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"Eu achei que ao menos foram sinceros."</p> <p class="texto">Diante do caso, a Secretaria Municipal de Educa&ccedil;&atilde;o do Rio de Janeiro, respons&aacute;vel pela gest&atilde;o das creches, afirmou, por meio de nota, que "tem tomado medidas para melhorar e ampliar o atendimento aos alunos da Educa&ccedil;&atilde;o Especial", e que uma das medidas &eacute; o aumento do n&uacute;mero de estagi&aacute;rios voltados para o atendimento das crian&ccedil;as com defici&ecirc;ncia.</p> <p class="texto">"J&aacute; em uma escola particular", continua Malu, "eu fui &agrave; reuni&atilde;o, mostraram um v&iacute;deo com v&aacute;rias crian&ccedil;as, dentre elas uma com <a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/brasil-51380801?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">s&iacute;ndrome de Down</a>, dando a impress&atilde;o de que a escola acolhia a neurodiverg&ecirc;ncia."</p> <p class="texto">Mas ela diz que, quando foi fazer a matr&iacute;cula, a vaga j&aacute; n&atilde;o existia mais. "Fui conversar com a pedagoga, e ela disse que j&aacute; tinha uma m&eacute;dia de duas crian&ccedil;as [com <a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/topics/cz74k75wkz3t?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">defici&ecirc;ncia</a>] por turma, e, se colocasse a terceira, iria atrapalhar o aprendizado das outras crian&ccedil;as."</p> <p class="texto">Malu diz que esse tipo de recusa aconteceu repetidas vezes, em diferentes escolas: "Demorei para entender esse movimento".</p> <p class="texto">O "movimento" descrito por Malu &eacute; uma pr&aacute;tica ilegal.</p> <p class="texto">Prestes a completar dez anos, a <a href="https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm" target="_blank">Lei Brasileira de Inclus&atilde;o (LBI)</a>, tamb&eacute;m conhecida como Estatuto da Pessoa com Defici&ecirc;ncia, foi criada para garantir direitos das pessoas com defici&ecirc;ncia, como, por exemplo, o o e a perman&ecirc;ncia em todo tipo de institui&ccedil;&atilde;o de ensino.</p> <p class="texto">Esta lei pro&iacute;be as escolas de recusarem a matr&iacute;cula de alunos com defici&ecirc;ncia. A pena para quem rejeita um aluno assim pode chegar a at&eacute; cinco anos de pris&atilde;o, al&eacute;m de multa.</p> <p class="texto">Por outro lado, a Lei de Diretrizes e Bases, que define e regula a educa&ccedil;&atilde;o no Brasil, prev&ecirc; a possibilidade de atendimento especializado quando n&atilde;o for poss&iacute;vel a integra&ccedil;&atilde;o nas classes comuns de ensino regular.</p> <p class="texto">Ainda assim, os n&uacute;meros mostram que a entrada em vigor da Lei Brasileira de Inclus&atilde;o representou um marco para a educa&ccedil;&atilde;o inclusiva.</p> <p class="texto">Em todo o pa&iacute;s, a quantidade de matr&iacute;culas de crian&ccedil;as e adolescentes autistas ou com defici&ecirc;ncia nas escolas regulares, ou seja, que n&atilde;o s&atilde;o especializadas ou t&ecirc;m classes especiais s&oacute; para esse p&uacute;blico, deu um salto nas duas &uacute;ltimas d&eacute;cadas.</p> <p class="texto">ou de <a href="http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dadosed.pdf" target="_blank">145 mil em 2003</a>, para<a href="https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/censo-escolar/matriculas-na-educacao-especial-chegam-a-mais-de-1-7-milhao#:~:text=Na%20sequ%C3%AAncia%2C%20est%C3%A3o%20pessoas%20com,duas%20ou%20mais%20defici%C3%AAncias%20combinadas." target="_blank"> 1,7 milh&atilde;o em 2023</a>, segundo o Minist&eacute;rio da Educa&ccedil;&atilde;o (MEC).</p> <p class="texto">Hoje, de acordo com o Censo de 2022 do IBGE, 2% dos alunos do ensino fundamental e 1,2% do ensino m&eacute;dio foram diagnosticados com autismo.</p> <p class="texto">Apesar dos avan&ccedil;os conferidos pela lei, sua aplica&ccedil;&atilde;o, na pr&aacute;tica, &eacute; mais complexa. A BBC News Brasil conversou com seis fam&iacute;lias, no Rio de Janeiro e em S&atilde;o Paulo, que tiveram dificuldades e at&eacute; foram impedidas de matricular seus filhos com algum diagn&oacute;stico em diversas escolas.</p> <p class="texto">"Devolveram a matr&iacute;cula quando souberam do diagn&oacute;stico", contou uma delas.</p> <p class="texto">"Disseram que n&atilde;o havia recursos e nem funcion&aacute;rios suficientes" para cuidar do filho de uma outra.</p> <p class="texto">Algumas fam&iacute;lias pediram para que suas identidades n&atilde;o fossem reveladas, assim como o nome das escolas, com receio de sofrer novos constrangimentos com a exposi&ccedil;&atilde;o diante de uma situa&ccedil;&atilde;o que j&aacute; &eacute; desafiadora.</p> <ul> <li><a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/articles/clynlqj0k00o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">As crian&ccedil;as superdotadas negligenciadas ou expulsas das escolas: 'Meu filho era visto como problema'</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/articles/cn9xdy3lq34o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">Os desafios de pessoas com defici&ecirc;ncia intelectual quando seus pais morrem</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/articles/cjjwq26q2ywo?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">'Voc&ecirc;s n&atilde;o s&atilde;o bem-vindos': o tratamento a imigrantes com defici&ecirc;ncia na Austr&aacute;lia</a></li> </ul> <p class="texto">Outras, como a consultora financeira Juliana Ghetti, autorizaram a publica&ccedil;&atilde;o de seus nomes. Ela &eacute; m&atilde;e de Jo&atilde;o, hoje com 6 anos, que &eacute; um autista n&atilde;o verbal, o que significa que ele tem dificuldade em usar a fala para se comunicar.</p> <p class="texto">Juliana conta que achou estranha a postura da escola Mackenzie, em S&atilde;o Paulo, quando pediu uma reuni&atilde;o online com a fam&iacute;lia depois que ela e o marido j&aacute; haviam realizado uma visita para conhecer o col&eacute;gio. O encontro virtual foi, segundo ela, marcado depois que ela disse que o filho era autista.