF</a></li> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/cidades-df/2025/03/7082502-mulheres-ainda-sao-minoria-nos-postos-de-trabalho-do-df-revela-pesquisa.html">Mulheres ainda s&atilde;o minoria nos postos de trabalho do DF, revela pesquisa</a></li> </ul> <p class="texto">Essa demora para uma mulher ser promovida a cargo de lideran&ccedil;as &eacute; notada na hist&oacute;ria da Universidade de Bras&iacute;lia, tendo em vista que a primeira reitora da institui&ccedil;&atilde;o, a professora e pesquisadora M&aacute;rcia Abrah&atilde;o, foi eleita em 2016. Ela ocupou o cargo durante dois mandatos, sendo o &uacute;ltimo finalizado em 2024. Segundo a docente, ocupar o cargo m&aacute;ximo da universidade foi uma consequ&ecirc;ncia natural. Ela tamb&eacute;m credita essa conquista ao trabalho desempenhado na universidade</p> <p class="texto">A rela&ccedil;&atilde;o de M&aacute;rcia com a UnB &eacute; desde 1982, quando ingressou no curso de geologia. Durante esse per&iacute;odo, a professora intercalou as atividades acad&ecirc;micas &mdash; fez mestrado e doutorado na UnB &mdash; com as istrativas. Ao longo de sua trajet&oacute;ria profissional e acad&ecirc;mica, enfrentou frequentemente o machismo, at&eacute; mesmo como reitora. "Como eu sou ge&oacute;loga e fui a primeira diretora do Instituto de Geoci&ecirc;ncias (IG) eleita, eu j&aacute; estava acostumada com o mundo dominado por homens e para homens."&nbsp;</p> <ul> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/euestudante/trabalho-e-formacao/2024/03/6811245-dia-internacional-da-mulher-conheca-7-profissionais-de-sucesso.html">Conhe&ccedil;a profissionais brasileiras de sucesso</a></li> </ul> <p class="texto">A ex-reitora relata que a sociedade lida de v&aacute;rias maneiras com as mulheres que atravessam o chamado "teto de vidro". H&aacute; quem branda com a conquista &mdash; e, segundo ela, isso abre portas &mdash;, mas tamb&eacute;m existe uma cobran&ccedil;a maior quando se comparado a homens que ocupam a mesma posi&ccedil;&atilde;o. "N&atilde;o &eacute; f&aacute;cil ser mulher em cargos de poder. Os homens acham que n&oacute;s n&atilde;o sabemos o que estamos fazendo. O tempo inteiro voc&ecirc; &eacute; observada, avaliada, e se n&oacute;s formos mais assertivas, somos chamadas de muito grosseiras. J&aacute; os homens, se eles s&atilde;o mais assertivos, s&atilde;o vistos como firmes", pontua.</p> <p class="texto">Sobre a import&acirc;ncia da presen&ccedil;a feminina em cargos de lideran&ccedil;a, ela ressalta o exemplo que fica para outras meninas "mostrando para as mulheres onde elas podem chegar". Ela tamb&eacute;m chama aten&ccedil;&atilde;o para o fato de que essa presen&ccedil;a n&atilde;o "necessariamente significa que a mulher vai fazer uma gest&atilde;o que honre as mulheres". Entre as diversas a&ccedil;&otilde;es voltadas &agrave; equidade intu&iacute;das em sua gest&atilde;o, M&aacute;rcia destaca a cria&ccedil;&atilde;o de uma creche e da sala de amamenta&ccedil;&atilde;o na universidade e a amplia&ccedil;&atilde;o do tempo de p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o. "Eu me orgulho bastante de todo esse legado e espero que tenha continuidade."</p> <h3>Erika Hilton:&nbsp;"A presen&ccedil;a das mulheres&nbsp;na pol&iacute;tica &eacute; uma conquista hist&oacute;rica de luta"</h3> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/27/675x450/1_whatsapp_image_2025_03_26_at_21_30_12-48712004.jpeg" width="675" height="450" layout="responsive" alt="Erika Hilton, 32 anos, foi a primeira deputada federal negra e trans eleita na hist&oacute;ria do Brasil "></amp-img> <figcaption>Divulga&ccedil;&atilde;o - <b>Erika Hilton, 32 anos, foi a primeira deputada federal negra e trans eleita na hist&oacute;ria do Brasil </b></figcaption> </div></p> <p class="texto">Quase 100 anos depois da conquista do voto feminino no Brasil, dados da Uni&atilde;o Interparlamentar (UIP) mostram que pouco se avan&ccedil;ou em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; igualdade entre homens e mulheres. Segundo o levantamento, com a quantidade de mulheres eleitas ao Congresso a cada quatro anos, ser&atilde;o necess&aacute;rios 80 anos para que se atinja a equidade de g&ecirc;nero no Senado e na C&acirc;mara. Ainda de acordo com o relat&oacute;rio, o Brasil figura na 133&ordf; coloca&ccedil;&atilde;o no ranking de representatividade nos Parlamentos.