{ "@context": "http://www.schema.org", "@graph": [{ "@type": "BreadcrumbList", "@id": "", "itemListElement": [{ "@type": "ListItem", "@id": "/#listItem", "position": 1, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/", "name": "In\u00edcio", "description": "O Correio Braziliense (CB) é o mais importante canal de notícias de Brasília. Aqui você encontra as últimas notícias do DF, do Brasil e do mundo.", "url": "/" }, "nextItem": "/opiniao/#listItem" }, { "@type": "ListItem", "@id": "/opiniao/#listItem", "position": 2, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/opiniao/", "name": "Opinião", "description": "Leia editoriais e artigos sobre fatos importantes do dia a dia com a visão do Correio e de articulistas selecionados ", "url": "/opiniao/" }, "previousItem": "/#listItem" } ] }, { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": "/opiniao/2025/04/7106276-e-o-fim-da-era-do-dolar.html", "name": "É o fim da era do dólar?", "headline": "É o fim da era do dólar?", "description": "", "alternateName": "Artigo", "alternativeHeadline": "Artigo", "datePublished": "2025-04-10T06:00:00Z", "articleBody": "<p class="texto"><strong>BENITO SALOMÃO</strong> —<em> professor do Instituto de Economia e Relações Internacionais (IERI-UFU)</em></p> <p class="texto"> </p> <p class="texto">Na última semana, a conjuntura de curto prazo piorou nitidamente. A nova política tarifária do governo dos Estados Unidos tem causado grande pânico sobre os mercados no mundo todo e produzido uma enorme volatilidade em preços financeiros. Desde o fim do regime de Bretton Woods, em que foi sepultado o padrão dólar-ouro e estabelecido o regime de câmbio flutuante, a moeda americana galgou o posto de padrão monetário internacional, o que gerou assimetrias nas relações monetárias entre países.</p> <p class="texto">A teoria monetária de Keynes (1936), pautada na hipótese da pPreferência pela liquidez, trata a moeda como um ativo demandado por agentes econômicos pelas razões: i) transacional, a moeda é demandada para liquidar transações econômicas quaisquer; ii) precaucional, isto é, num contexto de incertezas, a moeda deve ser demanda para além das necessidades transacionais, a fim amortecer os impactos de choques adversos e; iii) especulativa, que trata a moeda como um ativo que concorre com outros ativos líquidos e ilíquidos como parte dos portfólios de agentes. Neste mundo, a moeda deve ter funções adicionais para além de um mero meio de troca, deve ser também uma unidade de conta e uma reserva de valor.</p> <p class="texto">Embora, originalmente, a teoria Keynesiana da moeda tenha sido pensada para um contexto nacional, ela pode ser facilmente estendida para a relação entre países, como muito bem demonstrado por De Conti, Prates e Plihon (2010). Como bem argumentam os autores, uma moeda pode exercer, em escala global, a função de meio internacional de trocas, unidade internacional de contas e reserva internacional de valor. Em alguns momentos da história, alguns esforços foram feitos a fim de construir um padrão monetário internacional supranacional, cuja oferta monetária não fosse controlada, individualmente, por um único país. Tais esforços, no entanto, não resultaram em efeitos práticos e o dólar americano ocupou, desde então, este espaço.</p> <p class="texto">Inúmeras consequências surgem da adoção internacional de um padrão monetário que seja nacional. Em primeiro lugar, as condições de liquidez internacional am a estar subordinadas aos objetivos da política monetária de um país específico, no caso, os Estados Unidos. "O dólar é nossa moeda, mas é vosso problema", frase atribuída a John Connally, então secretário do Tesouro dos EUA no início da década de 1970 e que expressa bem a condição de subordinação das condições de liquidez internacional a objetivos domésticos de uma única nação.</p> <p class="texto">Na saída da crise de 2008, quando a taxa de juros do Federal Reserve (FED) chegou próxima a 0% (fenômeno conhecido na literatura como zero lower bound), e os efeitos daquela recessão geraram fortes temores de deflação nos EUA, mecanismos de política monetária não convencionais foram postos em prática para estimular a recuperação econômica. Entre eles, os famosos Quantitative Easing (QE),  isto é, a compra de ativos "podres" do sistema bancário americano pelo FED, financiada pela expansão do seu ivo, o que significava emissão de moeda na prática. Ao todo, as emissões monetárias daquele período chegaram à casa dos US$3 trilhões e dado que o dólar é um padrão monetário internacional, parte dessa expansão monetária transbordava para outros países, gerando apreciação cambial em quase todo o mundo. Na época, autoridades brasileiras acusaram os EUA de produzirem uma guerra cambial.