ANÁLISE DA GUERRA

EUA pausam auxílio com inteligência à Ucrânia: o que isso significa para a guerra contra a Rússia?

Os EUA compartilham informações de inteligência com Kiev desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia em 2022. Por isso, acredita-se que decisão de Washington dessa quarta-feira (05/03) tenha impacto significativo na guerra.

Distanciamento entre EUA e Ucrânia tiveram como desdobramento dramático bate-boca entre Zelensky e Trump na semana ada -  (crédito: Getty Images)
Distanciamento entre EUA e Ucrânia tiveram como desdobramento dramático bate-boca entre Zelensky e Trump na semana ada - (crédito: Getty Images)

O futuro do apoio americano à Ucrânia deu mais um o rumo ao cenário de dúvidas nesta quarta-feira (05/03), com o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Mike Waltz, confirmando que o país suspendeu o compartilhamento de informações de inteligência com a Ucrânia.

"Nós demos um o para trás", disse Waltz a jornalistas.

Ele acrescentou que o governo de Donald Trump está suspendendo e revisando "todos os aspectos desse relacionamento [entre EUA e Ucrânia]".

Ainda não está claro se a pausa no compartilhamento de inteligência é parcial ou total, nem por quanto tempo durará.

Os EUA compartilham informações de inteligência com Kiev desde o início da invasão em grande escala feita pela Rússia à Ucrânia em 2022.

Nos três anos desde a invasão, a Ucrânia tem dependido bastante da assistência militar dos EUA. Por isso, decisões recentes de Washington suspendendo sua ajuda podem ter um efeito significativo na guerra.

Os EUA interromperam o envio de ajuda militar a Kiev na segunda-feira (03/03) após um encontro dramático na semana ada, quando os presidentes Donald Trump e Volodymyr Zelensky bateram boca na Casa Branca.

O diretor da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), John Ratcliffe, também pareceu confirmar a decisão sobre informações de inteligência em uma entrevista à Fox Business nesta quarta-feira.

Ele disse que Trump "tinha dúvidas reais se o presidente [da Ucrânia] Zelensky está comprometido com o processo de paz.

O presidente americano teria dito, segundo o relato de Ratcliffe: "Vamos fazer uma pausa, quero dar a vocês a chance de pensar sobre isso".

Zelensky e Trump sentados em salão, gesticulando e falando
Getty Images
Distanciamento entre EUA e Ucrânia tiveram como desdobramento dramático bate-boca entre Zelensky e Trump na semana ada

Ratcliffe citou uma declaração de Zelensky na terça (04/03), em que o presidente ucraniano declarou que estava pronto para negociar a paz.

O diretor da CIA afirmou que a pausa do auxílio militar à Ucrânia, anunciada anteriormente, "permitiu que isso acontecesse" — referindo-se à sinalização feita por Zelensky.

Waltz também sugeriu que um tom mais conciliatório está surgindo entre os EUA e a Ucrânia, acrescentando que a pausa na ajuda militar e na inteligência dos EUA pode ser suspensa em um futuro próximo.

O conselheiro afirmou à Fox que teve "boas conversas" com os ucranianos sobre o local e o conteúdo de possíveis negociações e acrescentou que haverá movimentações nesse sentido em "muito pouco tempo".

Acredita-se que informações de inteligência antes transmitidas pelos EUA ajudassem a Ucrânia a entender estrategicamente os próximos movimentos de Moscou — e também taticamente, por exemplo, com informações sobre o posicionamento das tropas e armas russas.

Mick Mulroy, ex-subsecretário assistente de defesa e oficial paramilitar aposentado da CIA, disse à BBC que cortar a inteligência para a Ucrânia teria um impacto "imediato" em sua capacidade de defesa.

"Não há como substituir as capacidades de inteligência que os EUA podem fornecer", disse Mulroy.

"Isso provavelmente estimulará a Rússia a pressionar mais fortemente para tomar mais terreno da Ucrânia e [ficar] longe da mesa de negociações."

Macron sinaliza possível afastamento dos EUA

Macron sentado, falando e olhando em direção à TV
Reuters
'Quero acreditar que os EUA ficarão ao nosso lado, mas devemos estar prontos se não for o caso', disse Macron em pronunciamento

Em pronunciamento na TV nesta quarta, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que seu país deve estar preparado para seguir em frente sem a ajuda dos EUA.

"Quero acreditar que os EUA ficarão ao nosso lado, mas devemos estar prontos se não for o caso", disse Macron.

Afirmando que a Europa está em uma "nova era", Macron pediu que o continente aumente seus gastos com defesa.

Ele também disse que a França, junto com a Ucrânia e outros países, prepararam um plano de paz duradouro.

Reportagem adicional de Bernd Debusmann Jr, na Casa Branca

BBC
Ana Faguy - BBC News
postado em 05/03/2025 20:54 / atualizado em 06/03/2025 09:25
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