</p> <p class="texto">"Durou mais de uma hora a reuni&atilde;o para, no fim, eles me dizerem que naquele momento n&atilde;o havia vaga para ele", diz Juliana. "Me disseram que eles tinham um limite de tr&ecirc;s crian&ccedil;as com defici&ecirc;ncia por sala."</p> <p class="texto">Diante da recusa, Juliana denunciou a recusa ao Minist&eacute;rio P&uacute;blico de S&atilde;o Paulo (MPSP) em 2022.</p> <p class="texto">O diretor do Mackenzie, Ricardo Cassab, afirma &agrave; BBC News Brasil, por meio de nota, que o col&eacute;gio "n&atilde;o recusa alunos de inclus&atilde;o nem qualquer outro estudante que deseje fazer parte da fam&iacute;lia mackenzista".</p> <p class="texto">A escola informa que, atualmente, 15% dos alunos do Mackenzie &mdash; 356 estudantes ao todo &mdash; s&atilde;o neuroat&iacute;picos, e 75 profissionais fazem parte do programa de inclus&atilde;o.</p> <p class="texto">S&atilde;o chamadas de neuroat&iacute;picas as pessoas que t&ecirc;m um desenvolvimento neurol&oacute;gico &eacute; considerado diferente do padr&atilde;o, ou seja, t&ecirc;m alguma neurodiverg&ecirc;ncia, como aquelas com transtornos como de d&eacute;ficit de aten&ccedil;&atilde;o com hiperatividade (TDAH), dislexia, autismo e outras condi&ccedil;&otilde;es.</p> <p class="texto">Sobre o caso de Juliana, o diretor afirma que "a atual dire&ccedil;&atilde;o desconhecia qualquer relato".</p> <p class="texto">"Como o ocorrido remonta h&aacute; quase quatro anos, a busca por informa&ccedil;&otilde;es n&atilde;o foi simples e n&atilde;o gerou retorno nos nossos sistemas de controle", diz Cassab.</p> <p class="texto">A BBC News Brasil teve o ao processo. A acusa&ccedil;&atilde;o foi juntada a outras 11 den&uacute;ncias parecidas, ocorridas em outras escolas particulares da capital paulista. Em uma delas, a escola teria cobrado uma taxa adicional &agrave; fam&iacute;lia da crian&ccedil;a com defici&ecirc;ncia.</p> <p class="texto">O MPSP instaurou ent&atilde;o um procedimento no fim de 2022 para fiscaliza&ccedil;&atilde;o e acompanhamento de pol&iacute;ticas de inclus&atilde;o nas escolas privadas de S&atilde;o Paulo, que ainda est&aacute; em curso.</p> <p class="texto">Al&eacute;m das recusas das escolas, a promotoria apontou que as medidas tomadas pelas escolas para supervisionar e avaliar a educa&ccedil;&atilde;o especial inclusiva s&atilde;o "insuficientes" e que as institui&ccedil;&otilde;es cometem equ&iacute;vocos na compreens&atilde;o das defici&ecirc;ncias e transtornos destes alunos e sobre o que determina a lei a respeito dos direitos destes estudantes e das obriga&ccedil;&otilde;es das escolas.</p> <p class="texto">No caso do Mackenzie, o MPSP afirma que a pr&oacute;pria secretaria municipal de Educa&ccedil;&atilde;o, motivada pelo procedimento, verificou "impropriedades" no programa de inclus&atilde;o do col&eacute;gio e solicitou algumas medidas de ajuste, que foram tomadas no ano seguinte.</p> <p class="texto">Juliana conta que o juiz com quem ela teve a audi&ecirc;ncia reconheceu que as den&uacute;ncias desse tipo s&atilde;o escassas &mdash; isso pode ser feito via Minist&eacute;rio P&uacute;blico, Procon ou at&eacute; mesmo em uma delegacia. Ela foi a &uacute;nica, dentre todas as fam&iacute;lias com quem a BBC News Brasil conversou, que fez uma formalmente.</p> <p class="texto">A pedido da BBC News Brasil, o Procon de S&atilde;o Paulo realizou um levantamento sobre as queixas envolvendo a recusa de escolas e crian&ccedil;as com defici&ecirc;ncia: houve quatro ao longo de todo o ano de 2024 em todo o Estado de S&atilde;o Paulo.</p> <h2>Por que as escolas recusam?</h2> <p class="texto">Os relatos ouvidos pela BBC News Brasil indicam que as justificativas apresentadas pelas escolas para recursar crian&ccedil;as com defici&ecirc;ncia s&atilde;o variadas.</p> <p class="texto">"Nunca tive uma negativa de escola direta, mas diziam coisas como 'acho que, para ele, n&atilde;o vai ser bom aqui", conta Marcela, m&atilde;e de um adolescente autista de 16 anos, e que tamb&eacute;m teve seu nome real preservado.</p> <p class="texto">"Chegaram a perguntar a linha da psic&oacute;loga que acompanhava ele, e, quando eu disse que era comportamental, me disseram que n&atilde;o acreditavam nessa linha, apenas na psican&aacute;lise."</p> <p class="texto">Deigles Giacomelli, especialista em gest&atilde;o educacional e inclus&atilde;o escolar no Instituto Rodrigo Mendes, afirma ser preciso abrir um canal de di&aacute;logo n&atilde;o s&oacute; com as institui&ccedil;&otilde;es de ensino, mas tamb&eacute;m com as fam&iacute;lias, professores e funcion&aacute;rios.</p> <p class="texto">"Na medida que os argumentos contr&aacute;rios se sofisticam, precisamos sofisticar os argumentos a favor e a busca por di&aacute;logo", diz Giacomelli.</p> <p class="texto">"Temos uma luta para educarmos pessoas anticapacitistas e a educa&ccedil;&atilde;o infantil colabora muito para isso, porque beb&ecirc;s e crian&ccedil;as pequenas que convivem com a diversidade am a respeitar as pessoas como elas s&atilde;o."</p> <p class="texto">Carolina Videira, fundadora da Turma do Jil&oacute;, que atua pela educa&ccedil;&atilde;o inclusiva nas escolas p&uacute;blicas e privadas, diz que o alerta vai al&eacute;m da simples conformidade com a lei ou com uma sociedade menos capacitista.</p> <p class="texto">"Com o aumento de diagn&oacute;sticos em todo o mundo, se a gente n&atilde;o formar essa gera&ccedil;&atilde;o, teremos, muito em breve, um problema de for&ccedil;a de trabalho. Teremos um problema econ&ocirc;mico", diz Videira.</p> <p class="texto"><a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/articles/c93yk11wqx9o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">Segundo o IBGE</a>, existem hoje no Brasil 2,4 milh&otilde;es de pessoas diagnosticadas com autismo e 14,4 milh&otilde;es de pessoas com defici&ecirc;ncia. Em 2022, foi a primeira vez que o Censo incluiu uma pergunta sobre autismo na pesquisa, que ainda n&atilde;o levantou outras formas de transtornos.