
A cineasta Denise Moraes, professora e coordenadora de graduação do curso de Audiovisual da FAC-UnB, ressaltou a necessidade de se debater os temas abordados no filme Ainda estou aqui e destacou o papel da atriz Fernanda Torres como embaixadora do país. "O cinema nacional atravessou fronteiras", disse em entrevista às jornalistas Adriana Bernardes e Ana Maria Campos no Podcast do Correio:
Qual é o impacto para o cinema brasileiro de Ainda estou aqui ter ganhado o Oscar?
É enorme. Acho que não foi só o fato de ganhar, mas a campanha que eles fizeram ao redor do mundo, que foi muito forte. O cinema nacional atravessou fronteiras em que antes ninguém nem ouvia falar do cinema brasileiro. Fernanda Torres teve um papel fundamental como embaixadora do Brasil. Eu a vejo como uma embaixadora porque, primeiro, ela é de uma educação que a gente fica orgulhoso de ter uma artista, uma atriz brasileira, com a postura que ela tem. Em toda entrevista, fala da Eunice Paiva e retoma a questão do período da ditadura. Então, está sempre trazendo o olhar das pessoas para a importância histórica do filme. O filme faz uma propaganda para fora sobre o nosso cinema, mas aqui dentro também, de que a gente pode também levar o nosso cinema para outros lugares e abrir debates que são importantes.
A abordagem do drama dá a impressão de que poderia acontecer com qualquer família e, por isso, deixou as pessoas tão sensibilizadas?
Eu acredito que sim. Não temos muitos filmes que falam sobre esse período sob o ponto de vista familiar. É um filme que tem esse olhar diferenciado. Propõe uma perspectiva da família pelo olhar da mãe. Mas eu acho que ele não deixa de fora os filhos. Vai contagiando as pessoas, mas também vai remoendo as nossas memórias ligadas à ditadura. O filme fala, sutilmente, não apenas sobre a questão do medo, mas também sobre a questão da liberdade. Tem toda uma relação entre o privado e o público, que a por essa liberdade que eles tinham. E, de repente, essa liberdade é cerceada. O medo estava ali rondando, mas ainda não invadia o espaço da família. E, aí, de repente, ele entra em casa, que é esse lugar do resguardo. A ditadura foi isso, ela invadiu casas e levou pessoas que eram as nossas pessoas queridas, afetuosas, os nossos amigos e os nossos pais.
Acredita que esse filme tem o poder de levar à reflexão pessoas que ainda defendem e apoiam ditaduras?
Acho que o cinema tem um poder transformador. Você pode, sim, assistir a um filme e rever a história, porque a gente sabe que muitas pessoas não conhecem a história desse período da ditadura. O filme também vem nesse sentido de esclarecer, de fato, o que aconteceu. Quando a gente diz que muitas pessoas foram torturadas e mortas, muitas pessoas falam que isso não existiu. Tem um aspecto no filme que eu acho muito forte, que é a questão das sequelas que a ditadura deixou nas gerações futuras. Acho que vai ser uma responsabilidade, agora, do governo de pensar nas comissões, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão da Anistia.
Confira a íntegra do Podcast do Correio
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
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