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Quero — e vou — ser mãe! A jornada para realizar o sonho da maternidade

Conheça a história de mulheres que enfrentaram todo o tipo de obstáculo até realizar o sonho de ter filhos

 02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José. -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

A maternidade é, hoje, uma escolha. Com diversas possibilidades de planejamento familiar e a liberdade trazida pelo feminismo, ser mãe não é, necessariamente, uma imposição ou mesmo a única opção disponível. Há quem diga que, sendo uma escolha, o ato de se tornar mãe e dedicar grande parte de sua vida a cuidar de outro ser humano totalmente dependente torna-se ainda mais valioso e bonito. 

E, embora possa parecer fácil e até mesmo natural, o caminho até ouvir o primeiro "mamãe" pode ser desafiador, demorado e cheio de lutos e perdas. Neste Dia das Mães, a Revista conversou com mulheres que percorreram caminhos diferentes e doloridos até poderem comemorar o segundo domingo de maio como sempre sonharam.

Nenhum obstáculo foi o suficiente para impedir que elas realizassem o sonho de ter um filho. E elas fazem questão de estender as mãos para as tentantes, mulheres em processo de tentar engravidar ou ter filhos por outras vias. Todas, ao dividir suas histórias, reforçam o quanto tudo vale a pena toda vez que abraçam suas crianças. 

Planos superiores 

"O universo planejou, foi tudo muito bem encaminhado por mãos divinas", define Vanuza Marinho Bispo, 55 anos, sobre sua jornada em direção a Lorenzo José Soares Bispo, 10, que a transformou, finalmente, em mãe. 

Desde o momento em que começou a tentar engravidar até a chegada de Lorenzo em sua vida, a bancária enfrentou 10 anos de espera. Ela e o marido, o servidor público aposentado Jusley José Soares, 56, tinham 35 e 36 anos e cinco anos de casados quando começaram as tentativas. 

"Mesmo antes de nos conhecermos, os dois tinham o desejo de ter filhos. Fomos adiando enquanto estudávamos para concursos e organizávamos outros aspectos da vida. Quando quis engravidar, não acontecia, e a idade foi nos dando aquele sinal vermelho", lembra Vanuza. 

 02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José e seu esposo Jusley José Soares.
02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José e seu esposo Jusley José Soares. (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Algum tempo depois e com receio de que as coisas não acontecessem naturalmente, Vanuza partiu para a inseminação artificial por meio da fertilização in vitro (FIV). Foram, ao todo, três tentativas em um período de quatro anos. "Depois da terceira vez que não deu certo, eu desisti. Mas apenas desse método, nunca do sonho de ser mãe", ressalta Vanuza. 

Seis meses depois de descartar a FIV como uma alternativa, Vanuza, com 41 anos, surpreendeu-se com uma gestação espontânea. A felicidade, no entanto, durou pouco. Dois meses depois, sofreu um aborto espontâneo. "Foi um baque, fiquei muito mal. O médico considerou que, por ter engravidado uma vez, eu poderia conseguir de novo", lembra. 

A adoção sempre foi um plano do casal. Vanuza conta que não começou o processo logo no início, pois tinha o receio de receber os dois bebês, o biológico e o adotado, ao mesmo tempo, e ela queria viver uma maternidade por vez. Cerca de um ano depois de perder o bebê, ela decidiu que não iria mais esperar. 

Dupla maternidade

Vanuza e Jusley entraram no curso de adoção da Vara da Infância e começaram a se preparar para a chegada do sonhado filho. No meio do curso, em meados de 2014, a moça que trabalhava na casa dos dois disse que estava grávida e revelou o desejo de que o bebê fosse adotado pelo casal. 

 02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José e seu esposo Jusley José Soares.
Vanuza Marinho com o filho Lorenzo José e o marido Jusley José Soares (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

"Ela era viúva e tinha cinco filhos do marido anterior, engravidou do namorado, que não queria assumir, e disse que não tinha condições de criar aquele bebê." Vanuza e Jusley levaram a proposta até a equipe que os atendia na Vara da Infância e foram aconselhados a declinar. 

