
Em meio a uma pressão global, o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, poderia realizar e ampliar o esforço diplomático no sentido de um cessar-fogo humanitário na Faixa de Gaza, além de demonstrar mais o compromisso com a solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina. Essas declarações foram feitas em editorial do jornal norte-americano The New York Times, publicado no sábado (24/2), com o título Um apelo dos EUA a um cessar-fogo humanitário em Gaza é um o necessário. O texto também criticou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, descrevendo-o como um "obstáculo a qualquer tipo de paz duradoura".
"Esta guerra, no seu curso atual, está levando ao assassinato em massa de palestinos, enquanto o Hamas ganha posição internacional e os restantes reféns israelenses permanecem cativos. Os Estados Unidos, como o mais importante aliado e fonte de ajuda militar de Israel, deveriam assumir a liderança na mudança desta situação", defende o jornal.
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No editorial, o The New York Times avalia que Biden teve razão ao demonstrar simpatia e apoio a Israel após o ataque do Hamas em 7 de outubro, mas que uma resolução de cessar-fogo, ainda que temporária, deixaria claro que o apoio duradouro dos Estados Unidos a Israel não se estende "às piores políticas" do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
"Todos os esforços dos EUA para controlar o ataque israelense foram rejeitados pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ou bloqueados por exigências inaceitáveis do Hamas. Netanyahu, em particular, tem estado mais preocupado em satisfazer os parceiros de extrema-direita e de coligação religiosa que o mantêm no poder. Na sexta-feira, ele divulgou um documento de posição para Gaza do pós-guerra que permite o controle militar indefinido por Israel, beneficiando sua base de apoiadores e ao mesmo tempo irritando os palestinos", pontua o editorial.
"Isto complica o trabalho dos Estados Unidos e dos estados árabes moderados, que estão a tentar arquitetar um plano para 'depois de Gaza', um o crucial para garantir que Gaza tenha uma oportunidade de estabilidade quando os combates cessarem. Embora nenhum detalhe tenha sido tornado público, o plano, que não faz parte da proposta de resolução do Conselho de Segurança, apela à ajuda internacional na reconstrução da devastada Faixa de Gaza, à formação de um governo funcional e livre do Hamas na Cisjordânia e em Gaza, a normalização das relações israelitas com a Arábia Saudita e um roteiro para um estado desmilitarizado para os palestinos", prossegue o texto do jornal norte-americano.
No entanto, esse plano para "depois de Gaza" depende de um cessar-fogo no enclave palestino. Na última terça-feira (20/2), o governo dos Estados Unidos vetou a resolução no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidos (ONU) para um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. Porém, os representantes de Joe Biden subiram o tom em relação ao governo de Israel ao apresentarem uma proposta alternativa de trégua temporária na região.
Para a embaixadora norte-americana, Linda Thomas-Greenfield, Biden rejeitou o cessar-fogo na tentativa de permitir que as partes envolvidas na guerra busquem negociar o fim do conflito. Em mensagem a Israel, a proposta alternativa dos Estados Unidos diz que a grande ofensiva a Rafah "não deve prosseguir nas atuais circunstâncias".
A postura de Israel sobre a continuidade dos ataques em Gaza estaria começando a desagradar as autoridades norte-americanas. "Dado o histórico extraordinário de apoio americano a Israel nas Nações Unidas, demonstrado por dezenas de vetos para bloquear resoluções críticas a Israel, incluindo três apelando a um cessar-fogo em Gaza, o fato de os Estados Unidos terem circulado uma resolução que menciona o termo 'cessar-fogo' deveria ser um sinal para os israelenses de que os líderes americanos estão perdendo a paciência com a guerra eterna do Sr. Netanyahu", diz o The New York Times.
"Falar diretamente aos israelenses pode revelar-se mais frutífero do que falar com Netanyahu, que se afastou da istração Biden e se tornou um obstáculo a qualquer tipo de paz duradoura. Pelo contrário, os seus aliados de extrema-direita estão a agravar as tensões com os palestinos. Por exemplo, Itamar Ben-Gvir, um extremista que serve como ministro da segurança nacional, propôs limites severos aos fiéis palestinos e árabes israelenses na Mesquita de Aqsa durante o Ramadã. Essas restrições, num local que os israelenses chamam de Monte do Templo, sem dúvida alimentariam ainda mais a raiva e a violência quando o Ramadã começar no início de março", emenda o editorial.
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