&nbsp;</p> <p class="texto">Em 2022, foi registrado o melhor desempenho de mulheres eleitas no Congresso Nacional, contudo, as mulheres ocupam nem a metade dos espa&ccedil;os de poder na C&acirc;mara dos Deputados e no Senado Federal, mesmo representando 52% do eleitorado brasileiro. Das 513 cadeiras de deputados, 91 foram ocupadas por mulheres (18%). No caso do Senado, entre os 27 deputados eleitos, apenas quatro eram mulheres (14%).&nbsp;</p> <ul> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/euestudante/trabalho-e-formacao/2024/04/6832331-mulheres-sao-minoria-em-cargos-de-chefia-do-executivo-federal.html">Mulheres s&atilde;o minoria em cargos de chefia do Executivo Federal, aponta levantamento</a></li> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/euestudante/concursos/2024/03/6815450-servico-publico-mulheres-sao-quase-metade-mas-ascensao-e-mais-dificil.html">Servi&ccedil;o p&uacute;blico: mulheres s&atilde;o quase metade, mas ascens&atilde;o &eacute; mais dif&iacute;cil</a></li> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/euestudante/trabalho-e-formacao/2024/11/6993784-veja-as-barreiras-para-ascensao-de-mulheres-no-executivo-federal.html">Conhe&ccedil;a as barreiras para a ascens&atilde;o de mulheres no Executivo federal</a></li> </ul> <p class="texto">Do quantitativo de mulheres eleitas na C&acirc;mara, duas s&atilde;o trans, fato in&eacute;dito no Congresso. Uma delas &eacute; Erika Hilton &mdash; a primeira deputada federal negra e trans eleita na hist&oacute;ria do pa&iacute;s e tamb&eacute;m a primeira parlamentar transexual a liderar uma bancada no Legislativo. Anos antes, em 2020, ela tamb&eacute;m conquistou o feito de ser primeira mulher transg&ecirc;nero eleita vereadora em S&atilde;o Paulo e a mulher mais votada do Brasil, com 50.508 votos.&nbsp;</p> <p class="texto">Segundo a deputada, tornar-se um dos principais nomes da pol&iacute;tica nacional n&atilde;o foi algo imaginado, mas, sim, constru&iacute;do. "Eu era uma travesti negra vinda da periferia, expulsa de casa, vivenciado a prostitui&ccedil;&atilde;o, trazendo a sua hist&oacute;ria de vida, os seus desafios como plataforma de enfrentamento &agrave; desigualdade, ao fascismo, ao preconceito, &agrave; intoler&acirc;ncia e num momento aonde parecia que o mundo estava virando as costas para essas agendas, em especial no Brasil."&nbsp;</p> <p class="texto">Detentora de uma orat&oacute;ria elogiada e dita como forte, a deputada diz ser um "desafio gigantesco" ser ouvida em um Congresso descrito por ela como "silenciador, machista&nbsp;e transf&oacute;bico". "&Eacute; muito dif&iacute;cil porque tentam silenciar a minha voz o tempo todo, seja atrav&eacute;s das amea&ccedil;as de morte que fazem, seja atrav&eacute;s dos afrontes dentro da pr&oacute;pria C&acirc;mara, mas eu me mantenho de p&eacute;, falando, gritando quando necess&aacute;rio e bradando, porque a&nbsp;minha voz e o meu grito n&atilde;o s&atilde;o s&oacute; meus", diz Erika.</p> <p class="texto"><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/opiniao/2024/03/6815284-artigo-inclusao-e-equidade-no-mercado-de-trabalho-uma-agenda-nacional.html">Artigo: Inclus&atilde;o e equidade no mercado de trabalho: uma agenda nacional</a></p> <p class="texto">A parlamentar afirma que n&atilde;o deseja ser inserida em uma "caixinha", pois foi eleita n&atilde;o apenas para representar a comunidade LGBTQIA+, mas, sim, para defender um projeto de pa&iacute;s que acolha todos os brasileiros. "Eu n&atilde;o sou a deputada das trans, dos gays, das mulheres, dos negros e negras. Eu sou deputada do Brasil. Minha preocupa&ccedil;&atilde;o &eacute; com o pa&iacute;s como um todo", explica.