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Violência que só cresce

Um dos reflexos é a elevação na quantidade de crianças, a partir de 10 anos, e de adolescentes que se suicidaram: entre 2013 e 2023, 11.494 deles tiraram a própria vida, um aumento de 42,7%

Fotografia para ilustrar matéria sobre violência infantil, na foto uma criança é vista em silhueta através de uma porta.     -  (crédito:  Marcelo Casal/Agência Brasil)
Fotografia para ilustrar matéria sobre violência infantil, na foto uma criança é vista em silhueta através de uma porta. - (crédito: Marcelo Casal/Agência Brasil)
O Atlas da Violência, divulgado na última segunda-feira, deu um vislumbre, em números, da barbárie que se desenrola todos os dias neste país contra crianças e adolescentes. São dados aterradores de homicídios e outras violências, como físicas, sexuais e psicológicas.
O levantamento mostrou que, de 2013 a 2023, foram assassinadas 2.124 crianças de 0 a 4 anos e 6.480, meninos e meninas entre 5 e 14 anos. A residência foi o local onde ocorreu a maioria dos crimes: em 67,8% e 65,9% dos casos, respectivamente.

A chamada violência não letal — física, psicológica, sexual e negligência/abandono — teve elevação de 36,2% entre 2022 e 2023. O estudo chamou a atenção, também, para o crescimento de 52,2% no número de notificações de agressões físicas a crianças de 0 a 4 anos nesse período.

A violência provoca uma série de impactos físicos e mentais em meninos e meninas, levando a quadros como ansiedade e depressão. Um dos reflexos é a elevação na quantidade de crianças, a partir de 10 anos, e de adolescentes que se suicidaram: entre 2013 e 2023, 11.494 deles tiraram a própria vida, um aumento de 42,7%. "Esse número, principalmente, revela o nosso malogro civilizatório em cuidar das novas gerações", aponta o relatório, divulgado pelo Ipea, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Os assassinatos e as demais violências são praticados, majoritariamente, por familiares ou parentes, ou seja, justamente quem deveria proteger meninos e meninas. As agressões partem de mães, pais, padrastos, madrastas, avós, tios, irmãos, primos.

Há leis que determinam a proteção de crianças e adolescentes — especialmente nossa Carta Magna — e há uma série de pesquisas e estudos mostrando a extensão da pandemia de violência contra eles, mas não há, de forma alguma, urgência do poder público para combater essa atrocidade.

O enfrentamento é complexo, sim, pois a brutalidade ocorre, em sua imensa maioria, no ambiente doméstico, mas o tamanho do desafio não pode ser justificativa para a omissão. Faltam políticas públicas efetivas de prevenção e cuidado. Falta engajar sociedade e famílias nessa luta. Temos de abrir os olhos para a dimensão da atrocidade que ocorre rotineiramente neste país e suas terríveis consequências.

Daniel Cerqueira, técnico do Ipea, enfatizou a calamidade, em entrevista ao Estadão: "Nossas crianças e jovens estão sendo massacrados dentro de casa". Até quando tanto sofrimento continuará a ser, criminosamente, ignorado?
Violência que só cresce

O Atlas da Violência, divulgado na última segunda-feira, deu um vislumbre, em números, da barbárie que se desenrola todos os dias neste país contra crianças e adolescentes. São dados aterradores de homicídios e outras violências, como físicas, sexuais e psicológicas.

O levantamento mostrou que, de 2013 a 2023, foram assassinadas 2.124 crianças de 0 a 4 anos e 6.480, meninos e meninas entre 5 e 14 anos. A residência foi o local onde ocorreu a maioria dos crimes: em 67,8% e 65,9% dos casos, respectivamente.

A chamada violência não letal — física, psicológica, sexual e negligência/abandono — teve elevação de 36,2% entre 2022 e 2023. O estudo chamou a atenção, também, para o crescimento de 52,2% no número de notificações de agressões físicas a crianças de 0 a 4 anos nesse período.

A violência provoca uma série de impactos físicos e mentais em meninos e meninas, levando a quadros como ansiedade e depressão. Um dos reflexos é a elevação na quantidade de crianças, a partir de 10 anos, e de adolescentes que se suicidaram: entre 2013 e 2023, 11.494 deles tiraram a própria vida, um aumento de 42,7%. "Esse número, principalmente, revela o nosso malogro civilizatório em cuidar das novas gerações", aponta o relatório, divulgado pelo Ipea, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Os assassinatos e as demais violências são praticados, majoritariamente, por familiares ou parentes, ou seja, justamente quem deveria proteger meninos e meninas. As agressões partem de mães, pais, padrastos, madrastas, avós, tios, irmãos, primos.

Há leis que determinam a proteção de crianças e adolescentes — especialmente nossa Carta Magna — e há uma série de pesquisas e estudos mostrando a extensão da pandemia de violência contra eles, mas não há, de forma alguma, urgência do poder público para combater essa atrocidade.

O enfrentamento é complexo, sim, pois a brutalidade ocorre, em sua imensa maioria, no ambiente doméstico, mas o tamanho do desafio não pode ser justificativa para a omissão. Faltam políticas públicas efetivas de prevenção e cuidado. Falta engajar sociedade e famílias nessa luta. Temos de abrir os olhos para a dimensão da atrocidade que ocorre rotineiramente neste país e suas terríveis consequências.

Daniel Cerqueira, técnico do Ipea, enfatizou a calamidade, em entrevista ao Estadão: "Nossas crianças e jovens estão sendo massacrados dentro de casa". Até quando tanto sofrimento continuará a ser, criminosamente, ignorado?

postado em 15/05/2025 06:04
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