Eles explicaram ao casal que uma adoção direta não era aconselhada nesse caso. Por conhecer os pais da criança e terem contato constante, eles poderiam ter mais dificuldades no futuro, além do risco de desistência da mãe biológica. 

O casal ofereceu, então, para serem os padrinhos do bebê, um menino, e darem todo o e para a funcionária durante a gravidez. Em fevereiro de 2015, quando a criança nasceu, eles tinham terminado o curso e estavam na fila de espera. 

Ao visitá-los no hospital, foram surpreendidos novamente. A moça reforçou que se eles quisessem, a proposta estava de pé, o bebê seria entregue para a adoção e ela queria muito que Vanuza e Jusley fossem seus pais. 

Antes de bater o martelo, no entanto, Vanuza revelou que fazia questão que a mãe biológica fizesse parte da vida de Lorenzo, assim como os cinco irmãos mais velhos. "Ele estava ganhando uma família, mas sem perder a outra, que já tinha antes de nós. Ele era amado e queríamos que soubesse disso. A família dele ia aumentar, o amor seria somado e não subtraído, fiz questão que ela também fosse chamada de mãe", conta. 

Apesar de toda a questão emocional e de possíveis dificuldades que o casal poderia enfrentar com a proximidade da mãe biológica, o que foi ressaltado pelos profissionais responsáveis pelo processo de adoção de Lorenzo, Vanuza encarou o processo com tranquilidade.

Ela e o marido receberam um termo de cessão de direitos da mãe biológica do então bebê e, junto com a documentação deles, o levaram até as autoridades responsáveis. Durante o processo judicial longo, o que Vanuza acha adequado, afinal, é dos interesses e da vida de uma criança que se trata, Lorenzo viveu com o casal, como é permitido, até que dois anos depois, eles se tornaram oficialmente os pais dele, quando Vanuza pôde, enfim, ter a sua licença-maternidade.

Ressaltando a gratidão que sente pela mãe biológica de Lorenzo, a bancária comenta sobre como tudo se encaixou perfeitamente. Enquanto ela e o marido entravam na fila para adotar, dentro da casa deles estava uma mãe, grávida, que desejava entregar o bebê para adoção. 

 02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José.
02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José. (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Vanuza afirma que a decisão não diminuiu em nada o amor e a importância que tem na vida do filho, ela é a mãe de Lorenzo, mas fica feliz de saber que ele tem outra, que também o ama. Este ano, por exemplo, é a dupla maternidade que permitirá que Lorenzo tenha um Dia das Mães cheio de amor e companhia. "Tive que abrir mão de estar com ele para cuidar da minha mãe, que está ando por uma situação delicada de saúde em outra cidade. Mas ele tem a sorte de que, na ausência de uma, ele tem outra mãe". 

Priorizando, dessa vez, o seu papel de filha em detrimento do de mãe, Vanuza reflete sobre a maternidade. Para ela, é um ato de amor maior, que transborda. "Hoje, tenho uma visão mais ampla, sou outra mulher, muito mais completa. Você volta na sua origem, em tudo que sua mãe fez pelos filhos e que você leva para frente, tanto cuidando dos seus quanto dos seus pais na velhice. É um ciclo de vida muito bonito, em que você se doa e dá tudo o que tem, mas o que recebe em troca é infinitamente maior", completa. 

Maternidade compartilhada 

Os bancários Nayara Jarvis Tome, 35, e Paulo Henrique Alves de Siqueira, 48, são pais de Henrique Siqueira Jarvis, 8, e, embora já seja mãe, Nayara sempre sentiu que sua família ainda não estava completa. A sua maternidade plena e dos sonhos não era apenas de uma criança. A primeira gestação foi tranquila e seguiu o curso natural das coisas. Alguns anos depois, sem pensar que teria dificuldades, começou a tentar o segundo bebê. 

Depois de uma longa demora, engravidou, mas ou por uma perda gestacional sofrida. Logo em seguida, por questões de saúde, descobriu que não poderia mais gestar sem colocar a própria vida em risco. "Foi um baque enorme, ei um bom tempo processando essa informação, depois de quase dois anos esperando e tentando", lembra. 