&nbsp;</p> <p class="texto">Atualmente, Erika busca aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que acaba com a escala de trabalho 6x1. A PEC foi protocolada em fevereiro, ap&oacute;s a deputada reunir 234 s, inclusive, de outros espectros pol&iacute;ticos. "Eu me sinto honrada, feliz e fazendo um trabalho importante de conscientiza&ccedil;&atilde;o no pa&iacute;s, pois tratar sobre identidade &eacute; tamb&eacute;m tratar sobre essas pautas", defende</p> <h3>Luciana Mariano:&nbsp;"A gente pode, sim, ficar velha, como os caras ficam e sermos prestigiadas do jeito que eles s&atilde;o"</h3> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/27/675x450/1_whatsapp_image_2025_03_26_at_21_30_12__3_-48712002.jpeg" width="675" height="449" layout="responsive" alt="Primeira narradora de futebol da televis&atilde;o brasileira, Luciana Mariano, 49, trabalha nos canais ESPN "></amp-img> <figcaption>Arquivo pessoal - <b>Primeira narradora de futebol da televis&atilde;o brasileira, Luciana Mariano, 49, trabalha nos canais ESPN </b></figcaption> </div></p> <p class="texto">A participa&ccedil;&atilde;o de homens e mulheres na for&ccedil;a de trabalho no Brasil ainda &eacute; desigual. De acordo com o &uacute;ltimo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE), referente a 2022, 53,3% das mulheres est&atilde;o inseridas no mercado de trabalho, enquanto a taxa masculina &eacute; de 73,2%. O estudo tamb&eacute;m revela uma disparidade salarial para fun&ccedil;&otilde;es equivalentes: mulheres em cargos de ger&ecirc;ncia recebiam, em m&eacute;dia, R$ 6.600, valor 21,2% inferior ao rendimento dos homens, que era de R$ 8.378.</p> <ul> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/brasil/2024/09/6945293-mulheres-ganham-em-media-20-menos-do-que-homens-no-brasil.html">Mulheres ganham em m&eacute;dia 20% menos do que homens no Brasil</a></li> </ul> <p class="texto">Essa disparidade de g&ecirc;nero fez com que Luciana Mariano, a primeira mulher a narrar um jogo de futebol no Brasil, tivesse de congelar parte da carreira por cerca de duas d&eacute;cadas. "Me afastei da narra&ccedil;&atilde;o n&atilde;o porque eu queria, mas por falta de oportunidade. A&iacute;, quando ESPN me contratou, outras emissoras falaram: 'Epa, n&oacute;s temos que ter tamb&eacute;m'. E a gente tem, pela primeira vez na hist&oacute;ria da humanidade, uma safra inteira de narradoras que est&atilde;o espalhadas pelas emissoras e pelos canais de streaming."</p> <p class="texto">Quase 30 anos depois de sua estreia na narra&ccedil;&atilde;o, Luciana diz que tem consci&ecirc;ncia da import&acirc;ncia daquele feito. "Hoje, quando olho para aquela Luciana, eu penso: 'Gente, eu n&atilde;o sabia nada' e fiz. Mas assim, demandou muita coragem, muito esfor&ccedil;o. &Eacute; claro que eu n&atilde;o tinha o imediato como eu tenho hoje nas redes sociais, mas ainda assim, eu sabia que estava fazendo uma coisa que nunca uma mulher tinha feito, ent&atilde;o a press&atilde;o era gigante", relata a comunicadora.</p> <p class="texto">Tamb&eacute;m na luta contra o etarismo, Luciana afirma que a "estrutura" exige que as mulheres precisam ser bonitas e jovens.&nbsp; "A gente pode, sim, ficar velha, como os caras ficam, e ser prestigiada do jeito que eles s&atilde;o. Um cara com 33 anos de carreira, certamente, acumulou um bom patrim&ocirc;nio durante a vida. E se voc&ecirc; comparar com o que eu acumulei, &eacute; rid&iacute;culo. Ent&atilde;o, proporcionalmente, a vida de narradora n&atilde;o &eacute; igual &agrave; vida de um narrador."</p> <h3>Direito das mulheres no Brasil</h3> <p class="texto">A Constitui&ccedil;&atilde;o Federal de 1988 foi a primeira a assegurar a igualdade de g&ecirc;nero perante a lei, fruto de mobiliza&ccedil;&atilde;o por parte de um grupo de parlamentares conhecido como "Bancada do Batom" &mdash; composto por 26 deputadas e senadoras eleitas em 1986 para a Assembleia Nacional Constituinte &mdash; durante o processo de elabora&ccedil;&atilde;o do novo texto constitucional.