</p> <p class="texto">A inclus&atilde;o na educa&ccedil;&atilde;o, al&eacute;m de ser determinada pela lei brasileira, &eacute; uma recomenda&ccedil;&atilde;o geral da Unicef, bra&ccedil;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas para a inf&acirc;ncia, ??e da Conven&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas sobre os direitos das pessoas com defici&ecirc;ncia, com diferentes n&iacute;veis de implementa&ccedil;&atilde;o ao redor do mundo.</p> <p class="texto">O Reino Unido, por exemplo, segue uma regra semelhante &agrave; lei brasileira, enquanto Finl&acirc;ndia e Canad&aacute; t&ecirc;m modelos considerados por especialistas como um caminho a ser seguido.</p> <p class="texto">No Brasil, o aumento do n&uacute;mero de alunos com defici&ecirc;ncia nas escolas tem "rela&ccedil;&atilde;o direta" com a implementa&ccedil;&atilde;o da LBI, diz Videira.</p> <p class="texto">"Trata-se de uma pol&iacute;tica p&uacute;blica extremamente bem estruturada e eficiente, que marca uma virada importante no nosso modelo educacional", afirma.</p> <p class="texto">"A LBI fortalece o direito das pessoas com defici&ecirc;ncia &agrave; educa&ccedil;&atilde;o inclusiva, fechando brechas legais que antes permitiam a manuten&ccedil;&atilde;o de escolas e classes segregadas", diz ela.</p> <p class="texto">"Com isso, inicia-se um movimento de migra&ccedil;&atilde;o significativa das escolas especiais para a rede regular de ensino, especialmente na rede p&uacute;blica. Esse avan&ccedil;o se torna poss&iacute;vel a partir do momento em que o pa&iacute;s a a contar com uma legisla&ccedil;&atilde;o que garante, de forma clara, o o &agrave; escola comum para todos."</p> <p class="texto">Giacomelli diz, no entanto, que a inclus&atilde;o ainda esbarra em diversos obst&aacute;culos, que podem ser os mais variados, desde os arquitet&ocirc;nicos &mdash; quando um pr&eacute;dio n&atilde;o &eacute; adaptado para pessoas com defici&ecirc;ncia, por exemplo &mdash; e tamb&eacute;m financeiro.</p> <p class="texto">"Investir em espa&ccedil;os &iacute;veis, com diversidade de materiais, envolve custo, mas &eacute; um custo que a gente entende que traz melhorias para a escola toda, e n&atilde;o s&oacute; para a crian&ccedil;a com defici&ecirc;ncia."</p> <p class="texto">Para Am&aacute;bile Pacios, vice-presidente da Federa&ccedil;&atilde;o das Escolas Particulares (Fenep), o principal obst&aacute;culo para as escolas particulares &eacute; no &acirc;mbito da forma&ccedil;&atilde;o dos professores para "lidar com os diferentes tipos de s&iacute;ndromes".</p> <p class="texto">"Eu n&atilde;o sei por que as escolas particulares recusam [as crian&ccedil;as com defici&ecirc;ncia]. N&atilde;o tenho essa resposta", diz Pacios.</p> <p class="texto">"Mas a variedade de s&iacute;ndromes requer muito investimento em capacita&ccedil;&atilde;o, em processos. Quando a escola recebe uma crian&ccedil;a com uma s&iacute;ndrome que ela n&atilde;o sabe lidar, honestamente ela tem que dizer para a fam&iacute;lia."</p> <p class="texto">Ela lembra que os professores n&atilde;o recebem essa forma&ccedil;&atilde;o inclusiva na gradua&ccedil;&atilde;o, que acaba ficando a cargo das pr&oacute;prias institui&ccedil;&otilde;es. "As escolas particulares t&ecirc;m feito uma corrida pelo aprimoramento continuo dos professores e atendentes."</p> <p class="texto">A FENEP tem hoje 26 sindicatos estaduais de escolas particulares filiados, em todas as regi&otilde;es do pa&iacute;s. Am&aacute;bile diz que "ouve nas escolas" que "a preocupa&ccedil;&atilde;o &eacute; ter muitos alunos neuroat&iacute;picos por turma e a turma n&atilde;o conseguir caminhar."</p> <p class="texto">Ainda assim, ela diz que "a escola ficou muito melhor com a inclus&atilde;o".</p> <p class="texto">"A escola tem o dever de receber a crian&ccedil;a e trilhar um plano educacional individualizado junto com a fam&iacute;lia e os terapeutas. A crian&ccedil;a precisa ter o ao curr&iacute;culo, sen&atilde;o n&atilde;o &eacute; inclus&atilde;o".</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/ace/standard/raw/sprodpb/7d09/live/4efd2e70-37e1-11f0-96c3-cf669419a2b0.png" alt="Gr&aacute;fico. " width="1281" height="894" /><footer>BBC</footer></figure> <h2>'Foi como se me dissessem: 'N&atilde;o importa o dinheiro, a gente n&atilde;o quer seu filho aqui''</h2> <p class="texto">Depois de uma experi&ecirc;ncia ruim com um ber&ccedil;&aacute;rio, onde Jamile conta que a filha ava horas presa em uma cadeirinha de carro para crian&ccedil;as, a empres&aacute;ria afirma que decidiu colocar a filha em uma escola mais preparada para lidar com a diferen&ccedil;a.</p> <p class="texto">Cec&iacute;lia &eacute; autista e tem uma m&aacute;-forma&ccedil;&atilde;o no c&eacute;rebro, o que causa atraso no desenvolvimento. A m&atilde;e preferiu que ela e a filha n&atilde;o fossem identificadas.</p> <p class="texto">"Fui em uma escola particular onde fui muito bem recebida. Gostei de l&aacute; e acabei matriculando a Cec&iacute;lia, que, na &eacute;poca, em 2021, tinha 6 anos", conta Jamile.</p> <p class="texto">Mas, durante o per&iacute;odo de adapta&ccedil;&atilde;o, ela diz que sua filha n&atilde;o recebeu nenhuma aten&ccedil;&atilde;o dos profissionais da escola: "Foi uma semana horr&iacute;vel".</p> <p class="texto">No &uacute;ltimo dia, Jamile diz que a escola "sugeriu" que ela s&oacute; voltasse no ano seguinte, porque sua filha necessitava de um cuidado que eles n&atilde;o conseguiriam dar naquele momento.</p> <p class="texto">A empres&aacute;ria conta que o dinheiro da mensalidade foi devolvido, mas ela ficou com o preju&iacute;zo do que gastou com o uniforme, que comprou e nunca mais usou.</p> <p class="texto">"Ainda me disseram que a minha vaga estava garantida para o ano que vem, mas &eacute; claro que eu n&atilde;o voltei."