A Polícia Federal (PF) encontrou, na casa do general Augusto Heleno, uma agenda com “diretrizes estratégicas” para planejamento de golpe de Estado. Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, ele anotava instruções para disseminar ataques ao sistema eletrônico de votação e para colocar em prática a tentativa de tomada do poder.
A informação se encontra no relatório da Polícia Federal (PF) sobre a investigação da organização criminosa que tinha por fim tentar manter o então presidente, Jair Bolsonaro, no poder, a partir de um golpe de Estado. De acordo com o documento, foram encontrados “dados relevantes para a investigação contidos em uma agenda com logomarca da Caixa Econômica Federal”.
Em uma das anotações, Augusto Heleno escreve, sob o título ‘reunião de diretrizes estratégicas’, os que orientam, entre outros, a busca por “aliados confiáveis” ao presidente; a não referência a “homossexuais, negros, maricas”, bem como a não pronunciação de comentários inconvenientes sobre o povo brasileiro; e a continuação de críticas às urnas eletrônicas.
“1. Fazer um mapa com o levantamento das áreas onde o Pres. (presidente) possui aliados confiáveis
2. Buscar relacionar os órgãos de imprensa que podem ser usados como meios de divulgação de ações de governo. Utilizar com mais frequência a EBC (Empresa Brasil de Comunicação)
3. Não fazer qualquer referência a homossexuais, negros, maricas, etc. Evitar comentários desairosos e generalistas sobre o povo brasileiro. Ao contrário, exaltar as qualidades do povo: lutador, guerreiro, alegre, otimista
4. Estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações. É válido continuar a criticar a urna eletrônica.”
Há também anotações sobre fraudes no sistema de votação e transmissão de dados das urnas eletrônicas, com frases como “fraudes pré-programadas”, “mecanismo usado para fraudar”, “escritório vende algoritmos”.
Outros escritos denunciam ação que seria feita por meio do Ministério da Justiça (MJ) a fim de coagir a Advocacia-Geral da União (AGU) a se manifestar em documento “fundamentado na Constituição Federal, afirmando que ordens, entendidas manifestamente ilegais, não fossem cumpridas”. De acordo com o relatório, “tal intento visava obstar a Polícia Federal de exercer seus deveres constitucionais, no cumprimento de determinações judiciais contra seu grupo político e apoiadores”.
“Os elementos de prova não deixam dúvidas de que a organização criminosa estava elaborando estudos para de alguma forma tentar coagir integrantes dos sistema de persecução penal para que as investigações contra seus integrantes fossem cessadas, ainda que pela aprovação de verdadeiras aberrações jurídicas, como um parecer istrativo declarar uma ordem judicial inconstitucional, colocando a AGU como órgão revisor de decisões jurisdicionais, fato não abarcado pela Constituição Federal de 1988.”
Por fim, em outra página da agenda, são encontrados, sob o título ‘Seg Institucional’, as seguintes anotações: “1 – Limiar do Rompimento; 2 – Jogar nas quatro linhas; 3 – ABIN; 4 – PROCESSO ELEITORAL; 5 – Legislativo e Judiciário; 6 – Ramagem; 7 – Sit Min Educação e Saúde; 8 – Crime organizado(,) Segurança pública – Reajuste Sit RJ, SP, Amazônia, Nordeste”.
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À época, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) estava subordinada ao GSI, então comandado por Augusto Heleno. Há anotações que indicam ações articuladas entre o general e o órgão, como: “Vicente Cândido (ex-deputado PT). É o novo Vaccari. ABIN está de olho nele”.
Outros documentos que descrevem argumentos contra urnas eletrônicas foram encontrados na casa de Augusto Heleno.
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