</p> <p class="texto">&Agrave; &eacute;poca, elas redigiram uma carta que simboliza o elo entre o Poder Legislativo e os movimentos sociais feministas. O texto, elaborado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e apresentado ao presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimar&atilde;es, listava as principais reivindica&ccedil;&otilde;es da luta feminina no pa&iacute;s.</p> <ul> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/politica/2025/03/7085373-mulheres-e-democracia-a-luta-que-ainda-nao-acabou.html">Mulheres e democracia: a luta que ainda n&atilde;o acabou</a></li> <li><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/opiniao/2025/03/7079049-dia-da-mulher-e-de-cobranca-nao-de-festa.html">Dia da Mulher &eacute; de cobran&ccedil;a, n&atilde;o de festa</a></li> <li class="amp-title"><strong>Leia tamb&eacute;m:&nbsp;</strong><a href="/mundo/2025/03/amp/7079557-mobilizacao-mundial-pelo-dia-internacional-dos-direitos-das-mulheres.html">Mobiliza&ccedil;&atilde;o mundial pelo Dia Internacional dos Direitos das Mulheres</a></li> </ul> <p class="texto">Cerca de 80% das propostas contidas nesse documento foram incorporadas ao texto constitucional, garantindo &agrave;s mulheres importantes direitos, como a licen&ccedil;a-maternidade de 120 dias, a prote&ccedil;&atilde;o no mercado de trabalho e a proibi&ccedil;&atilde;o de discrimina&ccedil;&atilde;o salarial, de o a fun&ccedil;&otilde;es e de crit&eacute;rios de iss&atilde;o.</p> <p class="texto">Al&eacute;m disso, a nova legisla&ccedil;&atilde;o estabeleceu novas responsabilidades para o Estado brasileiro, criando a obriga&ccedil;&atilde;o de implementar pol&iacute;ticas p&uacute;blicas voltadas para a prote&ccedil;&atilde;o e promo&ccedil;&atilde;o dos direitos das mulheres na sociedade. Um trecho da carta dizia: "N&oacute;s, mulheres, estamos conscientes que este pa&iacute;s s&oacute; ser&aacute; verdadeiramente democr&aacute;tico e seus cidad&atilde;os e cidad&atilde;s verdadeiramente livres quando, sem preju&iacute;zo de sexo, ra&ccedil;a, cor, classe, orienta&ccedil;&atilde;o sexual, credo politico ou religioso, condi&ccedil;&atilde;o f&iacute;sica ou idade, for garantido igual tratamento e igual oportunidade de o &agrave;s ruas, palanques, oficinas, f&aacute;bricas, escrit&oacute;rios, assembleias e pal&aacute;cios."</p> <p class="texto"><div class="read-more"> <h4>Saiba Mais</h4> <ul> <li> <a href="/cidades-df/2025/03/7093171-conheca-trajetoria-de-jovem-ceilandense-aprovado-em-curso-de-stanford.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/27/20-48711682.jpg?20250327222318" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Ensino superior</strong> <span>Conheça trajetória de jovem ceilandense aprovado em curso de Stanford</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/euestudante/ensino-superior/2025/03/7095531-palestra-com-rita-von-hunty-reune-estudantes-na-unb.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/27/rita_von_hunty__1_-48710368.jpg?20250327192920" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Ensino superior</strong> <span>Palestra com Rita Von Hunty reúne mais de mil estudantes na UnB </span> </div> </a> </li> <li> <a href="/euestudante/educacao-basica/2025/03/7093095-cne-publica-diretrizes-para-educacao-digital-e-uso-de-celular.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/25/celulares-48563662.jpeg" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Educação básica</strong> <span>CNE publica diretrizes para educação digital e uso de celular</span> </div> </a> </li> </ul> </div></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": { "url": "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/03/29/675x450/1_pri_3003_pioneiras-48844023.jpg?20250329225634?20250329225634", "width": 820, "@type": "ImageObject", "height": 490 }, "author": [ { "@type": "Person", "name": "Raphaela Peixoto" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=http%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } } s3q5r