</p> <p class="texto">A auditora Carla Rocha Curi conta que seu filho, que hoje tem 9 anos, &eacute; autista n&atilde;o verbal, n&atilde;o teve nem mesmo as necessidades b&aacute;sicas atendidas quando frequentou uma creche do Rio de Janeiro.</p> <p class="texto">"Ele n&atilde;o sabia pedir &aacute;gua e ningu&eacute;m oferecia. Chegou a ficar desidratado e sa&iacute;a com muita fome tamb&eacute;m", conta ela.</p> <p class="texto">Ao buscar outra escola, Carla conseguiu matricular o filho e, depois, ao contar que a crian&ccedil;a era autista, levou um susto com a rea&ccedil;&atilde;o da escola.</p> <p class="texto">"Devolveram o dinheiro da matr&iacute;cula quando souberam do diagn&oacute;stico", diz Carla.</p> <p class="texto">"Foi como se eles me dissessem 'n&atilde;o importa o dinheiro que voc&ecirc; vai pagar, a gente n&atilde;o quer seu filho aqui'."</p> <p class="texto">Ao devolver o dinheiro, por meio de uma transfer&ecirc;ncia banc&aacute;ria, a escola tamb&eacute;m enviou um e-mail a Carla, que guarda o documento at&eacute; hoje, dizendo que "do ponto de vista pedag&oacute;gico, nossas orienta&ccedil;&otilde;es foram de esperar mais um ou dois anos antes da entrada na escola".</p> <p class="texto">A advogada Camilla Varella incentiva que as fam&iacute;lias judicializem as negativas, dado que o o &agrave; educa&ccedil;&atilde;o &eacute; um direito de todos. Ela orienta que as fam&iacute;lias fa&ccedil;am o primeiro contato com a escola por escrito, perguntando se ali h&aacute; vagas para crian&ccedil;as naquela idade.</p> <p class="texto">"Tendo uma resposta positiva, a&iacute; voc&ecirc; diz que &eacute; para uma crian&ccedil;a com defici&ecirc;ncia", explica Varella.</p> <p class="texto">Diante de uma eventual recusa, ainda que a fam&iacute;lia n&atilde;o queira mover um processo para garantir a vaga, a advogada orienta que a Justi&ccedil;a deve ser acionada por danos morais.</p> <p class="texto">"A lei prev&ecirc; que a escola que recusar vaga ter&aacute; que pagar 20 sal&aacute;rios m&iacute;nimos de multa", lembra ela.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/ace/standard/raw/sprodpb/e907/live/f3e5a920-0beb-11f0-a325-a3a96822a2be.jpg" alt="Foto de uma sala de aula com uma crian&ccedil;a em uma cadeira de rodas. " width="2118" height="1191" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>As matr&iacute;culas de crian&ccedil;as e adolescentes autistas ou com defici&ecirc;ncia nas escolas regulares do Brasil aram de 145 mil em 2003, para 1,7 milh&atilde;o em 2023</figcaption> </figure> <h2>'Escola n&atilde;o deixou acompanhante entrar com minha filha na escola'</h2> <p class="texto">A publicit&aacute;ria Luana diz que desistiu de matricular a filha, que &eacute; autista, no col&eacute;gio Equipe, em S&atilde;o Paulo, porque, segundo ela, a escola n&atilde;o autorizou a entrada de um acompanhante terap&ecirc;utico para auxiliar a menina.</p> <p class="texto">Para Luana, que pediu para ter sua identidade preservada, isso seria crucial para a adapta&ccedil;&atilde;o da filha.</p> <p class="texto">"J&aacute; tinha tentado fazer adapta&ccedil;&atilde;o sem ajuda, em outra escola, e n&atilde;o consegui. Fiquei seis meses indo diariamente em uma escola, e ela n&atilde;o se adaptava", diz ela.</p> <p class="texto">Luana conta que, dentre as escolas que buscou, o Equipe foi a &uacute;nica que negou a entrada de um profissional.</p> <p class="texto">"Eles diziam que tinham algu&eacute;m l&aacute; para isso. Mas eu questionei se era algu&eacute;m especializado em autismo, e eles disseram que n&atilde;o."</p> <p class="texto">O acompanhante terap&ecirc;utico &eacute; um profissional preparado para auxiliar crian&ccedil;as e adolescentes que necessitam de algum tipo de e em diversas situa&ccedil;&otilde;es, como locomo&ccedil;&atilde;o, alimenta&ccedil;&atilde;o e higiene. Sua presen&ccedil;a &eacute; garantida por lei.</p> <p class="texto">Como essa profiss&atilde;o ainda n&atilde;o &eacute; regulamentada, o acompanhante n&atilde;o precisa ter forma&ccedil;&atilde;o superior, embora muitos psic&oacute;logos e terapeutas ocupacionais exer&ccedil;am a fun&ccedil;&atilde;o. A tabela do Conselho Federal de Psicologia estabelece como R$ 275 o valor m&iacute;nimo da hora desse profissional.</p> <p class="texto">"A Lei Brasileira de Inclus&atilde;o &eacute; um pouco obscura nesse aspecto dos acompanhantes terap&ecirc;uticos. Diz que a crian&ccedil;a tem direito ao apoio, mas n&atilde;o especifica de que tipo", avalia a advogada Camilla Varella.</p> <p class="texto">"E pode ser desde o mais simples, de auxiliar com a higiene e a alimenta&ccedil;&atilde;o, at&eacute; um apoio terap&ecirc;utico mesmo."</p> <p class="texto">A <a href="https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm" target="_blank">lei dos direitos da pessoa autista</a>, de 2012, &eacute; parecida com a Lei Brasileira de Inclus&atilde;o nesse aspecto.</p> <p class="texto">Estabelece que "em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista inclu&iacute;da nas classes comuns de ensino regular ter&aacute; direito a acompanhante especializado".</p> <p class="texto">Mas n&atilde;o deixa claro sobre de quem seria a responsabilidade de contratar esse profissional. Por isso, Varella cobra que lei seja regulamentada para definir pontos como esse.</p> <p class="texto">"Muitas vezes, o que as escolas dizem &eacute; que elas t&ecirc;m apoio, mas, como a lei n&atilde;o determina que tipo de apoio &eacute; esse, acaba ficando nisso."</p> <p class="texto">Luciana Fevorini, diretora do Equipe, afirma em nota &agrave; BBC News Brasil que a escola n&atilde;o trabalha, de fato, com acompanhantes contratados pela fam&iacute;lia.</p> <p class="texto">"Se o estudante necessita de acompanhante em tempo integral, a escola determina um profissional do pr&oacute;prio corpo docente para acompanh&aacute;-lo. No caso, denominamos como acompanhante pedag&oacute;gico, n&atilde;o&nbsp;terap&ecirc;utico", diz Fevorini.