
Após quase duas semanas de ime, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o União Brasil chegaram a um consenso sobre a sucessão no comando do Ministério das Comunicações na quinta-feira. O embate, porém, coloca em dúvida a relação entre o governo e o partido daqui para a frente, já que a demora foi vista pelo Planalto como um desrespeito. No terceiro ano de governo e com a pior crise de popularidade em todos os seus mandatos, o chefe do Executivo tem enfrentado maus momentos quando o assunto é a relação do Planalto com as legendas que deveriam garantir a governabilidade.
Os rumores de que siglas do Centrão estariam se preparando para deixar o governo circulam desde janeiro, quando ainda se discutia seriamente a possibilidade de uma reforma ministerial no primeiro semestre deste ano. Em alguns casos, como o do PSD, os recados enviados via imprensa tinham um objetivo claro: conseguir mais ministérios na Esplanada. Caciques do partido disseram na última semana que tinham interesse em assumir o Ministério das Comunicações, caso o ime com o União Brasil continuasse. "Lula ainda não nos procurou", disse o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ao Correio, ao ser questionado sobre o assunto.
Dentre os partidos do Centrão, no entanto, há quem considere prejudicial continuar a participar da gestão Lula diante dos atuais índices de popularidade e da proximidade com 2026. Depois de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter aberto o precedente de aumentar a participação do Congresso na execução do Orçamento em 2020 — quando iniciou-se a prática do orçamento secreto —, os partidos consideram a liberdade de indicação de recursos para redutos eleitorais (algo que, em vários casos, pode ser negociado diretamente no Legislativo) tão ou mais importante que os cargos na Esplanada.
Em um governo que vai mal em termos de popularidade, faz mais sentido, portanto, evitar ser associado ao Planalto e focar os esforços em aumentar a influência no Congresso. É o caso do próprio União Brasil, onde uma ala mais à direita tem intensificado a pressão para que a sigla se afaste de Lula, segundo uma fonte da legenda. Ela informou que setores do partido defendem uma candidatura própria ao Planalto em 2026 — o que possibilitaria negociar mais espaços em um eventual novo governo — e veem como insustentável a manutenção da aliança com a gestão do petista.
Até o momento, o nome do União para a corrida presidencial do ano que vem é o do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Aliado de Jair Bolsonaro (PL), ele já lançou a pré-candidatura e é um dos presidenciáveis que tenta ganhar espaço para se cacifar como sucessor do ex-presidente e candidato da direita para o próximo ano.
Sem consenso
A reação do Planalto à recusa de Pedro Lucas não foi consenso entre os auxiliares de Lula. Ministros ouvidos sob reserva atribuíram a confusão ao racha vivido pelo União Brasil e disseram que caberia ao partido resolver o ime. Não cogitaram, portanto, tirar a pasta da legenda. Parte do governo avaliou que, apesar do mal-estar causado pela recusa de Pedro Lucas, o presidente não está em condições de comprar uma briga com o União — que possui uma das maiores bancadas em ambas as Casas — em um momento da baixa popularidade e necessidade de apoio para pautas prioritárias no Legislativo, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Mais ainda: desagradar ao partido abriria uma crise também com o presidente do Congresso e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). O presidente do Senado vem se mostrando um aliado importante e fiel ao governo, como quando se recusou de pronto a dar andamento ao PL da Anistia, enquanto Hugo Motta (Republicanos-PB) deixou o tema ganhar força na Câmara.
Outra ala do governo, mais combativa, viu desrespeito na forma como o União Brasil lidou com a recusa. Afinal, Pedro Lucas chegou a ser anunciado oficialmente como ministro pela chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann. Prevaleceu, porém, o pragmatismo.
Um dos nomes mais influentes do União Brasil, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), indicou Frederico de Siqueira Filho, que presidia a Telebras para assumir a pasta no lugar de Lucas. O presidente Lula aceitou. A posse ocorreu na quinta-feira, a portas fechadas, sem estardalhaço. O engenheiro não é filiado ao União Brasil, é considerado um quadro técnico e tem a confiança do senador.
Movimentações
Se com o União Brasil, havia dificuldades em chegar a acordos envolvendo apoiar ou não as pautas do governo no Congresso, com a iminência da federação do partido com o Partido Progressistas (PP), que também tem ministro na Esplanada, o futuro fica ainda mais nebuloso. Depois de mais de três anos de confirmada a fusão entre DEM e PSL — um era uma sigla do Centrão clássico e outro cresceu impulsionado pelo extremismo do bolsonarismo —, políticos do União Brasil ainda avaliam que não houve uma "mistura" efetiva.
É possível constatar isso nos posicionamentos do partido quando o assunto é aprovar pautas do governo Lula. Mesmo com um ministro no governo Lula desde 2023, a sigla nunca entregou apoio maciço no Congresso. Há, ainda, quadros que apoiam abertamente as pautas da extrema-direita.
Quando a oposição coletou s para o requerimento da urgência da anistia na Câmara, por exemplo, 40 deputados do União Brasil am o pedido, mesmo com o trabalho de articulação feito pelo Palácio do Planalto para fazer deputados de diversas siglas voltarem atrás.
A chegada do PP pode dificultar e até inviabilizar a permanência do União Brasil no governo, já que as siglas ficarão atreladas por pelo menos quatro anos e terão que andar na mesma direção. Se depender do presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), essa direção será contrária a que for tomada pelo governo Lula. Próximo de Bolsonaro, Nogueira tem feito críticas quase diárias ao PT e a Lula.
Ao ver do deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), um dos principais nomes do União Brasil na Câmara, a federação colocará ambos os partidos em uma posição de vantagem quando o assunto é negociar apoios para 2026. No Congresso, o grupo teria 108 deputados e 13 senadores. "Você vai começar com o poder de resolução, de demanda muito maior. Esse é um jogo de ganha-ganha. É lógico que existem algumas incompatibilidades regionais, mais em questão do personalismo, que, muitas vezes, se impõem à política. Contudo, o diálogo também pode construir alternativas", disse o deputado.
Saiba Mais

Wal Lima
Repórter de PolíticaJornalista com mais de 10 anos de experiência, com especialização em Marketing Político Digital. Além da experiência em redação e portais, já atuei como assessora de comunicação de parlamentares na Câmara dos Deputados. Tenho o jornalismo como uma missão