
Pressionado pela atuação da oposição conservadora nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento em cadeia nacional, de rádio e TV, para reforçar os programas lançados em sua terceira agem pelo Planalto. A estratégia parece ser "bater na mesma tecla" — ou seja, levar ao conhecimento da população as políticas públicas do governo, ainda que elas não sejam exatamente novidades no noticiário.
Uma delas é o Programa Pé-de-Meia, proposta que pretende combater o êxodo escolar no ensino médio a partir do pagamento de R$ 200 mensais aos estudantes, além de R$ 1 mil ao término do ano letivo. Outra é a gratuidade para todos os 41 medicamentos do Farmácia Popular — ponto também ressaltado por Lula na gravação, que, evidentemente, tem parte da motivação voltada às eleições de 2026.
Esses esforços trazem reflexos diretos também na economia brasileira. Basta acompanhar o que dizem os corredores do governo: o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, tem sido mais tolerante à ampliação dos gastos públicos — a já conhecida política de aumentar o investimento na segunda metade do mandato presidencial, usada por todos os governos, independentemente do espectro ideológico.
Desde que retornou à Presidência, Lula tem acusado o Banco Central (BC) de agir politicamente ao manter a taxa básica de juros (Selic) em dígito duplo (atualmente, está em 13,25%, seu maior patamar desde agosto de 2023). Trata-se da principal arma do banco para controlar o índice geral de preços.
Certamente, a sinalizada alta nos gastos públicos combinada à queda de arrecadação — a partir das propostas de aumento da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, do Pé-de-Meia e do consignado para empregados no setor privado — não ajuda em nada na improvável mudança de paradigma do BC. Na verdade, o cabo de guerra tende a se intensificar.
Há, porém, um outro lado nessa discussão acerca do problema fiscal. O histórico do Boletim Focus do BC, que traz as expectativas do mercado financeiro, não é de sucesso nas previsões desde que Lula retornou ao Planalto, ainda que resultados atingidos tenham sido melhores do que o esperado.
Em fevereiro de 2023, o setor previa um deficit primário (a diferença entre as receitas e despesas do governo, sem considerar a dívida) de 1% ao fim de 2024. O resultado oficial foi de 0,1%. Quanto ao crescimento econômico, o Focus também ou longe. Previu 1,5% para 2024, mas, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado pelo BC em fevereiro, a expansão foi de 3,8%.
No frigir dos ovos, o governo precisa investir para entregar melhorias à vida do cidadão. Não adianta apostar na diminuição do deficit primário, a partir do corte de gastos, se esse movimento prejudica políticas públicas fundamentais. Por outro lado, o controle da dívida pública é peça fundamental para atrair investimento privado.
Esses são os pratos da balança que Fernando Haddad e o governo Lula como um todo precisam equilibrar até o fim do mandato. Além da maior efetividade na comunicação entre o Planalto e a população, como o próprio presidente reconhece.
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