Eu, Estudante 5g255w

PIONEIRAS

A trajetória de brasileiras que transformaram o mercado e fomentaram a equidade 226r35

Para fechar o Mês das Mulheres, o Correio entrevistou quatro referências que conquistaram lugares antes inimagináveis para a parcela feminina no país, pavimentando caminhos e abrindo portas para inúmeras outras brilharem na vida profissional 53n4

No mês em que se fomenta a luta das mulheres por direito e equidade de gênero, o Correio reuniu a trajetória de mulheres pioneiras no país. Em seus relatos, elas destacam que, décadas após as conquistas estabelecidas na Constituição de 1988, as mulheres ainda enfrentam desafios, como a desigualdade salarial, obstáculos no mercado de trabalho, sub-representação em cargos de liderança e índices alarmantes de violência de gênero.

A reportagem ouviu Sonia Guimarães — primeira negra doutora em física no Brasil e primeira negra professora no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) —, a deputada federal Erika Hilton — primeira mulher trans e negra a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional —, a professora aposentada do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília Márcia Abrahão — primeira reitora da instituição —, e a narradora esportiva Luciana Mariano — primeira brasileira a narrar uma partida de futebol. Confira, nesta edição, a trajetória profissional dessas pioneiras.

Sonia Guimarães: "Sempre tinha alguém dizendo que eu não servia" 1u195p

Divulgação - Sonia Guimarães, 67 anos, foi a primeira negra doutora em física no Brasil e primeira negra professora no ITA

Em um artigo publicado em 2018 no jornal O Globo, em parceria com a ONU Mulheres, o Fundo Elas, a Fundação Carlos Chagas e o Instituto Unibanco, foi abordada a exclusão das mulheres das ciências exatas e das tecnologias. Segundo o texto, essa exclusão tem raízes na infância e no ambiente escolar, onde a socialização das meninas é fortemente orientada pelos papeis tradicionais de gênero. Isso perpetua a manutenção das mulheres em posições subalternas, enquanto os homens ocupam posições de poder e prestígio na sociedade.

