
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a reunião preparatória entre chefes de Estado e de Governo para a 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30), ontem, para enfatizar a gravidade do momento vivido pelo planeta diante das mudanças climáticas. Ele frisou que o "aquecimento global está ocorrendo em ritmo mais acelerado do que o previsto".
"Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer. Precisamos assegurar que o multilateralismo e a cooperação internacional sigam como pedra angular da resposta global à mudança do clima", exortou Lula, acrescentando que o Acordo de Paris foi fundamental para reverter projeções ainda mais pessimistas de elevação da temperatura.
As preparações para a COP30 e as ações contra o aquecimento global am por um momento crítico desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca. Negacionista das mudanças climáticas, no plano interno o presidente vem cortando financiamentos para projetos e programas climáticos e, no externo, retirando os Estados Unidos de consensos globais sobre a necessidade da redução dos gases de efeito estufa e para a preservação de biomas — como a Amazônia.
Lula conduziu o encontro em conjunto com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que reuniu chefes de Estado e de governo, como o presidente da China, Xi Jinping; da França, Emmanuel Macron; da Turquia, Recep Tayyip Erdogan; e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O presidente alertou para o risco de ecossistemas como florestas, geleiras e mares atingirem pontos de não retorno, mencionando especificamente "a pior seca da história na Amazônia" e "o branqueamento massivo de corais no oceano causado pelo calor extremo". "Em 2024, a temperatura média da Terra ultraou pela primeira vez o limite crítico de 1,5° acima dos níveis pré-industriais", frisou.
Compromisso
Segundo Lula, o Brasil está inteiramente compromissado com a redução das emissões. "Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos. O planeta já está farto de promessas não cumpridas", ressaltou.
De acordo com Guterres, a reunião faz parte de uma mobilização mais ampla em torno da emergência climática e suas implicações para as economias globais. "Não temos um momento sequer a perder. Nenhuma região está sendo poupada da devastação das catástrofes climáticas que se aceleram. E essa crise está aprofundando a pobreza, deslocando comunidades e alimentando conflitos e instabilidade", advertiu.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com um novo modelo de desenvolvimento baseado em três pilares: prosperidade econômica, sustentabilidade ambiental e inclusão social.
Já a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, considerou a reunião "muito promissora" e cobrou que os países apresentem propostas mais ambiciosas, alinhadas com os objetivos do Acordo de Paris. A ministra também destacou iniciativas discutidas no encontro, como a criação de um fundo para recompensar financeiramente quem protege as florestas.
Agricultura
O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que o Brasil pretende dar protagonismo ao setor agrícola durante a conferência climática, em Belém, em novembro, mostrando seu papel para ajudar no combate às mudanças climáticas. "A agricultura é um tema que o Brasil quer acentuar muito", disse, em vídeo exibido durante o evento Rumo à COP30: O Agronegócio e as Mudanças Climáticas, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), ontem, em São Paulo.
Segundo Corrêa do Lago, a COP será uma oportunidade para o país mostrar como a produção agropecuária nacional pode ser parte da solução frente à crise climática. Ele destacou que, apesar de a agricultura ser tradicionalmente tratada apenas como vítima das mudanças no clima, há espaço para um novo olhar.
"A agricultura tem de aparecer como um dos principais elementos, não apenas no que diz respeito às consequências das mudanças climáticas, mas também ao que ela pode trazer de positivo", disse. O presidente da COP30 defendeu que o setor tem potencial de contribuir com soluções como, por exemplo, por meio da captura de carbono.
Indicado pelo governo para ser o climate high-level champion (campeão climático de alto nível) da COP30, o empresário Dan Ioschpe defendeu que o agronegócio tem papel estratégico no desenvolvimento socioeconômico do país e deve ser parte central da agenda climática. "É difícil para a gente ter uma estratégia de desenvolvimento socioeconômico no ambiente de sustentabilidade e de boas práticas que não contemple fortemente o agronegócio", explicou. (Com Agência Estado e colaboração de Fernanda Ghazali, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)Saiba Mais