
A simpatia e a humildade de Fernanda Torres em seu discurso no Globo de Ouro mudaram a trajetória de Ainda Estou Aqui antes da votação do Oscar, segundo Rodrigo Teixeira, produtor executivo do filme brasileiro. "Ainda Estou Aqui" ganhou no domingo (02/03) a estatueta na categoria de Melhor Filme Internacional
"Aquele 6 de janeiro foi o grande momento para que a gente chegasse onde está hoje. A simpatia e a humildade dela [Fernanda] durante o discurso de vitória elevaram o filme", diz o produtor.
"O filme foi catapultado para outra dimensão depois disso. Quem ainda não tinha visto o filme pensou 'pô, quero conhecer essa atriz e o trabalho dela'."
Fernanda Torres subiu ao palco do Globo de Ouro em 6 de janeiro após ganhar o prêmio de Melhor Atriz em Filme de Drama por sua representação de Eunice Paiva.
Desde então, Ainda Estou Aqui fez história: se tornou o primeiro filme brasileiro a ganhar um Oscar e foi o primeiro representante brasileiro a ser indicado na principal categoria da premiação, de Melhor Filme.
Fernanda Torres foi indicada como Melhor Atriz, mas quem acabou ganhando foi a protanogista de Anora, Mikey Madison. E Anora venceu a categoria de Melhor Filme.
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Com produções de peso em seu currículo, Rodrigo Teixeira se consolidou como uma figura prominente do mercado cinematográfico no Brasil e no exterior.
O produtor disputou uma categoria principal do Oscar pela primeira vez em 2018 com o longa Me Chame pelo Seu Nome, do diretor italiano Luca Guadagnino, que ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado.
Mas, para Teixeira, nada se compara à alegria e ao sabor de concorrer ao maior prêmio do cinema mundial com um filme brasileiro.
"A trajetória de Ainda Estou Aqui é muito mais saborosa [do que as outras produções] do ponto de vista da felicidade", disse Teixeira à BBC Brasil antes da premiação do Oscar.
"Não se trata de uma produção norte-americana que pode automaticamente se qualificar para o Oscar por ser em língua inglesa. Estou fazendo um filme do meu país, representando a nossa bandeira."
A campanha
Além de Ainda Estou Aqui e Me Chame pelo Seu Nome, Rodrigo Teixeira assina a produção de outros grandes títulos como A Bruxa (2015), O Farol (2019) e o também brasileiro A Vida Invisível (2019).
Aos 48 anos, o carioca radicado em São Paulo ite que apesar de toda a experiência prévia, ainda sente o nervosismo de esperar pelo resultado de um Oscar.
"Todo mundo fica nervoso", diz ele, que comanda a produtora RT Features.
"Mas ter conseguido o feito inédito de ser indicado na categoria de Melhor Filme já valeu mais do que muita coisa, já é uma vitória. O que vier daí é lucro."

Mas apesar do discurso, Teixeira e toda a equipe de Ainda Estou Aqui conduziram uma campanha incansável para ampliar a popularidade do filme antes da premiação.
"Nosso trabalho diário é insano. Só vamos parar em 3 de março. Mesmo no dia do Oscar tem trabalho", afirma o produtor.
Os esforços reuniram figuras de visibilidade da indústria cinematográfica mundial no entorno do longa e encaminhado o elenco, com destaque para Fernanda Torres, para eventos e aparições na imprensa estrangeira.
Teixeira relata como ele e o diretor Walter Salles convidaram velhos conhecidos de peso para comparecer às pré-estreias e eventos de divulgação.
Entre os contatos acionados estiveram os cineastas Alfonso Cuarón e Olivier Assayas, que participaram de debates sobre o filme após exibições em Londres e Paris, respectivamente.
Segundo o produtor de Ainda Estou Aqui, o ator americano Sean Penn e a atriz italiana Valeria Golino foram chamados por Salles para participarem, respectivamente, de apresentações do filme nos Estados Unidos e na Itália.
Uma exibição especial para membros da Academia no dia seguinte à vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro com a mediação do diretor mexicano Guillermo del Toro — que segundo Teixeira é "amigo" de Salles — também estava prevista, mas acabou cancelada por conta dos incêndios que atingiram a Califórnia em janeiro.
"É uma coisa mais de gossip [fofoca, em inglês], faz parte", diz o produtor, se referindo ao movimento de contar com a ajuda de nomes conhecidos para espalhar a palavra do filme. "Trabalhamos há muito tempo no cinema e trabalhamos com muita gente, conhecemos muita gente."
"É uma rede de pessoas que a gente conhece e que vão assistir ao filme para nos prestigiar. A partir do momento que eles gostam, o negócio anda."

De forma paralela, a presença de Fernanda Torres em programas americanos tem atraído a atenção de uma tropa de fãs nas redes sociais.
Só o vídeo da entrevista da atriz brasileira ao programa Jimmy Kimmel Live, um dos principais talk shows dos Estados Unidos, já foi visto mais de 3,9 milhões de vezes desde que foi postado em 17 de janeiro, bem acima de outras entrevistas publicadas no perfil do programa no Instagram.
Mais recentemente, Torres foi capa da revista Cultured, focada em arte contemporânea, arquitetura, design, moda, cinema e música.
"Em um mundo de clichês hollywoodianos, Torres parece genuinamente autêntica", disse a publicação.
A artista brasileira também brincou recentemente que atingiu "o auge da fama" após se tornar uma fantasia de Carnaval no Brasil.
"E o que está acontecendo agora, que é maravilhoso… que é o auge da fama no Brasil: se tornar uma fantasia no Carnaval. E agora tem várias 'eu' nas ruas! Eu estou muito orgulhosa disso", celebrou, durante entrevista no Festival Internacional de Cinema de Santa Barbara, na Califórnia.
No mesmo evento, Torres também protagonizou outro momento viral após se encontrar pela primeira vez com a atriz e cantora Ariana Grande.
As duas se abraçaram e trocaram elogios durante o tapete vermelho do festival, onde ambas foram homenageadas.
"Ela é tão linda, tão bondosa, tão brilhante, ela é maravilhosa. [Assisti Ainda Estou Aqui], que atriz incrível, que pessoa maravilhosa, eu a amo", disse Ariana, que está indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, após o encontro.