A primeira mulher negra doutora em física no Brasil, Sonia Guimarães, não escapou dessa realidade. Em relatos de sua trajetória, ela revela que o ingresso das mulheres negras nas ciências exatas e o desenvolvimento de suas carreiras são obstáculos ainda mais desafiadores. Sonia compartilha que, durante o ensino médio e a graduação, foi constantemente desmotivada, ouvindo que não se tornaria uma física. "Sempre tinha alguém dizendo que eu não servia, que não era inteligente o suficiente. Mas parece que essas palavras não se fixaram em mim. Definitivamente, não grudaram", afirma.

Além das dificuldades para entrar no meio acadêmico, como a escassez de bolsas de pós-graduação, Sonia destaca a falta de oportunidades no mercado de trabalho. "Eu nunca conheci um chefe do departamento de física negro, todos os chefes são homens brancos e, na hora da contratação, eles preferem contratar homens brancos. Mesmo com doutorado, você tenta trabalhar e não consegue. Isso é muito frustrante e desmotiva qualquer pessoa", lamenta. Ela ainda faz um apelo: "Continuo insistindo para que as meninas não desistam."

Formada com PhD pela Universidade de Manchester, no Reino Unido, Sonia ingressou no corpo docente do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1993, em um momento em que a instituição sequer aceitava mulheres entre seus alunos. Ela foi não só a primeira mulher negra, mas também a primeira mulher no departamento de física do instituto, onde se destacou com suas pesquisas sobre semicondutores e sensores de calor.

Ao longo dos anos, sua trajetória acadêmica e profissional se consolidou, levando-a a conquistar prêmios e homenagens. Em 2025, Sonia foi reconhecida pela revista Forbes como uma das mulheres mais poderosas do Brasil. Em 2023, foi eleita uma das 100 pessoas mais inovadoras da América Latina pela Bloomberg Línea e recebeu a Medalha Santos Dumont de Honra ao Mérito pelos seus 30 anos de contribuição no ITA.

Márcia Abrahão: "Os homens acham que nós não sabemos o que estamos fazendo" 28456g

Beto Monteiro/Secom UnB - Márcia Abrahão, 60, foi a primeira mulher a ocupar o cargo de reitora da Universidade de Brasília (UnB)

A expressão "teto de vidro" ou "glass ceiling", usada pela primeira vez pela norte-americana Marilyn Loden na década de 1970, faz referência aos obstáculos que impedem que mulheres cheguem aos cargos de liderança onde trabalham independentemente das suas qualificações. Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB)  sistematizou os principais obstáculos enfrentados por mulheres para ocupar cargos da alta gestão na istração pública federal. O estudo entrevistou 70 mulheres que ocupam ou já ocuparam esses postos.

Segundo a pesquisa, os principais desafios enfretados por mulheres no ambiente de trabalho pelo fato de ser são: discriminação por gênero (160 menções), assédio moral (120 menções) e a sobrecarga de trabalho doméstio (mais de 120 menções). Já em relação aos fatores que dificultam a ascenção a um cargo de chefia, as mulheres citaram a discriminação por gênero, dificuldades em conciliar o trabalho com a maternidade e a sobrecarga de trabalho doméstico. 

Essa demora para uma mulher ser promovida a cargo de lideranças é notada na história da Universidade de Brasília, tendo em vista que a primeira reitora da instituição, a professora e pesquisadora Márcia Abrahão, foi eleita em 2016. Ela ocupou o cargo durante dois mandatos, sendo o último finalizado em 2024. Segundo a docente, ocupar o cargo máximo da universidade foi uma consequência natural. Ela também credita essa conquista ao trabalho desempenhado na universidade

A relação de Márcia com a UnB é desde 1982, quando ingressou no curso de geologia. Durante esse período, a professora intercalou as atividades acadêmicas — fez mestrado e doutorado na UnB — com as istrativas. Ao longo de sua trajetória profissional e acadêmica, enfrentou frequentemente o machismo, até mesmo como reitora. "Como eu sou geóloga e fui a primeira diretora do Instituto de Geociências (IG) eleita, eu já estava acostumada com o mundo dominado por homens e para homens." 

