
Gloria Maria Vargas — Professora associada Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB)
Em 22 de fevereiro de 2025, cumpriram-se três anos desde o começo da guerra da Ucrânia. Como bem asseverou Carl von Clausewitz, o general prussiano do começo do século 19, nenhuma previsão de guerra é sábia. O melhor é se ater aos fatos no terreno. Como os fatos mais recentes descrevem o que está acontecendo nessa guerra?
Após três anos, Rússia ocupa aproximadamente 20% do território ucraniano, 40 mil civis ucranianos perderam a vida, outras 4 milhões de pessoas foram deslocadas internamente e 6,8 milhões abandonaram o país.
No domínio terrestre, em agosto de 2024, a Ucrânia lançou a ofensiva sobre a região russa de Kursk, que marca a primeira incursão do exército ucraniano em território russo, com a finalidade de desviar tropas e recursos do leste ucraniano. A resposta russa levou à recuperação da metade do território disputado na região, a despeito de uma segunda incursão ucraniana em janeiro de 2025.
Informações recentes revelaram que as tropas russas cruzaram a fronteira em Kursk em direção à região ucraniana de Sumy. Isso é muito problemático para as forças ucranianas, pois significa que as forças russas estão se movimentando para cortar as rotas de circulação e de suprimentos entre os dois países, criando o pesadelo de estrangulamento das forças ucranianas em território russo.
No front ucraniano, a ofensiva russa na região de Kharkiv, em maio de 2024, implicou ganho de território, e, na região de Donetsk, no controle de aproximadamente 4.000 quilômetros quadrados.
Em termos do domínio aéreo, mísseis russos de longo alcance e drones atacam Kiev no último mês e duas regiões adjacentes à capital. Mas a Ucrânia tem conseguido mitigar a superioridade russa pelo uso de drones e aumento de presença da sua força aérea.
Quanto ao espaço marítimo, a Ucrânia impôs uma derrota grande sobre a Rússia no Mar Negro, que perdeu um terço da sua frota, o que significou a redução considerável das suas operações marítimas e anfíbias.
No entanto, depois de vários meses, a situação parece ter chegado a um ime em que nem a Rússia nem a Ucrânia tem poder suficiente, mesmo quando atravessa as linhas de front do outro país, para criar uma situação de vitória iminente e irreversível. Por isso, quiçá seja mais provável que o fim da guerra venha por vias diplomáticas, com os ventos soprando para o lado russo neste momento.
A política externa do presidente Donald Trump mostra sinais de grandes ondas de mudança se aproximando. O primeiro sinal dessa mudança foi a reunião no último dia 18 entre o secretário de Estado, Marco Rubio, o conselheiro de segurança, Mike Waltz, e o chanceler russo, Sergey Lavrov, em Riade, Arábia Saudita, em que se comprometeram a nomear equipes de alto nível para negociar o fim do conflito de forma "duradoura e sustentável". A reunião aconteceu sem presença ucraniana e europeia.
Simultaneamente, o presidente Trump faz duras críticas ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, por não chamar as eleições e por falta de transparência com os recursos recebidos dos Estados Unidos, aproximadamente US$ 118 milhões, dos quais US$ 65 milhões em ajuda militar.
O presidente Trump quer promover o final da guerra: já mandou o recado para os russos, para a Europa e para a Otan de que não está disposto a continuar patrocinando o atual status quo. O Conselho Europeu, por sua parte, adotou, neste mês, um pacote de medidas econômicas restritivas que pretendem trazer consequências para setores vitais da economia russa, debilitando ainda mais a capacidade do regime russo de continuar com a ação bélica na Ucrânia.
Entre essas medidas, está o estabelecimento de critérios que permitirão à União Europeia impor medidas a entidades que se beneficiam ou apoiam o complexo militar russo. De igual forma, pretende proibir instituições financeiras, fora do território russo, de usar o Sistema de Transferências Financeiras do Banco Central russo. Há uma lista grande de medidas.
No entanto, a União Europeia terá de chegar a um consenso nada fácil nestes tempos de mudanças rápidas e radicais. Há um caminho cheio de pedras para ela: deve se comprometer com ações mais contundentes no terreno, como envio de tropas, de mais recursos, equipamento e munições. Do contrário, terá de seguir o percurso traçado pelos Estados Unidos.
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