</p> <p class="texto">A diretora ainda afirma que "desde 2023 temos nos aprimorado nas formas de trabalhar com estes estudantes, capacitando nossos educadores de dentro e de fora da sala de aula".</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/ace/standard/raw/sprodpb/6f69/live/fc327fc0-ea3c-11ef-a015-eba4114b2547.jpg" alt="Uma crian&ccedil;a de &oacute;culos em uma escola. " width="2121" height="1193" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>"Com o aumento de diagn&oacute;sticos em todo o mundo, se a gente n&atilde;o formar essa gera&ccedil;&atilde;o, teremos, muito em breve, um problema de for&ccedil;a de trabalho", defende especialista</figcaption> </figure> <p class="texto">No ano ado, o governador de S&atilde;o Paulo, Tarc&iacute;sio de Freitas (Republicanos), assinou um decreto permitindo a entrada de acompanhantes terap&ecirc;uticos nas escolas da rede estadual paulista contratados pelas fam&iacute;lias.</p> <p class="texto">A medida gerou pol&ecirc;mica, j&aacute; que contempla somente as fam&iacute;lias que podem pagar por esse profissional.</p> <p class="texto">Deigles Giacomelli, do Instituto Rodrigo Mendes, afirma que o acompanhante deveria ser de responsabilidade da escola: "Est&aacute; prevista na lei brasileira o profissional de apoio escolar".</p> <p class="texto">Mas ela traz outro ponto para essa discuss&atilde;o. Para Giacomelli, al&eacute;m do apoio, &eacute; importante desenvolver a autonomia da crian&ccedil;a. "As crian&ccedil;as aprendem entre elas", diz.</p> <p class="texto">"Elas mesmas am a aprender os sinais de uma crian&ccedil;a n&atilde;o verbal, por exemplo. E, se h&aacute; sempre algu&eacute;m entre o professor e a crian&ccedil;a com defici&ecirc;ncia, isso atrapalha o aprendizado."</p> <h2>Copo meio cheio</h2> <p class="texto">Hoje, 91% das pessoas com defici&ecirc;ncia est&atilde;o matriculadas em escolas comuns, diz Giacomelli: "Isso &eacute; um avan&ccedil;o ineg&aacute;vel, muito impulsionado pelas pol&iacute;ticas p&uacute;blicas".</p> <p class="texto">Segundo Carolina Videira, 85% desses alunos est&atilde;o na rede p&uacute;blica.</p> <p class="texto">O n&uacute;mero de alunos com defici&ecirc;ncia ou neurodiverg&ecirc;ncia nas redes do Rio de Janeiro e de S&atilde;o Paulo, cidades onde os casos relatados nesta reportagem ocorreram, sinalizam esse avan&ccedil;o.</p> <p class="texto">Na &uacute;ltima d&eacute;cada, a quantidade de alunos com alguma defici&ecirc;ncia ou neurodiverg&ecirc;ncia matriculados na rede estadual de S&atilde;o Paulo &mdash; a maior do Brasil &mdash; mais que dobrou: ou de 40.550 em 2014, para 82.657 no ano ado.</p> <p class="texto">Ao mesmo tempo, no ano ado a rede contava com somente 8 mil profissionais de apoio em sala de aula, segundo a secretaria de Educa&ccedil;&atilde;o.</p> <p class="texto">Na rede estadual do Rio de Janeiro, a realidade &eacute; parecida. Nos &uacute;ltimos dez anos, a houve um salto de quase 5 mil alunos com defici&ecirc;ncia matriculados em 2015 para 13.835 neste ano.</p> <p class="texto">Ao o que a rede disp&otilde;e de 1.408 auxiliares e 228 int&eacute;rpretes da linguagem de libras, usada por pessoas com defici&ecirc;ncia visual. A secretaria estadual de Educa&ccedil;&atilde;o do Rio afirma que n&atilde;o falta atendimento especializado para as crian&ccedil;as com defici&ecirc;ncia nas escolas.</p> <p class="texto">"A maior parte desses estudantes n&atilde;o necessita do servi&ccedil;o de cuidador, enquanto que todos aqueles que necessitam j&aacute; est&atilde;o sendo assistidos, n&atilde;o havendo nenhuma car&ecirc;ncia deste profissional para os alunos", diz a secretaria em nota.</p> <p class="texto">Carolina Videira lembra que, apesar do aumento dos alunos com defici&ecirc;ncia nas escolas, professores com alguma forma&ccedil;&atilde;o em educa&ccedil;&atilde;o inclusiva s&atilde;o somente 6,5% do corpo docente brasileiro hoje.</p> <p class="texto">"Isso n&atilde;o &eacute; inclus&atilde;o, &eacute; inser&ccedil;&atilde;o. A educa&ccedil;&atilde;o inclusiva, de fato, n&atilde;o avan&ccedil;ou".</p> <p class="texto"><em>Gr&aacute;ficos por Carla Rosch e Caroline Souza da Equipe de Jornalismo Visual da BBC Brasil</em></p> <ul> <li><a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/geral-54464703?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">'Como escola especial atrasou desenvolvimento de meu filho com autismo'</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/geral-63198550?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">Jovem com paralisia cerebral faz sucesso na web dan&ccedil;ando e falando sobre inclus&atilde;o de PCDs</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.noticiasdeminas.net/portuguese/articles/c4njjq3e172o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D" target="_blank">Cantora Sia revela diagn&oacute;stico de autismo: por que n&uacute;meros do transtorno est&atilde;o crescendo tanto?</a></li> </ul> <p class="texto"><img src="https://a1.api.bbc.co.uk/hit.xiti/?s=598346&amp;p=portuguese.articles.c5y6n6y5xlxo.page&amp;x1=%5Burn%3Abbc%3Aoptimo%3Aasset%3Ac5y6n6y5xlxo%5D&amp;x4=%5Bpt-br%5D&amp;x5=%5Bhttps%3A%2F%2Fcorreiobraziliense-br.noticiasdeminas.net%2Fportuguese%2Farticles%2Fc5y6n6y5xlxo%5D&amp;x7=%5Barticle%5D&amp;x8=%5Bsynd_nojs_ISAPI%5D&amp;x9=%5BAs+crian%C3%A7as+com+defici%C3%AAncia+rejeitadas+por+escolas%3A+%27Devolveram+a+matr%C3%ADcula+quando+disse+que+meu+filho+%C3%A9+autista%27%5D&amp;x11=%5B2025-05-27T07%3A30%3A17.067Z%5D&amp;x12=%5B2025-05-27T07%3A30%3A17.067Z%5D&amp;x19=%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D" /></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": { "url": "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/05/27/675x450/1_ac76aa10_ea3c_11ef_a015_eba4114b2547-52790038.jpg?20250527043108?20250527043108", "width": 820, "@type": "ImageObject", "height": 490 }, "author": [ { "@type": "Person", "name": "Marina Rossi - Da BBC News Brasil em São Paulo" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=http%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } } 3k1ne

