Pensar: políticas climáticas

Prefeituras eleitas e eventos climáticos: desafios para 2025

Para que as prefeituras brasileiras se tornem protagonistas na adaptação aos eventos climáticos extremos, é necessário ir além de respostas pontuais e investir em mudanças estruturais

 A seca do Rio Negro transformou o percurso, antes percorrido a barco, em estrada     -  (crédito: Chico Batata)
A seca do Rio Negro transformou o percurso, antes percorrido a barco, em estrada - (crédito: Chico Batata)

Luciana Sonck — Mestra em planejamento territorial, especialista em governança e sócia-fundadora e CEO da Tewá 225

O Brasil está vendo um aumento significativo nos eventos climáticos extremos — como secas prolongadas, chuvas intensas e ondas de calor — e isso traz à tona uma questão urgente: as novas prefeituras e câmaras de vereadores estão realmente preparadas para enfrentar mais um ano de desafios climáticos? Com 87% da população brasileira vivendo em áreas urbanas, as cidades são os primeiros locais em que o impacto das mudanças do clima é sentido, e, por isso, é crucial entender como elas estão se preparando para essa realidade.

As novas istrações que assumiram seus mandatos em janeiro enfrentam uma realidade climática cada vez mais crítica. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, ultraando a marca de 1,5ºC de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais. Após o forte impacto do fenômeno climático El Niño, 2025 será o ano do La Niña, com estiagens no Sul do Brasil e aumento de chuvas no Norte e no Nordeste. Tudo isso exige respostas urgentes para tornar as cidades mais resilientes.

As prefeituras têm um papel central não apenas na adaptação às mudanças, mas também na construção de soluções que integrem as necessidades específicas de cada cidade. As decisões tomadas terão um impacto direto na vida de milhões de brasileiros, especialmente nas regiões mais vulneráveis. No entanto, os dados do Índice de Convergência Ambiental Total (ICAt) do Farol Verde, feito por levantamento do InfoAmazonia, revelam que, na Amazônia Legal, a grande maioria dos prefeitos eleitos não está alinhada com a agenda ambiental. Apenas 5,8% demonstram comprometimento com políticas climáticas, enquanto 88,86% obtiveram notas abaixo de 25 em uma escala de 0 a 100. Esse quadro exige uma transformação urgente nas gestões municipais, especialmente considerando que a COP30 será sediada em Belém (PA), no fim deste ano.

Embora algumas prefeituras já tenham se comprometido com políticas na área, muitas ainda não estão preparadas para o impacto crescente das mudanças climáticas. Nos municípios de médio e pequeno porte, a situação é ainda mais crítica, com a falta de planejamento e a fragilidade das Defesas Civis, o que pode intensificar os danos. Um cenário de desconexão entre as istrações municipais e as políticas climáticas nacionais que será tópico de urgência na COP30.

Nesse sentido, para enfrentar esses desafios, as novas prefeituras precisam priorizar o clima em seus orçamentos. Em 2024, o Brasil atualizou sua  Contribuição Nacional Determinada (NDC), que estabelece metas para redução de emissões de gases de efeito estufa e para adaptação aos impactos climáticos. A nova versão coloca um foco particular no federalismo climático — ou seja, na articulação necessária entre a União, estados e municípios para garantir que as políticas climáticas sejam efetivas em todos os territórios. Por isso, essa articulação deve ser guiada pelo princípio da justiça climática, buscando uma adaptação justa e equitativa para todos os municípios, e com equidade de recursos para os diferentes níveis federativos.

A justiça climática exige que as soluções não apenas considerem a redução dos impactos, mas também levem em conta as desigualdades históricas (gênero, raça, questões socioeconômicas) que tornam certas populações mais vulneráveis. De acordo com pesquisa do WRI Brasil, políticas climáticas, como o investimento em infraestrutura verde, podem reduzir em até 80% os impactos de enchentes em áreas urbanas vulneráveis, além de, a longo prazo, reduzirem custos para as cidades.

Contudo, para que as prefeituras brasileiras se tornem protagonistas na adaptação aos eventos climáticos extremos, é necessário ir além de respostas pontuais e investir em mudanças estruturais. O fortalecimento das Defesas Civis, a capacitação de gestores municipais e a articulação com políticas nacionais e internacionais devem caminhar juntas. Não há mais espaço para improvisos, respostas reativas ou o caminho mais "fácil". 

Líderes locais precisam ter o apoio e ferramentas necessárias para entender a urgência de proteger não apenas a infraestrutura urbana, mas, sobretudo, as populações mais vulneráveis, que carregam o peso desproporcional das mudanças climáticas. Investir em resiliência, preservação de biomas como a Amazônia e inclusão social não é apenas uma questão de justiça climática, mas de garantir um futuro viável para todos. Que a COP30, em Belém, este ano, não seja somente de esperança e propostas, mas que as cidades e especialmente suas populações possam vislumbrar ações e mudanças.

 

Opinião
postado em 25/02/2025 06:00
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