Novos rumos

Papa Leão XIV pede o fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza

Na oração Regina Coeli, a primeira dominical de seu pontificado, para faz um apelo emocionado, diante de 100 mil fiéis: "Guerra nunca mais!"

Papa Leão XIV saúda a multidão de fiéis do balcão da Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano  -  (crédito:  Mídia do Vaticano/AFP)
Papa Leão XIV saúda a multidão de fiéis do balcão da Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano - (crédito: Mídia do Vaticano/AFP)

Cidade do Vaticano — Dezenas de bandas e fanfarras tinham acabado de se apresentar, quando, pontualmente ao meio-dia (7h em Brasília), a cortina vermelha da Basílica de São Pedro se abriu. Mais de 100 mil pessoas reunidas na praça de mesmo nome ovacionaram o papa Leão XIV; alguns fiéis gritavam "Prevost! Prevost!" — uma referência ao sobrenome do novo pontífice. A primeira oração de Regina Coeli ("Rainha dos Céus", em latim) durou 12 minutos e foi marcada por um recado incisivo aos poderosos para que ponham fim aos conflitos. "No atual cenário dramático de uma Terceira Guerra Mundial fragmentada, como o papa Francisco afirmou várias vezes, apelo aos poderosos do mundo, repetindo o apelo sempre presente: guerra nunca mais!", declarou. Nos últimos meses de vida, Francisco fez reiterados pedidos pela paz na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Sua preocupação era tamanha que deixou, em testamento, uma recomendação para que o papamóvel fosse transformado em clínica ambulante para atendimento às crianças da Faixa de Gaza. 

"Carrego no coração o sofrimento do amado povo ucraniano. Façamos todo o possível para alcançar uma paz genuína, justa e duradoura", aconselhou Leão XIV. "Que todos os prisioneiros sejam libertados e que todas as crianças retornem para suas famílias", acrescentou, em uma referência ao fato de 20 mil menores de idade da Ucrânia terem sido levados à força para a Rússia ou para territórios controlados pelos russos. Professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla (em Kiev), Olexiy Haran considera importante o fato de Leão XIV ter pedido uma paz "justa e duradora". "Isso é importante. Quando falamos apenas sobre paz, é diferente, porque ela se trata de uma imposição do agressor ou um preço por sua independência", explicou ao Correio. De acordo com ele, uma paz duradoura representa garantias de segurança à Ucrânia, a certeza de que o país não voltará a ser atacado. "É um o positivo", itiu.

A mensagem de Leão XIV veio logo após o presidente russo, Vladimir Putin, propor negociações diretas com a Ucrânia em 15 de maio em Istambul, na Turquia, um "sinal positivo" para seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky. No entanto, pouco antes da oração do papa, Moscou atacou Kiev com mais de 100 drones. 

Ao abordar o massacre na Faixa de Gaza, Leão XIV se disse "profundamente consternado com o que está acontecendo" no território palestino. "Deixem os combates cessarem imediatamente, deixem que a ajuda humanitária seja fornecida à população civil exausta, e que todos os reféns sejam liberados", pediu. Sobre o recente conflito entre Índia e Paquistão, o papa saudou o cessar-fogo e disse esperar que, por meio das próximas negociações, um acordo duradouro possa ser alcançado.

Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben disse que "a defesa dos valores da civilização humana e da paz entre os povos é o que podemos esperar do guardião da fé cristã, Sua Santidade o Papa, e a continuidade do caminho traçado pelo papa Francisco". "Agradecemos ao papa Leão XIV pela sua mensagem, a qual terá eco espiritual que aliviará as dores do povo palestino e direcionará a opinião pública para mais empatia com o sofrimento do nosso povo e dos povos vizinhos, vítimas da violência, do genocídio e do ódio", comentou.

Alzeben  afirmou estar certo de que todos os amantes da paz acolhem a vinda do papa Leão XIV. "Este começo traz boas notícias para os cristãos no mundo e para os princípios de Cristo e da tolerância que Ele pregou, por ela viveu e morreu", disse. 

