Amizade

Adoráveis memórias de Maurício

Maurício Dinepi era de uma elegância e de um requinte incomparáveis. Vivia a vida na plenitude e me ensinou muito sobre não perder tempo com as adversidades, com gente soberba e arrogante

Verdadeiro mestre na arte da diplomacia, Maurício sempre costurou, e ainda costura, só que agora de um modo intangível, a invisível rede de proteção que amortece o peso, às vezes, tão inável de viver -  (crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Verdadeiro mestre na arte da diplomacia, Maurício sempre costurou, e ainda costura, só que agora de um modo intangível, a invisível rede de proteção que amortece o peso, às vezes, tão inável de viver - (crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Escrevi há duas semanas que viria ao Rio dar aquele abraço na minha amiga Coy e, com ela, ear por Laranjeiras. No artigo O Rio está me chamando, eu lembrava que Hélio, marido de Coy, que se despediu desse plano, havia me dito que era um pecado eu não conhecer Laranjeiras. Prometi que ia e cá estou honrando minha palavra. Abraçar Coy e  assistir ao espetáculo Chatô e os Diários Associados — 100 anos de paixão, no Teatro João Caetano, estava nos meus planos. Mas não só isso.

Ao ler o artigo, outro amigo querido e de longa data, Maurício Dinepi, marcou de me levar neste domingo ao restaurante Aprazível, em Santa Tereza, um outro lugar que Hélio havia recomendado. Na última sexta, cheguei a mandar mensagem lembrando do nosso compromisso. Minha mensagem ficou sem resposta.

Maurício se foi na madrugada da sexta-feira. Morreu dormindo. Quase não viajei. Mas vim, eu mesma, ao encontro de sua resposta — aquela que nem sempre precisa ser escrita. Vim ao encontro das melhores memórias de meu amigo. Nossa amizade de longa data ou por e-mail, MSN, Instagram, telefone fixo. Nos últimos anos, falávamos por WhatsApp duas ou três vezes por semana. Aos domingos, era sagrado  — ele lia o artigo, dava opinião, elogiava, criticava, puxava olheira quando achava que eu havia me excedido. 

Maurício era de uma elegância e de um requinte incomparáveis. Vivia a vida na plenitude e me ensinou muito sobre não perder tempo com as adversidades, com gente soberba e arrogante. Condômino dos Diários Associados, publicitário e economista, Maurício foi fundamental para as relações institucionais, jurídicas, comerciais e sociais do grupo de comunicação. Mais do que um profissional impecável, era um amante das artes e da gastronomia, como bem lembrou a colunista Liana Sabo. 

Verdadeiro mestre na arte da diplomacia, Maurício sempre costurou, e ainda costura, só que agora de um modo intangível, a invisível rede de proteção que amortece o peso, às vezes, tão inável de viver. Pensando nele, sei que tudo de alguma forma pode ser e será mais leve. Já descansou o meu amigo. Pena que foi cedo demais. A Juliana e Rodolfo, meu respeito. A Maurício, de quem me despedirei hoje, minha gratidão.

postado em 06/04/2025 06:01
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