Eu, Estudante 5g255w

INCLUSÃO

As crianças com deficiência rejeitadas por escolas: 'Devolveram a matrícula quando disse que meu filho é autista' 1g12h

Embora a Lei Brasileira de Inclusão, que completa dez anos em julho, proíba a recusa, algumas escolas ainda dificultam ou até negam a matrícula de crianças com deficiência, ou transtornos como o autismo. 3n1j3f

Ao procurar uma escola para seu filho, Malu conta que bateu na porta de cerca de 15 instituições de ensino no Rio de Janeiro.

A mãe diz que foi a escolas públicas e privadas, que seguem filosofias mais e menos tradicionais.

Mas a porta se fechava, segundo ela, cada vez que ela falava sobre a síndrome genética diagnosticada no garoto, que causa déficit cognitivo e alteração de comportamento.

"Na escola pública, disseram que tinha vaga, mas não havia recursos e nem funcionários suficientes", conta Malu, que pediu para sua identidade preservada nesta reportagem. "Eu achei que ao menos foram sinceros."

Diante do caso, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, responsável pela gestão das creches, afirmou, por meio de nota, que "tem tomado medidas para melhorar e ampliar o atendimento aos alunos da Educação Especial", e que uma das medidas é o aumento do número de estagiários voltados para o atendimento das crianças com deficiência.

"Já em uma escola particular", continua Malu, "eu fui à reunião, mostraram um vídeo com várias crianças, dentre elas uma com síndrome de Down, dando a impressão de que a escola acolhia a neurodivergência."

Mas ela diz que, quando foi fazer a matrícula, a vaga já não existia mais. "Fui conversar com a pedagoga, e ela disse que já tinha uma média de duas crianças [com deficiência] por turma, e, se colocasse a terceira, iria atrapalhar o aprendizado das outras crianças."

Malu diz que esse tipo de recusa aconteceu repetidas vezes, em diferentes escolas: "Demorei para entender esse movimento".

O "movimento" descrito por Malu é uma prática ilegal.

Prestes a completar dez anos, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi criada para garantir direitos das pessoas com deficiência, como, por exemplo, o o e a permanência em todo tipo de instituição de ensino.

Esta lei proíbe as escolas de recusarem a matrícula de alunos com deficiência. A pena para quem rejeita um aluno assim pode chegar a até cinco anos de prisão, além de multa.

Por outro lado, a Lei de Diretrizes e Bases, que define e regula a educação no Brasil, prevê a possibilidade de atendimento especializado quando não for possível a integração nas classes comuns de ensino regular.

Ainda assim, os números mostram que a entrada em vigor da Lei Brasileira de Inclusão representou um marco para a educação inclusiva.

Em todo o país, a quantidade de matrículas de crianças e adolescentes autistas ou com deficiência nas escolas regulares, ou seja, que não são especializadas ou têm classes especiais só para esse público, deu um salto nas duas últimas décadas.

ou de 145 mil em 2003, para 1,7 milhão em 2023, segundo o Ministério da Educação (MEC).

Hoje, de acordo com o Censo de 2022 do IBGE, 2% dos alunos do ensino fundamental e 1,2% do ensino médio foram diagnosticados com autismo.

Apesar dos avanços conferidos pela lei, sua aplicação, na prática, é mais complexa. A BBC News Brasil conversou com seis famílias, no Rio de Janeiro e em São Paulo, que tiveram dificuldades e até foram impedidas de matricular seus filhos com algum diagnóstico em diversas escolas.

"Devolveram a matrícula quando souberam do diagnóstico", contou uma delas.

"Disseram que não havia recursos e nem funcionários suficientes" para cuidar do filho de uma outra.

Algumas famílias pediram para que suas identidades não fossem reveladas, assim como o nome das escolas, com receio de sofrer novos constrangimentos com a exposição diante de uma situação que já é desafiadora.

Outras, como a consultora financeira Juliana Ghetti, autorizaram a publicação de seus nomes. Ela é mãe de João, hoje com 6 anos, que é um autista não verbal, o que significa que ele tem dificuldade em usar a fala para se comunicar.

Juliana conta que achou estranha a postura da escola Mackenzie, em São Paulo, quando pediu uma reunião online com a família depois que ela e o marido já haviam realizado uma visita para conhecer o colégio. O encontro virtual foi, segundo ela, marcado depois que ela disse que o filho era autista.

"Durou mais de uma hora a reunião para, no fim, eles me dizerem que naquele momento não havia vaga para ele", diz Juliana. "Me disseram que eles tinham um limite de três crianças com deficiência por sala."

Diante da recusa, Juliana denunciou a recusa ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) em 2022.

O diretor do Mackenzie, Ricardo Cassab, afirma à BBC News Brasil, por meio de nota, que o colégio "não recusa alunos de inclusão nem qualquer outro estudante que deseje fazer parte da família mackenzista".

A escola informa que, atualmente, 15% dos alunos do Mackenzie — 356 estudantes ao todo — são neuroatípicos, e 75 profissionais fazem parte do programa de inclusão.

São chamadas de neuroatípicas as pessoas que têm um desenvolvimento neurológico é considerado diferente do padrão, ou seja, têm alguma neurodivergência, como aquelas com transtornos como de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), dislexia, autismo e outras condições.

Sobre o caso de Juliana, o diretor afirma que "a atual direção desconhecia qualquer relato".

"Como o ocorrido remonta há quase quatro anos, a busca por informações não foi simples e não gerou retorno nos nossos sistemas de controle", diz Cassab.

A BBC News Brasil teve o ao processo. A acusação foi juntada a outras 11 denúncias parecidas, ocorridas em outras escolas particulares da capital paulista. Em uma delas, a escola teria cobrado uma taxa adicional à família da criança com deficiência.

O MPSP instaurou então um procedimento no fim de 2022 para fiscalização e acompanhamento de políticas de inclusão nas escolas privadas de São Paulo, que ainda está em curso.

Além das recusas das escolas, a promotoria apontou que as medidas tomadas pelas escolas para supervisionar e avaliar a educação especial inclusiva são "insuficientes" e que as instituições cometem equívocos na compreensão das deficiências e transtornos destes alunos e sobre o que determina a lei a respeito dos direitos destes estudantes e das obrigações das escolas.

No caso do Mackenzie, o MPSP afirma que a própria secretaria municipal de Educação, motivada pelo procedimento, verificou "impropriedades" no programa de inclusão do colégio e solicitou algumas medidas de ajuste, que foram tomadas no ano seguinte.

Juliana conta que o juiz com quem ela teve a audiência reconheceu que as denúncias desse tipo são escassas — isso pode ser feito via Ministério Público, Procon ou até mesmo em uma delegacia. Ela foi a única, dentre todas as famílias com quem a BBC News Brasil conversou, que fez uma formalmente.

