
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), se irritou com o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, durante a audiência das testemunhas de acusação da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado, na tarde desta segunda-feira (19/5). O magistrado advertiu o militar pela falta de clareza nas respostas apresentada e cobrou responsabilidade em relação às informações apresentadas.
Moraes disse que viu contradições no depoimento que Freire Gomes ao STF em comparação aos esclarecimentos prestados à Polícia Federal. "Antes de responder, pense bem. A testemunha não pode deixar de falar a verdade. Se mentiu na polícia, tem que falar que mentiu na polícia. Não pode agora no STF dizer que não sabia. Ou o senhor falseou a verdade na polícia, ou está falseando aqui", disse o ministro. "Ou o senhor mentiu na polícia, ou está mentindo aqui no STF", completou.
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O STF começou a ouvir as testemunhas de acusação do processo da trama golpista. A oitiva ocorre por meio de videoconferência. Para a Polícia Federal, o ex-comandante do Exército afirmou que, no fim de 2022, participou de uma reunião na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro falou sobre um plano de golpe de Estado. Freire Gomes contou, aos investigadores, que advertiu o ex-chefe do Planalto e disse a ele que seria obrigado a prendê-lo caso a ideia fosse adiante.
No entanto, em depoimento à Suprema Corte, o militar disse que, na ocasião, apenas alertou Jair Bolsonaro sobre os riscos do plano criminoso. “A mídia até disse que eu dei voz de prisão ao presidente, e isso não aconteceu", declarou.
Por ser o relator do caso, Moraes preside a oitiva. Os demais ministros da Primeira Turma acompanham os depoimentos: Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, auxilia na condução das perguntas. As testemunhas se referem ao núcleo 1 da trama golpista. O grupo envolve Bolsonaro e outros sete aliados. Nesta segunda-feira, devem ser ouvidos o general Freire Gomes e o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, comandantes do Exército e da Aeronáutica, à época da elaboração da minuta golpista.
Até o momento, três grupos viraram réus na Suprema Corte pelo conluio, sendo 21 acusados. Entre eles, Jair Bolsonaro, apontado como o líder do chamado “núcleo crucial”. Segundo a Procuradoria, o ex-chefe do Executivo tinha ciência e participação ativa em uma trama golpista para se manter no poder e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também é descrito um plano de assassinato contra autoridades e o apoio aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 como a última cartada do grupo criminoso.