VATICANO

Leão 14: o que pode estar por trás do nome do novo papa

A escolha do nome cabe inteiramente ao próprio eleito — e já dá sinais do que ele pretende fazer durante o seu período de comando da Igreja Católica.

Papa Leão 13 -  (crédito: Getty Images)
Papa Leão 13 - (crédito: Getty Images)

O que significa o nome do papa? Você já parou para pensar por que Karol Wojtyla era o papa João Paulo 2º; Jorge Bergoglio, o papa Francisco; e, agora, Robert Prevost, papa Leão 14?

O nome do papa carrega um simbolismo enorme dentro da Igreja.

Assim que um cardeal vence a eleição no conclave no Vaticano, a sua primeira grande tarefa é escolher o seu nome papal.

Pouco depois, um cardeal aparece no balcão da Basílica de São Pedro e anuncia ao mundo o nome do novo papa, como aconteceu nesta quinta-feira (8/5).

A escolha do nome cabe inteiramente ao próprio eleito — e já dá sinais do que ele pretende fazer durante o seu período de comando da Igreja Católica.

Ou seja, o próprio nome do papa já é um recado ao mundo.

Papa Leão

Papa Leão 13
Getty Images
Papa Leão 13

Especialistas dizem que a escolha do nome Leão 14 pode ser uma homenagem a Leão 13, um papa que serviu entre 1878 e 1903.

Mas o novo papa ainda não especificou os motivos por trás de sua escolha.

Leão 13, nome escolhido pelo cardeal italiano Gioacchino Pecci, é considerado o fundador da doutrina social católica nos tempos modernos.

A encíclica Rerum Novarum, aprovada durante o papado dele e considerada marco inicial da doutrina social da Igreja, defendeu princípios morais como a dignidade, a inviolabilidade da pessoa humana e condições para uma guerra justa.

O documento também aborda a questão operária e os direitos dos trabalhadores.

Duas marcas de Leão 13 eram sua maneira gentil de se expressar e o desejo de reconciliar a Igreja Católica com a cultura secular do final do século 19 - um momento de grandes transformações sociais e econômicas por causa da Revolução Industrial.

O nome Leão também foi adotado por vários outros papas ao longo dos séculos.

O primeiro foi o papa Leão 1º, também conhecido como São Leão Magno, que ocupou o pontificado entre 440 e 461 d.C.

Ele foi o 45º papa da história e tornou-se conhecido por seu compromisso com a paz.

Segundo a lenda, a aparição miraculosa dos santos Pedro e Paulo durante o encontro entre o Papa Leão 1º e Átila, o rei dos Hunos, em 452 d.C., fez com que este desistisse de invadir a Itália.

A cena foi então retratada por Rafael em um afresco.

Entre os últimos papas que escolheram um nome para seguir o legado de um antecessor, Bento 16 chegou a explicar: ele queria conectar seu papado com o de Bento 15 — um papa que trabalhou para evitar a Primeira Guerra Mundial e depois tentou ajudar os atingidos pelo conflito.

Sua mensagem ao mundo ao escolher esse nome era a de uma Igreja que trabalharia pela harmonia dos povos.

Quais são os nomes mais comuns?

A história da Igreja mostra que um nome é disparado o mais usado: João.

Esse nome é associado a duas figuras muito importantes da Igreja Católica: João, o Apóstolo, a quem se atribui a autoria de dois livros da Bíblia, e João Batista, o profeta e pregador que batizou Jesus Cristo, segundo a tradição católica.

Mas, apesar de ser o nome mais escolhido, João ou mais de cinco séculos "esquecido" pelos papas. Isso até 1958, quando ele foi adotado pelo cardeal Angelo Roncalli, que se tornou o papa João 23.

No papado dele, a Igreja Católica ou por várias reformas modernizadoras, como o fim da obrigatoriedade do latim nas missas e um maior reconhecimento e diálogo com outras religiões.

Vaticanistas dizem que esses nomes papais trazem recados ideológicos importantes. Se o novo papa escolhesse o nome João, poderia estar associada a uma continuidade do papado progressista de João 23.

Já a escolha do nome Pio poderia ser interpretada como um retorno ao conservadorismo, por causa do legado de Pio 12, que liderou o Vaticano durante a Segunda Guerra Mundial.

Até hoje existe controvérsia sobre a relação dele com o fascismo e o nazismo nos anos da guerra.

A palavra Pio em si significa "devoto" ou também "piedoso" ou "caridoso". O primeiro papa com esse nome surgiu no segundo século da Igreja.

E diversos papas de nome Pio atravessaram períodos importantes de agitação política. Pio 6º condenou a Revolução sa no século 18 e fez oposição a Napoleão.

Pio 11 firmou com Mussolini o tratado que estabeleceu o Vaticano como um país independente e fez oposição à ascensão ao nazismo.

Papa Mercúrio?

É bom lembrar que o conceito de nome papal não existe desde o começo da Igreja Católica.

Nos primeiros anos da Igreja, o nome do papa era o seu nome de batismo.

Mas acredita-se que isso mudou em 533 com a escolha de um homem chamado Mercúrio como Papa.

Preocupado com o fato de seu nome ser o mesmo de um deus considerado pagão pelos católicos, ele trocou seu nome para João 2º.

Começou aí a tradição de se adotar um nome papal simbólico — que geralmente homenageia um papa anterior, um santo ou até mesmo as duas coisas.

Por mais de mil anos, os eleitos no conclave sempre escolheram nomes que já tinham sido usados antes.

Mas nos últimos 50 anos, dois novos nomes foram introduzidos. Em 1978, o cardeal italiano Albino Luciani tornou-se o primeiro papa a adotar dois nomes: João Paulo.

A ideia dele era homenagear seus dois antecessores imediatos: João 23 e Paulo 6º.

Mas João Paulo foi papa por apenas um mês. O sucessor dele, Karol Wojtila, resolveu manter seu legado e escolheu o nome de João Paulo 2º.

E em 2013, o cardeal Jorge Bergoglio optou pelo nome Francisco – uma decisão que ele disse que foi inspirada por um colega brasileiro, o cardeal Dom Claudio Hummes.

Após Bergoglio ter sido escolhido como papa, o brasileiro lhe pediu que não se esquecesse dos pobres.

Com a escolha do nome Francisco, o argentino disse que seu desejo era sinalizar que a Igreja se voltaria para os pobres e desassistidos, assim como fazia São Francisco de Assis.

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postado em 08/05/2025 18:50 / atualizado em 08/05/2025 20:27
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