A pedido da BBC News Brasil, o Procon de São Paulo realizou um levantamento sobre as queixas envolvendo a recusa de escolas e crianças com deficiência: houve quatro ao longo de todo o ano de 2024 em todo o Estado de São Paulo.

Por que as escolas recusam? 4c4h1n

Os relatos ouvidos pela BBC News Brasil indicam que as justificativas apresentadas pelas escolas para recursar crianças com deficiência são variadas.

"Nunca tive uma negativa de escola direta, mas diziam coisas como 'acho que, para ele, não vai ser bom aqui", conta Marcela, mãe de um adolescente autista de 16 anos, e que também teve seu nome real preservado.

"Chegaram a perguntar a linha da psicóloga que acompanhava ele, e, quando eu disse que era comportamental, me disseram que não acreditavam nessa linha, apenas na psicanálise."

Deigles Giacomelli, especialista em gestão educacional e inclusão escolar no Instituto Rodrigo Mendes, afirma ser preciso abrir um canal de diálogo não só com as instituições de ensino, mas também com as famílias, professores e funcionários.

"Na medida que os argumentos contrários se sofisticam, precisamos sofisticar os argumentos a favor e a busca por diálogo", diz Giacomelli.

"Temos uma luta para educarmos pessoas anticapacitistas e a educação infantil colabora muito para isso, porque bebês e crianças pequenas que convivem com a diversidade am a respeitar as pessoas como elas são."

Carolina Videira, fundadora da Turma do Jiló, que atua pela educação inclusiva nas escolas públicas e privadas, diz que o alerta vai além da simples conformidade com a lei ou com uma sociedade menos capacitista.

"Com o aumento de diagnósticos em todo o mundo, se a gente não formar essa geração, teremos, muito em breve, um problema de força de trabalho. Teremos um problema econômico", diz Videira.

Segundo o IBGE, existem hoje no Brasil 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo e 14,4 milhões de pessoas com deficiência. Em 2022, foi a primeira vez que o Censo incluiu uma pergunta sobre autismo na pesquisa, que ainda não levantou outras formas de transtornos.

A inclusão na educação, além de ser determinada pela lei brasileira, é uma recomendação geral da Unicef, braço das Nações Unidas para a infância, ??e da Convenção das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas com deficiência, com diferentes níveis de implementação ao redor do mundo.

O Reino Unido, por exemplo, segue uma regra semelhante à lei brasileira, enquanto Finlândia e Canadá têm modelos considerados por especialistas como um caminho a ser seguido.

No Brasil, o aumento do número de alunos com deficiência nas escolas tem "relação direta" com a implementação da LBI, diz Videira.

"Trata-se de uma política pública extremamente bem estruturada e eficiente, que marca uma virada importante no nosso modelo educacional", afirma.

"A LBI fortalece o direito das pessoas com deficiência à educação inclusiva, fechando brechas legais que antes permitiam a manutenção de escolas e classes segregadas", diz ela.

"Com isso, inicia-se um movimento de migração significativa das escolas especiais para a rede regular de ensino, especialmente na rede pública. Esse avanço se torna possível a partir do momento em que o país a a contar com uma legislação que garante, de forma clara, o o à escola comum para todos."

Giacomelli diz, no entanto, que a inclusão ainda esbarra em diversos obstáculos, que podem ser os mais variados, desde os arquitetônicos — quando um prédio não é adaptado para pessoas com deficiência, por exemplo — e também financeiro.

"Investir em espaços íveis, com diversidade de materiais, envolve custo, mas é um custo que a gente entende que traz melhorias para a escola toda, e não só para a criança com deficiência."

Para Amábile Pacios, vice-presidente da Federação das Escolas Particulares (Fenep), o principal obstáculo para as escolas particulares é no âmbito da formação dos professores para "lidar com os diferentes tipos de síndromes".

"Eu não sei por que as escolas particulares recusam [as crianças com deficiência]. Não tenho essa resposta", diz Pacios.

"Mas a variedade de síndromes requer muito investimento em capacitação, em processos. Quando a escola recebe uma criança com uma síndrome que ela não sabe lidar, honestamente ela tem que dizer para a família."

Ela lembra que os professores não recebem essa formação inclusiva na graduação, que acaba ficando a cargo das próprias instituições. "As escolas particulares têm feito uma corrida pelo aprimoramento continuo dos professores e atendentes."

A FENEP tem hoje 26 sindicatos estaduais de escolas particulares filiados, em todas as regiões do país. Amábile diz que "ouve nas escolas" que "a preocupação é ter muitos alunos neuroatípicos por turma e a turma não conseguir caminhar."

Ainda assim, ela diz que "a escola ficou muito melhor com a inclusão".

"A escola tem o dever de receber a criança e trilhar um plano educacional individualizado junto com a família e os terapeutas. A criança precisa ter o ao currículo, senão não é inclusão".

BBC

'Foi como se me dissessem: 'Não importa o dinheiro, a gente não quer seu filho aqui'' 1gt1t

Depois de uma experiência ruim com um berçário, onde Jamile conta que a filha ava horas presa em uma cadeirinha de carro para crianças, a empresária afirma que decidiu colocar a filha em uma escola mais preparada para lidar com a diferença.

Cecília é autista e tem uma má-formação no cérebro, o que causa atraso no desenvolvimento. A mãe preferiu que ela e a filha não fossem identificadas.

"Fui em uma escola particular onde fui muito bem recebida. Gostei de lá e acabei matriculando a Cecília, que, na época, em 2021, tinha 6 anos", conta Jamile.

Mas, durante o período de adaptação, ela diz que sua filha não recebeu nenhuma atenção dos profissionais da escola: "Foi uma semana horrível".

No último dia, Jamile diz que a escola "sugeriu" que ela só voltasse no ano seguinte, porque sua filha necessitava de um cuidado que eles não conseguiriam dar naquele momento.

A empresária conta que o dinheiro da mensalidade foi devolvido, mas ela ficou com o prejuízo do que gastou com o uniforme, que comprou e nunca mais usou.

"Ainda me disseram que a minha vaga estava garantida para o ano que vem, mas é claro que eu não voltei."

A auditora Carla Rocha Curi conta que seu filho, que hoje tem 9 anos, é autista não verbal, não teve nem mesmo as necessidades básicas atendidas quando frequentou uma creche do Rio de Janeiro.

"Ele não sabia pedir água e ninguém oferecia. Chegou a ficar desidratado e saía com muita fome também", conta ela.

Ao buscar outra escola, Carla conseguiu matricular o filho e, depois, ao contar que a criança era autista, levou um susto com a reação da escola.

