
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro apontou o ex-presidente como o líder de um plano de golpe de Estado em 2022 - (crédito: Ed Alves CB/DA Press)
Depois de dizer ontem (20/2) que cagava para sua possível prisão, o ex-presidente Jair Bolsonaro compartilhou nesta sexta-feira (21), em suas redes sociais, diversos posts que questionam a validade da delação feita por seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. O tenente-coronel apontou Bolsonaro como o líder de um plano de golpe de Estado em 2022.
Em uma das postagens em seu perfil no X (antigo Twitter), Bolsonaro comparou o Brasil à ditadura da Nicarágua. “A Nicarágua não tem nenhuma inveja do Brasil”, escreveu. Em outra, compartilhou um comentário que questionava a legalidade da participação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na delação.
O argumento é de que Moraes, como juiz e também vítima dos planos golpistas, não poderia participar da delação. O post também afirma que o ministro constrangeu o investigado “mediante ameaça de prisão”. “Sem mencionar que isso ainda nem era uma denúncia apresentada e nem foro pertinente. Tudo normal na democracia da Dinamarca”, escreveu Bolsonaro.
Outro post, em tom irônico, o ex-presidente escreveu: “Um convite ao debate. Que tal escrever a frase: ‘O juiz pode participar das audiências realizadas durante a delação premiada?’ no ChatGPT?”
A ferramenta, no entanto, nem sempre provê informações corretas. A própria plataforma contém um aviso: "ChatGPT pode cometer erros. Considere verificar informações importantes".
Bolsonaro ainda não comentou publicamente os vídeos da delação de Mauro Cid. Diversos trechos da colaboração premiada já foram publicadas pela imprensa ao longo dos últimos dois anos (leia abaixo alguns registros feitos pelo Correio no período), mas foi só nessa quinta-feira que o sigilo dos vídeos foi liberado.
- maio/2023: Ex-major e Mauro Cid discutiram golpe de estado e prisão de Moraes
- junho/ 2023: Minuta golpista cita jargão de Bolsonaro: “Dentro das quatro linhas”
- setembro/2023: Em delação, Cid diz que Bolsonaro consultou militares sobre golpes no país
- setembro/2023: Bolsonaro é acusado por ex-ajudante de tramar golpe de Estado
- fevereiro/2024: Bolsonaro ite que subestimou a delação de Mauro Cid
- novembro/2024: À PF, Cid confirma que Bolsonaro sabia sobre plano de golpe
- novembro/2024: Bolsonaro se reuniu com general para apoio militar a golpe, diz PF
- dezembro/2024: Bolsonaro tinha plano de golpe desde 2021, diz PF
A tônica da defesa do ex-presidente e do discurso de aliados que se manifestaram sobre o caso é a de que a delação não apresentaria provas suficientes para uma eventual condenação de Bolsonaro. Os advogados do ex-chefe do Executivo já adiantaram que vão pedir a anulação da colaboração de Cid.
Assuntos abordados por Cid em delações:
- Detalhes do plano de golpe: Cid afirmou que Bolsonaro liderou um grupo que planejava uma ruptura democrática no país depois de ser derrotado nas urnas em 2022. O plano envolvia militares, financiadores do agro e os manifestantes que vandalizaram a Esplanada em 8 de janeiro de 2023.
- Monitoramento de Moraes: o ex-ajudante de ordens confessou ter solicitado o monitoramento do ministro a pedido do então presidente Jair Bolsonaro. Moraes era tratado internamente com o codinome “professora”.
- Venda de joias e relógios: em uma delação sobre a venda de presentes oficiais no inquérito, Cid disse que Bolsonaro estava com medo de ficar sem dinheiro para pagar multas e outros débitos que contraiu enquanto era presidente. Por isso, pediu que ele vendesse relógios de luxo e joias dados por autoridades estrangeiras para ajudar com os custos.
- Fraude no cartão de vacina: outro inquérito que indiciou Bolsonaro foi o da fraude no cartão de vacinas no sistema do Ministério da Saúde. Cid confirmou que o mandante da fraude foi o então presidente.