A ex-reitora relata que a sociedade lida de várias maneiras com as mulheres que atravessam o chamado "teto de vidro". Há quem branda com a conquista — e, segundo ela, isso abre portas —, mas também existe uma cobrança maior quando se comparado a homens que ocupam a mesma posição. "Não é fácil ser mulher em cargos de poder. Os homens acham que nós não sabemos o que estamos fazendo. O tempo inteiro você é observada, avaliada, e se nós formos mais assertivas, somos chamadas de muito grosseiras. Já os homens, se eles são mais assertivos, são vistos como firmes", pontua.

Sobre a importância da presença feminina em cargos de liderança, ela ressalta o exemplo que fica para outras meninas "mostrando para as mulheres onde elas podem chegar". Ela também chama atenção para o fato de que essa presença não "necessariamente significa que a mulher vai fazer uma gestão que honre as mulheres". Entre as diversas ações voltadas à equidade intuídas em sua gestão, Márcia destaca a criação de uma creche e da sala de amamentação na universidade e a ampliação do tempo de pós-graduação. "Eu me orgulho bastante de todo esse legado e espero que tenha continuidade."

Erika Hilton: "A presença das mulheres na política é uma conquista histórica de luta" 16405t

Divulgação - Erika Hilton, 32 anos, foi a primeira deputada federal negra e trans eleita na história do Brasil

Quase 100 anos depois da conquista do voto feminino no Brasil, dados da União Interparlamentar (UIP) mostram que pouco se avançou em relação à igualdade entre homens e mulheres. Segundo o levantamento, com a quantidade de mulheres eleitas ao Congresso a cada quatro anos, serão necessários 80 anos para que se atinja a equidade de gênero no Senado e na Câmara. Ainda de acordo com o relatório, o Brasil figura na 133ª colocação no ranking de representatividade nos Parlamentos. 

Em 2022, foi registrado o melhor desempenho de mulheres eleitas no Congresso Nacional, contudo, as mulheres ocupam nem a metade dos espaços de poder na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, mesmo representando 52% do eleitorado brasileiro. Das 513 cadeiras de deputados, 91 foram ocupadas por mulheres (18%). No caso do Senado, entre os 27 deputados eleitos, apenas quatro eram mulheres (14%). 

Do quantitativo de mulheres eleitas na Câmara, duas são trans, fato inédito no Congresso. Uma delas é Erika Hilton — a primeira deputada federal negra e trans eleita na história do país e também a primeira parlamentar transexual a liderar uma bancada no Legislativo. Anos antes, em 2020, ela também conquistou o feito de ser primeira mulher transgênero eleita vereadora em São Paulo e a mulher mais votada do Brasil, com 50.508 votos. 

Segundo a deputada, tornar-se um dos principais nomes da política nacional não foi algo imaginado, mas, sim, construído. "Eu era uma travesti negra vinda da periferia, expulsa de casa, vivenciado a prostituição, trazendo a sua história de vida, os seus desafios como plataforma de enfrentamento à desigualdade, ao fascismo, ao preconceito, à intolerância e num momento aonde parecia que o mundo estava virando as costas para essas agendas, em especial no Brasil." 

Detentora de uma oratória elogiada e dita como forte, a deputada diz ser um "desafio gigantesco" ser ouvida em um Congresso descrito por ela como "silenciador, machista e transfóbico". "É muito difícil porque tentam silenciar a minha voz o tempo todo, seja através das ameaças de morte que fazem, seja através dos afrontes dentro da própria Câmara, mas eu me mantenho de pé, falando, gritando quando necessário e bradando, porque a minha voz e o meu grito não são só meus", diz Erika.

Leia também: Artigo: Inclusão e equidade no mercado de trabalho: uma agenda nacional

A parlamentar afirma que não deseja ser inserida em uma "caixinha", pois foi eleita não apenas para representar a comunidade LGBTQIA+, mas, sim, para defender um projeto de país que acolha todos os brasileiros. "Eu não sou a deputada das trans, dos gays, das mulheres, dos negros e negras. Eu sou deputada do Brasil. Minha preocupação é com o país como um todo", explica. 