"Devolveram o dinheiro da matrícula quando souberam do diagnóstico", diz Carla.

"Foi como se eles me dissessem 'não importa o dinheiro que você vai pagar, a gente não quer seu filho aqui'."

Ao devolver o dinheiro, por meio de uma transferência bancária, a escola também enviou um e-mail a Carla, que guarda o documento até hoje, dizendo que "do ponto de vista pedagógico, nossas orientações foram de esperar mais um ou dois anos antes da entrada na escola".

A advogada Camilla Varella incentiva que as famílias judicializem as negativas, dado que o o à educação é um direito de todos. Ela orienta que as famílias façam o primeiro contato com a escola por escrito, perguntando se ali há vagas para crianças naquela idade.

"Tendo uma resposta positiva, aí você diz que é para uma criança com deficiência", explica Varella.

Diante de uma eventual recusa, ainda que a família não queira mover um processo para garantir a vaga, a advogada orienta que a Justiça deve ser acionada por danos morais.

"A lei prevê que a escola que recusar vaga terá que pagar 20 salários mínimos de multa", lembra ela.

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As matrículas de crianças e adolescentes autistas ou com deficiência nas escolas regulares do Brasil aram de 145 mil em 2003, para 1,7 milhão em 2023

'Escola não deixou acompanhante entrar com minha filha na escola' 4cz4k

A publicitária Luana diz que desistiu de matricular a filha, que é autista, no colégio Equipe, em São Paulo, porque, segundo ela, a escola não autorizou a entrada de um acompanhante terapêutico para auxiliar a menina.

Para Luana, que pediu para ter sua identidade preservada, isso seria crucial para a adaptação da filha.

"Já tinha tentado fazer adaptação sem ajuda, em outra escola, e não consegui. Fiquei seis meses indo diariamente em uma escola, e ela não se adaptava", diz ela.

Luana conta que, dentre as escolas que buscou, o Equipe foi a única que negou a entrada de um profissional.

"Eles diziam que tinham alguém lá para isso. Mas eu questionei se era alguém especializado em autismo, e eles disseram que não."

O acompanhante terapêutico é um profissional preparado para auxiliar crianças e adolescentes que necessitam de algum tipo de e em diversas situações, como locomoção, alimentação e higiene. Sua presença é garantida por lei.

Como essa profissão ainda não é regulamentada, o acompanhante não precisa ter formação superior, embora muitos psicólogos e terapeutas ocupacionais exerçam a função. A tabela do Conselho Federal de Psicologia estabelece como R$ 275 o valor mínimo da hora desse profissional.

"A Lei Brasileira de Inclusão é um pouco obscura nesse aspecto dos acompanhantes terapêuticos. Diz que a criança tem direito ao apoio, mas não especifica de que tipo", avalia a advogada Camilla Varella.

"E pode ser desde o mais simples, de auxiliar com a higiene e a alimentação, até um apoio terapêutico mesmo."

A lei dos direitos da pessoa autista, de 2012, é parecida com a Lei Brasileira de Inclusão nesse aspecto.

Estabelece que "em casos de comprovada necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular terá direito a acompanhante especializado".

Mas não deixa claro sobre de quem seria a responsabilidade de contratar esse profissional. Por isso, Varella cobra que lei seja regulamentada para definir pontos como esse.

"Muitas vezes, o que as escolas dizem é que elas têm apoio, mas, como a lei não determina que tipo de apoio é esse, acaba ficando nisso."

Luciana Fevorini, diretora do Equipe, afirma em nota à BBC News Brasil que a escola não trabalha, de fato, com acompanhantes contratados pela família.

"Se o estudante necessita de acompanhante em tempo integral, a escola determina um profissional do próprio corpo docente para acompanhá-lo. No caso, denominamos como acompanhante pedagógico, não terapêutico", diz Fevorini.

A diretora ainda afirma que "desde 2023 temos nos aprimorado nas formas de trabalhar com estes estudantes, capacitando nossos educadores de dentro e de fora da sala de aula".

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"Com o aumento de diagnósticos em todo o mundo, se a gente não formar essa geração, teremos, muito em breve, um problema de força de trabalho", defende especialista

No ano ado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), assinou um decreto permitindo a entrada de acompanhantes terapêuticos nas escolas da rede estadual paulista contratados pelas famílias.

A medida gerou polêmica, já que contempla somente as famílias que podem pagar por esse profissional.

Deigles Giacomelli, do Instituto Rodrigo Mendes, afirma que o acompanhante deveria ser de responsabilidade da escola: "Está prevista na lei brasileira o profissional de apoio escolar".

Mas ela traz outro ponto para essa discussão. Para Giacomelli, além do apoio, é importante desenvolver a autonomia da criança. "As crianças aprendem entre elas", diz.

"Elas mesmas am a aprender os sinais de uma criança não verbal, por exemplo. E, se há sempre alguém entre o professor e a criança com deficiência, isso atrapalha o aprendizado."

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Hoje, 91% das pessoas com deficiência estão matriculadas em escolas comuns, diz Giacomelli: "Isso é um avanço inegável, muito impulsionado pelas políticas públicas".

Segundo Carolina Videira, 85% desses alunos estão na rede pública.

O número de alunos com deficiência ou neurodivergência nas redes do Rio de Janeiro e de São Paulo, cidades onde os casos relatados nesta reportagem ocorreram, sinalizam esse avanço.

Na última década, a quantidade de alunos com alguma deficiência ou neurodivergência matriculados na rede estadual de São Paulo — a maior do Brasil — mais que dobrou: ou de 40.550 em 2014, para 82.657 no ano ado.

Ao mesmo tempo, no ano ado a rede contava com somente 8 mil profissionais de apoio em sala de aula, segundo a secretaria de Educação.

Na rede estadual do Rio de Janeiro, a realidade é parecida. Nos últimos dez anos, a houve um salto de quase 5 mil alunos com deficiência matriculados em 2015 para 13.835 neste ano.

Ao o que a rede dispõe de 1.408 auxiliares e 228 intérpretes da linguagem de libras, usada por pessoas com deficiência visual. A secretaria estadual de Educação do Rio afirma que não falta atendimento especializado para as crianças com deficiência nas escolas.

"A maior parte desses estudantes não necessita do serviço de cuidador, enquanto que todos aqueles que necessitam já estão sendo assistidos, não havendo nenhuma carência deste profissional para os alunos", diz a secretaria em nota.

Carolina Videira lembra que, apesar do aumento dos alunos com deficiência nas escolas, professores com alguma formação em educação inclusiva são somente 6,5% do corpo docente brasileiro hoje.

"Isso não é inclusão, é inserção. A educação inclusiva, de fato, não avançou".

Gráficos por Carla Rosch e Caroline Souza da Equipe de Jornalismo Visual da BBC Brasil

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