</p> <p class="texto">Uma outra consequência de um sistema monetário internacional cujo dólar é o ativo central denomina-se "Privilégio Exorbitante". Se qualquer nação do mundo opera sistematicamente com deficits em Transações Correntes (TCs), de duas uma: ou haverá depreciações cambiais visando desestimular importações, ou expansão dos juros domésticos acima dos juros internacionais, a fim de atrair capitais para financiar o deficit. Essas consequências são impostas a todos os países, exceto aos EUA que podem financiar os seus deficits em TCs com emissão de dólares, uma vez que sua moeda é demandada por outros países como Reservas Internacionais. A ausência de restrições externas nos EUA é o que se chama de "Privilégio Exorbitante".</p> <p class="texto">Esse privilégio exorbitante, que colocou a moeda americana no centro das relações econômicas internacionais, foi o que permitiu décadas de deficits acumulados nas relações comerciais entre EUA e Ásia. Um arranjo estruturado em uma divisão clara,  pelo qual a Ásia produzia e exportava para os EUA que consumia acumulando deficits. Agora, diante da guerra tarifária, que na prática parece significar a renúncia dos EUA ao seu privilégio exorbitante, é possível que o mundo esteja diante do início de uma ruptura com esse arranjo financeiro internacional onde o dólar exerce hegemonicamente o papel de reserva de valor. Essa história ainda está a ser contada.</p> <p class="texto"> <br /></p> <p class="texto"><div class="read-more"> <h4>Saiba Mais</h4> <ul> <li> <a href="/opiniao/2025/04/7104342-desigualdade-social-e-trump.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/07/opi_0804-49323468.jpg?20250407212749" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>Desigualdade social e Trump</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/opiniao/2025/04/7102702-brasil-espectador-ou-lider.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/06/niobium_crystals_and_1cm3_cube-49224059.jpg?20250406001856" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>Brasil: espectador ou líder?</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/opiniao/2025/04/7102622-visao-do-correio-tarifaco-de-trump-aproxima-mercosul-da-uniao-europeia.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/04/materia-49142566.jpg?20250405074936" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>Visão do Correio: Tarifaço de Trump aproxima Mercosul da União Europeia</span> </div> </a> </li> </ul> </div></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": [ "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/09/1200x801/1_opiniao2_1004-49458326.jpg?20250409205954?20250409205954", "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/09/1000x1000/1_opiniao2_1004-49458326.jpg?20250409205954?20250409205954", "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/04/09/800x600/1_opiniao2_1004-49458326.jpg?20250409205954?20250409205954" ], "author": [ { "@type": "Person", "name": "Opinião", "url": "/autor?termo=opiniao" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } }, { "@type": "Organization", "@id": "/#organization", "name": "Correio Braziliense", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "/_conteudo/logo_correo-600x60.png", "@id": "/#organizationLogo" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/correiobraziliense", "https://twitter.com/correiobraziliense.com.br", "https://instagram.com/correio.braziliense", "https://www.youtube.com/@correio.braziliense" ], "Point": { "@type": "Point", "telephone": "+556132141100", "Type": "office" } } ] } { "@context": "http://schema.org", "@graph": [{ "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Início", "url": "/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Cidades DF", "url": "/cidades-df/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Politica", "url": "/politica/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Brasil", "url": "/brasil/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Economia", "url": "/economia/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Mundo", "url": "/mundo/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Diversão e Arte", "url": "/diversao-e-arte/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Ciência e Saúde", "url": "/ciencia-e-saude/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Eu Estudante", "url": "/euestudante/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Concursos", "url": "/euestudante/concursos/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Esportes", "url": "/esportes/" } ] } 3s6w1j

