
Na última quinta-feira, uma adolescente de 15 anos morreu no Distrito Federal em consequência de um perigo cada vez mais ameaçador: os cigarros eletrônicos. A jovem estava internada em estado grave havia praticamente um mês, com severas complicações pulmonares e uma tosse persistente que a acometia desde o início do ano. A dependência deixou marcas devastadoras na vítima. A estudante veio a óbito com o pulmão esquerdo em colapso, após um quadro inflamatório avançado.
O episódio na capital da República ocorreu na véspera do Dia Mundial sem Tabaco, lembrado ontem. E o Brasil enfrenta um momento muito preocupante em relação ao consumo do cigarro. Dados do Ministério da Saúde alertam para um aumento de 25% no número de fumantes entre 2023 e 2024. É o pior registro feito pelas autoridades sanitárias em quase duas décadas.
"Pela primeira vez desde 2007, nós temos um ponto que está ascendente na curva. Isso nunca foi visto. Esse é um dado muito, muito preocupante. Então, é urgente que a gente volte a intervir mais duramente sobre as ações que a gente já sabe que dão certo, e especialmente se comunicando com os jovens", alertou a diretora de Análise de Doenças Não Transmissíveis do ministério, Letícia de Oliveira Cardoso, em entrevista à Agência Brasil.
O aumento expressivo de fumantes indica um claro retrocesso na política antitabagismo. A cada dia, 477 brasileiros morrem por consequência do tabagismo. Por ano, seria possível evitar 174 mil mortes provocadas pelo consumo de cigarro. As doenças ligadas ao fumo custam R$ 153 bilhões por ano ao país, entre atendimento a pacientes e outras consequências. Em contraponto, a arrecadação de impostos federais sobre os cigarros, uma forma de conter a escalada tabagista, totalizou R$ 8 bilhões em 2022 - apenas 5,2% dos custos provocados pelo cigarro.
A situação é alarmante em relação aos dispositivos eletrônicos. Apesar da venda proibida no Brasil, estão disseminados. Pelo menos 4 milhões de brasileiros são consumidores desses equipamentos, que concentram toda sorte de substâncias, muito mais perigosas do que as conhecidas nos cigarros convencionais.
Na guerra contra o tabagismo, seja o tradicional, seja a versão eletrônica, é preciso uma ação ampla e firme do poder público, somada à adesão da sociedade. Em abril do ano ado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) endureceu as medidas restritivas ao cigarro eletrônico. A Organização Mundial da Saúde, por sua vez, em documento divulgado na sexta-feira, emitiu alerta para a necessidade de proibir sabores artificiais em produtos de tabaco e nicotina, presentes em cigarros, sachês de nicotina, narguilés e cigarros eletrônicos.
Há um inimigo nos pulmões dos brasileiros, especialmente dos jovens. Urge resgatá-los do vício devastador e fazer o possível para mantê-los afastados dessa ameaça.