
A comunidade médica e científica assiste com cautela, desde ontem, à chegada de mais um medicamento às farmácias brasileiras voltado para o emagrecimento. Embora inicialmente indicado para o tratamento do diabetes tipo 2, Mounjaro (tirzepatida) vai para as prateleiras como peça relevante para o controle crônico de peso, completando a tríade com dieta e atividade física. A tirzepatida foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro de 2023, mas somente agora será comercializada no Brasil, numa tentativa de evitar a descontinuação do produto no mercado brasileiro.
Como seus concorrentes Ozempic e Wegovy, Mounjaro é injetável, aplicado semanalmente, e estreia com um preço salgado: a partir de R$ 1,4 mil. Uma das diferenças, porém, é que entra no mercado brasileiros com regras mais rígidas para a comercialização. A Anvisa aprovou em abril uma medida que torna obrigatória a retenção da receita médica para a compra de medicamentos à base de análogos do GLP-1 (Glucagon-like Peptide-1, um hormônio produzido naturalmente pelas células do intestino durante a alimentação e que ajuda a reduzir os níveis de açúcar no sangue e a controlar a obesidade). Incluem-se nesse critério os três remédios citados acima.
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Com essa decisão, que a a vigorar após 60 dias da publicação no Diário Oficial da União (DOU), a agência visa restringir o uso indiscriminado dos fármacos fora das indicações aprovadas em bula. Atualmente, mesmo a venda sob prescrição médica sendo obrigatória, o que se vê é que os produtos são frequentemente adquiridos sem orientação especializada, inclusive, em plataformas on- line.
Com a retenção obrigatória da receita, as autoridades pretendem ainda conter o contrabando desses medicamentos — a exemplo de recentes apreensões em aeroportos brasileiros de canetas emagrecedoras adquiridas no exterior, burlando as normas de vigilância sanitária e desrespeitando as regras de armazenamento, como temperatura específica, sob risco de perda de eficácia.
Fato é que esse tipo de medicação, embora aja efetivamente no que se espera do ponto de vista médico, proporcionando rápido emagrecimento, pode causar efeitos colaterais se usada sem acompanhamento de um especialista e de maneira prolongada, especialmente em pacientes com outras enfermidades e entre aqueles preocupados unicamente com os efeitos estéticos. Há de se ressaltar que as canetas emagrecedoras são indicadas para o tratamento de obesidade, com pesquisas e observações clínicas indicando benefícios contra outras doenças, como cardíacas e hepáticas.
Com mais uma opção no mercado brasileiro, caberá à Anvisa a fiscalização e o monitoramento constantes das farmácias para que o o a esses medicamentos seja controlado, minimizando riscos e quaisquer ilicitudes. Quanto à inclusão dessa classe de remédios no Sistema Único de Saúde (SUS), trata-se de um capítulo à parte, ainda sem data prevista, mas que merece debate aprofundado, ando por questões como o democrático aos avanços na medicina e promoção aos cuidados com a saúde para além de intervenções farmacológicas.