Atualmente, Erika busca aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que acaba com a escala de trabalho 6x1. A PEC foi protocolada em fevereiro, após a deputada reunir 234 s, inclusive, de outros espectros políticos. "Eu me sinto honrada, feliz e fazendo um trabalho importante de conscientização no país, pois tratar sobre identidade é também tratar sobre essas pautas", defende

Luciana Mariano: "A gente pode, sim, ficar velha, como os caras ficam e sermos prestigiadas do jeito que eles são" 1c4l4b

Arquivo pessoal - Primeira narradora de futebol da televisão brasileira, Luciana Mariano, 49, trabalha nos canais ESPN

A participação de homens e mulheres na força de trabalho no Brasil ainda é desigual. De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a 2022, 53,3% das mulheres estão inseridas no mercado de trabalho, enquanto a taxa masculina é de 73,2%. O estudo também revela uma disparidade salarial para funções equivalentes: mulheres em cargos de gerência recebiam, em média, R$ 6.600, valor 21,2% inferior ao rendimento dos homens, que era de R$ 8.378.

Essa disparidade de gênero fez com que Luciana Mariano, a primeira mulher a narrar um jogo de futebol no Brasil, tivesse de congelar parte da carreira por cerca de duas décadas. "Me afastei da narração não porque eu queria, mas por falta de oportunidade. Aí, quando ESPN me contratou, outras emissoras falaram: 'Epa, nós temos que ter também'. E a gente tem, pela primeira vez na história da humanidade, uma safra inteira de narradoras que estão espalhadas pelas emissoras e pelos canais de streaming."

Quase 30 anos depois de sua estreia na narração, Luciana diz que tem consciência da importância daquele feito. "Hoje, quando olho para aquela Luciana, eu penso: 'Gente, eu não sabia nada' e fiz. Mas assim, demandou muita coragem, muito esforço. É claro que eu não tinha o imediato como eu tenho hoje nas redes sociais, mas ainda assim, eu sabia que estava fazendo uma coisa que nunca uma mulher tinha feito, então a pressão era gigante", relata a comunicadora.

Também na luta contra o etarismo, Luciana afirma que a "estrutura" exige que as mulheres precisam ser bonitas e jovens.  "A gente pode, sim, ficar velha, como os caras ficam, e ser prestigiada do jeito que eles são. Um cara com 33 anos de carreira, certamente, acumulou um bom patrimônio durante a vida. E se você comparar com o que eu acumulei, é ridículo. Então, proporcionalmente, a vida de narradora não é igual à vida de um narrador."

Direito das mulheres no Brasil r5c6n

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a assegurar a igualdade de gênero perante a lei, fruto de mobilização por parte de um grupo de parlamentares conhecido como "Bancada do Batom" — composto por 26 deputadas e senadoras eleitas em 1986 para a Assembleia Nacional Constituinte — durante o processo de elaboração do novo texto constitucional.

À época, elas redigiram uma carta que simboliza o elo entre o Poder Legislativo e os movimentos sociais feministas. O texto, elaborado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e apresentado ao presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, listava as principais reivindicações da luta feminina no país.

Cerca de 80% das propostas contidas nesse documento foram incorporadas ao texto constitucional, garantindo às mulheres importantes direitos, como a licença-maternidade de 120 dias, a proteção no mercado de trabalho e a proibição de discriminação salarial, de o a funções e de critérios de issão.

Além disso, a nova legislação estabeleceu novas responsabilidades para o Estado brasileiro, criando a obrigação de implementar políticas públicas voltadas para a proteção e promoção dos direitos das mulheres na sociedade. Um trecho da carta dizia: "Nós, mulheres, estamos conscientes que este país só será verdadeiramente democrático e seus cidadãos e cidadãs verdadeiramente livres quando, sem prejuízo de sexo, raça, cor, classe, orientação sexual, credo politico ou religioso, condição física ou idade, for garantido igual tratamento e igual oportunidade de o às ruas, palanques, oficinas, fábricas, escritórios, assembleias e palácios."