
Enviado Especial
Cidade do Vaticano – Dezesseis horas depois de ser eleito o 267º pontífice da história da Igreja Católica, Robert Francis Prevost – agora papa Leão XIV – retornou à Capela Sistina, na manhã desta sexta-feira, para a sua primeira missa, na presença de todos os cardeais. Na homilia, criticou a falta da fé em uma sociedade que privilegia o dinheiro e o status. “Ainda hoje não faltam contextos em que a fé cristã é considerada uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes; contextos em que em vez dela preferem outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”, declarou. Segundo ele, a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação — sob as mais dramáticas formas — da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre, e não pouco." O pontífice advertiu que a Igreja deve ser "arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo".
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A escolha do papa por um altar voltado para os cardeais e, não de costas para eles, simboliza o tratamento que pretende dar aos religiosos. Claramente, buscará uma relação mais próxima e dispensando alguns protocolos. O novo líder da Igreja também lamentou que Jesus, "embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem". "Isso não apenas entre os crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático", disse.
Cardeais brasileiros elogiam Leão XIV
Cerca de duas horas depois de deixarem a clausura na Casa Santa Marta e retornarem ao Colégio Pio Brasileiro, seis dos sete cardeais brasileiros que votaram no conclave concederam uma entrevista coletiva em que elogiaram a escolha de Robert Francis Prevosyt como papa Leão XIV e falaram sobre a responsabilidade de eleger o líder da Igreja Católica. Dom Paulo Cezar Costa, cardeal arcebispo de Brasília, relatou ao Correio que, depois que Prevost disse "sim", pareceia um "homem muito sereno".
"Percebe-se que o papa Leão XIV é um homem muito espiritualizado, um homem que tem uma profunda base espiritual que o sustenta. Isso fez com que ele mantivesse a tranquilidade", acrescentou Dom Paulo Cézar Costa. Ele disse esperar que Leão XIV, "com o seu jeito de ser, sua formação e sua bagagem espiritual, seja um bom pastor para a Igreja".
"Que também seja um papa que continue o grande diálogo com o mundo, feito pelos grandes papas desde o Concílio Vaticano II. Que conduza a Igreja com tranquilidade e serenidade e que seja capaz de dialogar com os grandes problemas do mundo. O papa reúne todas as condições para fazer isso", afirmou o cardeal.
Segundo Dom Paulo Cezar, Leão XIV tem formação sólida e um rico caminho espiritual. "Ele tem um grande conhecimento do mundo e da América Latina", destacou. O arcebispo de Brasília lembrou que Prevost visitou o Brasil e viria ao país pregar em um retiro espiritual para a Assembleia dos Bispos, que deveria estar encerrando hoje (ontem) e não ocorreu por causa da morte do papa Francisco. "Leão XVI é um pontífice que tem ligação com o Brasil, um homem que conhece a Igreja do Brasil, pois ele era prefeito do Dicastério para Nomeação de Bispos. As alegrias e os problemas da Igreja do Brasil seguramente chegavam à mesa dele."
Para Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, participar de um conclave sempre é um "privilégio". "Ter participado de dois conclaves, para mim, realmente foi muito gratificante. Também senti o peso da grande responsabilidade, pois trata-se de eleger aquele que deve estar à frente da Igreja para confirmar a fé dos irmãos e para indicar os caminhos da Igreja, mantendo-a unida", disse ao Correio, poucas horas depois de deixarem a Casa Santa Marta e voltarem para o Pio Brasileiro. Ele afirmou que os 133 cardeais eleitores precisam refletir muito e tentar perceber quem é essa pessoa, quem é esse homem que Deus escolheu", comentou.
Arcebispo de Manaus, o cardeal Dom Leonardo Steiner disse ter sentido "gratidão" ao fazer parte de um momento tão importante da Igreja. "Outro sentimento que vivi foi uma profunda comunhão, não só entre nós, cardeais, mas a Igreja toda. Tantas mensagens de pessoas que rezavam e acompanhavam, recebidas antes de eu entrar no conclave. Tivemos um momento muito bonito da invocação de todos os santos. Quer dizer, não estávamos sozinho", disse à reportagem.
Dom Steiner contou que, quando Prevost foi eleito, todos os cardeais se levantaram e saudaram o novo papa. Ele prevê que, até certo ponto, o pontificado de Leão XIV será uma continuidade. "Se formos olhar João XXIII, Paulo VI foi uma continuidade. Por sua vez, João Paulo II foi uma continuidade dele e assim sucessivamente com Bento XVI e Francisco. Leão XIV será uma continuidade também, mas com acentos diferentes, com modos diferentes. Essa insistência, por exemplo, de construir pontes."
Eu acho....
"Participar de meu primeiro conclave envolve, antes de tudio, um sentimento de profunda responsabilidade. Porque um dos papéis dos cardeais é o de, quando a Sé de Pedro fica vacante, dar um papa à Igreja. Então, primeiro é um sentimento de profunda responsabilidade. Depois, é claro, também de emoção, de participar desse momento único da vida da Igreja, que acontece de tempo em tempo. Tenho certeza de que a emoção me acompanhou antes, né? E que acompanha a vida de qualquer cardeal."
Dom Paulo Cezar Costa, cardeal arcebispo de Brasília e eleitor no conclave
"O que se pode esperar do pontificado de Leão XIV é o que vamos esperar. Está começando apenas. Ele vai continuar a missão de papa, que é cuidar da Igreja em todos os sentidos. O papa não inventa a Igreja, é um servidor dela. Ele cuidará da Igreja naquilo que hoje é o mais necessário. Ele vai olhar situações da Igreja do mundo para perceber o que ele precisa mais destacar a sua atuação enquanto pontífice, palavra que significa 'construtor de pontes', quem ajudará a comunidade humana a encontrar a paz er a resolver os seus problemas. Além de ser um homem da fé e dos caminhos de Deus, ele deve ajudar a humanidade a encontrar os caminhos humanos para viver em paz e construir um mundo onde todos possam ter lugar."
Dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo e eleitor no conclave
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