É o fim da era do dólar? 1x1b2y
Artigo

É o fim da era do dólar? 4jb17

A nova política tarifária do governo dos Estados Unidos tem causado grande pânico sobre os mercados no mundo todo e produzido uma enorme volatilidade em preços financeiros 2j10w

BENITO SALOMÃO professor do Instituto de Economia e Relações Internacionais (IERI-UFU)

 

Na última semana, a conjuntura de curto prazo piorou nitidamente. A nova política tarifária do governo dos Estados Unidos tem causado grande pânico sobre os mercados no mundo todo e produzido uma enorme volatilidade em preços financeiros. Desde o fim do regime de Bretton Woods, em que foi sepultado o padrão dólar-ouro e estabelecido o regime de câmbio flutuante, a moeda americana galgou o posto de padrão monetário internacional, o que gerou assimetrias nas relações monetárias entre países.

A teoria monetária de Keynes (1936), pautada na hipótese da pPreferência pela liquidez, trata a moeda como um ativo demandado por agentes econômicos pelas razões: i) transacional, a moeda é demandada para liquidar transações econômicas quaisquer; ii) precaucional, isto é, num contexto de incertezas, a moeda deve ser demanda para além das necessidades transacionais, a fim amortecer os impactos de choques adversos e; iii) especulativa, que trata a moeda como um ativo que concorre com outros ativos líquidos e ilíquidos como parte dos portfólios de agentes. Neste mundo, a moeda deve ter funções adicionais para além de um mero meio de troca, deve ser também uma unidade de conta e uma reserva de valor.

Embora, originalmente, a teoria Keynesiana da moeda tenha sido pensada para um contexto nacional, ela pode ser facilmente estendida para a relação entre países, como muito bem demonstrado por De Conti, Prates e Plihon (2010). Como bem argumentam os autores, uma moeda pode exercer, em escala global, a função de meio internacional de trocas, unidade internacional de contas e reserva internacional de valor. Em alguns momentos da história, alguns esforços foram feitos a fim de construir um padrão monetário internacional supranacional, cuja oferta monetária não fosse controlada, individualmente, por um único país. Tais esforços, no entanto, não resultaram em efeitos práticos e o dólar americano ocupou, desde então, este espaço.

Inúmeras consequências surgem da adoção internacional de um padrão monetário que seja nacional. Em primeiro lugar, as condições de liquidez internacional am a estar subordinadas aos objetivos da política monetária de um país específico, no caso, os Estados Unidos. "O dólar é nossa moeda, mas é vosso problema", frase atribuída a John Connally, então secretário do Tesouro dos EUA no início da década de 1970 e que expressa bem a condição de subordinação das condições de liquidez internacional a objetivos domésticos de uma única nação.

Na saída da crise de 2008, quando a taxa de juros do Federal Reserve (FED) chegou próxima a 0% (fenômeno conhecido na literatura como zero lower bound), e os efeitos daquela recessão geraram fortes temores de deflação nos EUA, mecanismos de política monetária não convencionais foram postos em prática para estimular a recuperação econômica. Entre eles, os famosos Quantitative Easing (QE),  isto é, a compra de ativos "podres" do sistema bancário americano pelo FED, financiada pela expansão do seu ivo, o que significava emissão de moeda na prática. Ao todo, as emissões monetárias daquele período chegaram à casa dos US$3 trilhões e dado que o dólar é um padrão monetário internacional, parte dessa expansão monetária transbordava para outros países, gerando apreciação cambial em quase todo o mundo. Na época, autoridades brasileiras acusaram os EUA de produzirem uma guerra cambial.

Uma outra consequência de um sistema monetário internacional cujo dólar é o ativo central denomina-se "Privilégio Exorbitante". Se qualquer nação do mundo opera sistematicamente com deficits em Transações Correntes (TCs), de duas uma: ou haverá depreciações cambiais visando desestimular importações, ou expansão dos juros domésticos acima dos juros internacionais, a fim de atrair capitais para financiar o deficit. Essas consequências são impostas a todos os países, exceto aos EUA que podem financiar os seus deficits em TCs com emissão de dólares, uma vez que sua moeda é demandada por outros países como Reservas Internacionais. A ausência de restrições externas nos EUA é o que se chama de "Privilégio Exorbitante".

Esse privilégio exorbitante, que colocou a moeda americana no centro das relações econômicas internacionais, foi o que permitiu décadas de deficits acumulados nas relações comerciais entre EUA e Ásia. Um arranjo estruturado em uma divisão clara,  pelo qual a Ásia produzia e exportava para os EUA que consumia acumulando deficits. Agora, diante da guerra tarifária, que na prática parece significar a renúncia dos EUA ao seu privilégio exorbitante, é possível que o mundo esteja diante do início de uma ruptura com esse arranjo financeiro internacional onde o dólar exerce hegemonicamente o papel de reserva de valor. Essa história ainda está a ser contada.

 

Mais Lidas 2m2j3i