
» RAUL JUNGMANN, Ex-ministro da Reforma Agrária,da Defesa e da Segurança Pública. Atual diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)
Incorporada pelas sociedades em todo o mundo, a diversidade, cuja melhor síntese é a de um processo globalizado de inclusão social, vem sofrendo alguma inflexão, com mudanças de governos e conflitos ideológicos, que requer atenção e reação para evitar que venha a ser alvo de uma nova onda negacionista.
Não à toa, no livro Fascismo eterno, o filósofo Umberto Eco ensina que a perspectiva reacionária se escora no tradicionalismo como elemento imutável para justificar a oposição a quaisquer avanços, por já trazer o caminho da verdade. Algo na contramão da ciência, cuja evolução nasce da ruptura de consensos e alcança descobertas e soluções a partir das divergências.
A diversidade está na base do nosso enredo civilizatório, com evolução arrancada em muitas lutas ao longo da história, permeando a evolução da humanidade paralelamente ao seu desenvolvimento e progresso. É preciso enxergá-la como indissociável da evolução, pois esta ocorre a partir das diferenças.
Alcançamos um ponto de não retorno em sua trajetória, mas o massacrante volume de notícias que caracteriza a informação nestes tempos de redes sociais impõe o desafio de distingui-la da pauta comum e de realçá-la como conceito e regra fundamentais.
Diversidade é democracia, acima de tudo — e muito além do plano retórico. É uma cultura que visa ao reconhecimento do ser humano de forma integral, é a forma de enxergar a humanidade no outro. Não é uma construção fácil, pois, como disse o poeta Caetano Veloso, "Narciso acha feio tudo o que não é espelho".
Não começou ontem. Faz parte de uma luta para superar a dificuldade em nos identificarmos com aqueles que vivem e pensam diferente — seja em termos políticos, sociais, raciais ou de gênero. Por isso, é essencial para que possamos alcançar a meta de uma sociedade planetária mais pacificada.
O grande primeiro o da diversidade no Brasil foi, sem dúvida, a Abolição, que se desdobrou em um século, desde a edição da Lei Eusébio de Queiroz (1850), que proibiu o tráfico de escravos, abrindo caminho para a Lei do Ventre Livre, depois a dos sexagenários, até chegar à Lei Áurea, semente do fim do Império. Foi o movimento pioneiro no roteiro de combate às desigualdades.
Na sequência da história, em 1932, o Código Eleitoral estabeleceu o voto feminino, ainda que em termos facultativos. Nos anos de 1960, com a martirização de Luther King, os Estados Unidos adotaram a lei dos direitos civis; nos anos 1970, a causa feminista, com origem no movimento sufragista bem anterior; nos anos 1980, com as primeiras políticas de diversidade. Na década de 1990, no Brasil, a Lei de Oportunidades Iguais.
Não se trata, portanto, de uma causa nova. Nos tempos atuais, evolui para que se torne parte indissociável da democracia, extensiva a toda a sociedade, com legislações punitivas à discriminação em todas as suas formas. Nesse estágio, alcança o mundo empresarial, firmando-se como referência global para os negócios por meio da Agenda ESG, que se traduz por ambiental, social e governança, um selo indispensável às empresas com visão e ambição de futuro.
No entanto, a despeito dos avanços conquistados, a diversidade ainda não se reflete de forma plenamente afirmativa. De acordo com relatório de 2019 do Fórum Econômico Mundial (WEF), a média global para eliminar a desigualdade econômica entre os gêneros é de 99,5 anos, e o Brasil está na 92ª posição, num ranking de 153 países.
No meio empresarial — e aqui me permito o foco ao âmbito mineral —, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) registrou um aumento de 88%, de 2021 para 2023, em contribuições para estruturar um banco de dados sobre ações temáticas relacionadas à Agenda ESG da Mineração do Brasil.
O aumento considerável da presença dessas empresas no programa de compartilhamento de dados ligados à agenda ESG demonstra que o setor está engajado nos compromissos com a sustentabilidade e que busca contribuir para a evolução dessa agenda, com respostas sólidas às demandas de meio ambiente, sociais e de governança.
Ter uma meta de integração funcional infunde o sentimento de pertencimento e pavimenta o caminho para que uma empresa nacional se conecte ao mundo, com efeitos positivos no ambiente de trabalho, mas, sobretudo, com impacto nos resultados.
Vale lembrar que a pesquisa da consultoria McKinsey, publicada em 2018, indica que os quadros mais inclusivos e diversos possuem desempenho financeiro melhor que outros.
Potencializam melhorias na segurança operacional, impactam positivamente a cultura da organização, são mais produtivos e trabalham juntos na resolução de problemas e na tomada de decisões.