Segundo a agência de notícias -Presse, entre os 100 mil fiéis que lotavam a Praça de São Pedro, estava a irmã Geneviève, a freira sa que se tornou mundialmente famosa por quebrar o protocolo para se aproximar do caixão de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, com quem cultivava uma amizade. Ela se disse satisfeita com a eleição de Prevost. "É a continuidade de Francisco", assegurou.

 

Rápidas

Missa no túmulo do apóstolo Pedro 

Pouco antes da oração de Regina Coeli, o papa Leão XIV celebrou uma missa na cripta de São Pedro, em uma gruta situada sob o altar da Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano. O pontífice iniciou a homilia em inglês e finalizou-a em italiano. "Enquanto celebramos o início desta nova missão para qual a Igreja me chamou, não há exemplo melhor do que o próprio Jesus Cristo, para quem damos nossas vidas e de quem dependemos. Jesus Cristo é bom pasto, ele é aquele que nos dá a vida: o caminho, a verdade e a vida", disse. Leão XIV celebrou as mães, ao afirmar que o sentimento que nutrem pelos filhos é a mais maravilhosa expressão do amor de Deus. "Acho importante que todos nós aprendamos cada vez mais a ouvir, a dialogar. Em primeiro lugar com o Senhor: ouvir sempre a Palavra de Deus. Então, ouça também os outros, saiba construir pontes, saber ouvir para não julgar, não fechar portas pensando que temos toda a verdade e ninguém mais pode nos dizer nada. É muito importante ouvir a voz do Senhor, ouvir uns aos outros neste diálogo e ver para onde o Senhor está nos chamando", disse, dessa vez em italiano, ao abordar a questão da vocação sacerdotal.

 

Vozes dos amigos de Chiclayo

"Atuo como secretária da Diocese de Chiclayo há mais de 30 anos. Conheço o nosso papa desde o dia em que Robert Francis Prevost chegou à cidade, em novembro de 2014. Todos tínhamos uma grande expectativa em relação ao nosso novo bispo. As pesoas diziam: 'É dos Estados Unidos, um gringo'. Ele nos surpreendeu tanto! Era uma pessoa tão simples, tão amável, que nos cumprimentava como se nos conhecesse. Ele é especialista em tecnologia e uma pessoa muito culta. Sempre nos chamava à caridade e à unidade. Também nos agradecia pelo nosso trabalho. Cheguei a conhecê-lo um pouco mais durante a pandemia da covid-19, quando o ajudei como secretária. Fiquei impressionada, porque fui a primeira mulher a ocupar o cargo. Via como ele recebia os sacerdotes, as autoridades. Ele era super pontual e nunca deixava as pessoas esperando. Não sei onde ele achava tanto tempo, porque também visitava todas as paróquias. O bispo Prevost gostava de dirigir o próprio carro ao visitar localidades e a capital, Lima. Ele tem devoção à Santa Rita de Cássia." 

Zuly Castillo Saavedra, secretária da Cúria da Diocese de Chiclayo. Foi secretária do papa Leão XIV. Na foto, à esquerda, com o então bispo Robert Francis Prevost

 

"Trabalhei na Diocese de Chiclayo, na casa do papa Leão XIV, entre agosto de 2019 e 2023. Nesses quatro anos, conheci uma pessoa muito humilde, muito trabalhadora, bastante próxima ao povo. Ele gostava muito de conviver com a população, de estar com os mais necessitados. O bispo Robert Francis Prevost organizava muita ajuda social. Foram coisas muito bonitas, que o caracterizavam com muita humildade. Aprendemos muitas coisas com ele. No ano seguinte à pandemia, um tio meu desenvolveu fibrose pulmonar. O monsenhor, agora papa Leão XIV, entrou em contato com a Cáritas e conseguiu dois cilindros de oxigênio. Ele me apoiou no que era necessário para o tratamento do meu tio. Quando meu tio faleceu, o monsenhor Prevost me deu muita força e disse que isso fazia parte da vida. Foram muito bonitas as coisas que vivi com ele."

Jimmy Suger Horna Gil, trabalhou como segurança do então bispo Robert Francis Prevost, em Chiclayo

postado em 12/05/2025 04:50
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