Nayara e Suzane, que gera o filho da prima
Nayara e Suzane, que gera o filho da prima (foto: Arquivo pessoal)

Nesse momento, Nayara começou a considerar todas as maneiras pelas quais poderia completar sua família. Enquanto ouvia de muitos que ela já era mãe e deveria aceitar a situação, ela sentia que não se tratava da quantidade de crianças, mas, sim, de se sentir completa, plena. 

Em uma viagem aos Estados Unidos, ouviu falar em gestação de substituição. "Para mim, era algo distante, coisa de novela. E, como chamam de barriga de aluguel, achava que nem era permitido no Brasil", conta. De fato, o termo barriga de aluguel implica um tipo de compensação pela gestação, o que é proibido no Brasil.

No entanto, a chamada barriga solidária ou gestação por substituição consiste em um ato voluntário no qual uma mulher pode gestar um embrião para outras pessoas, o que inclui tanto casais que não podem engravidar por questões de saúde quanto os compostos por dois homens, por exemplo. Existe, claro, uma extensa legislação e muitos os que precisam ser dados com cautela antes de uma pessoa se tornar uma cedente de útero. Mas descobrir que isso era uma possibilidade, acendeu uma luz na cabeça de Nayara. 

"Sozinha, comecei a pensar em todos que eu conhecia e quem poderia ser essa pessoa para mim. Considerava tudo, a idade, o momento de vida em que a pessoa estava, o emprego, se isso poderia atrapalhar a vida dela, tudo mesmo. Afinal, é uma doação de vida", lembra. 

Uma escolha de paz 

Depois de alguns meses refletindo, Nayara conversou com um amigo, que questionou se ela tinha um nome. Ela não tinha, mas ao ouvir a pergunta, a sobrinha de seu marido, a psicóloga Suzane Siqueira veio automaticamente em sua mente e trouxe uma sensação de paz. "Nesse dia, cheguei em casa e contei tudo ao Paulo, já falando da Suzane. Ele se assustou e perguntou como isso tinha surgido do nada, eu contei que era algo que eu já considerava há meses. Ali, tudo começou de verdade." 

 Nayara, Suzane, Paulo e Henrique no chá revelação
Nayara, Suzane, Paulo e Henrique no chá revelação (foto: Arquivo pessoal)

Desde a primeira conversa com Suzane, que já tem filhos, um dos requisitos da resolução para que uma pessoa se torne cedente de útero, o sentimento de Suzane foi positivo. Ela afirmou se sentir honrada e com o coração aberto para viver esse processo com Nayara e Paulo. A psicóloga conversou com o marido, que também topou, outro pré-requisito da lei, e ali os quatro começaram a percorrer toda a jornada legal que resultaria na gestação de Leonardo, que está hoje está com cerca de 28 semanas. 

Primeiro, ocorreu a captação de óvulos de Nayara, que foram fecundados com o material genético de Paulo. Em novembro de 2024, eles foram implantados em Suzane e, na primeira tentativa, obtiveram sucesso. "Dez dias depois fizemos os exames e ele estava lá, evoluindo como o esperado", conta Nayara. 

Para se conectar com o filho que cresce e se desenvolve não somente em outro útero, mas também em outra cidade — Suzane mora em Goiânia —, Nayara tem uma série de estratégias. Elas se falam ao telefone todos os dias e a futura mãe criou diversas playlists musicais que Suzane coloca para o bebê ouvir. 

Eles também compraram um aparelho para ouvir os batimentos cardíacos de Leonardo, e Suzane os grava e envia ao casal. "Já que não consigo senti-lo mexer e fazer aquele carinho na barriga, busco outras formas de ir me conectando. Fico com as roupinhas e no quarto dele, que montei logo no início, imaginando nossos momentos juntos, assim vou materializando a chegada dele", conta. 

Os quatro, Suzane e o marido, Nayara e Paulo, iniciaram terapia para lidar com as particularidades do processo e tentam viver os marcos da gestação juntos. Nayara acrescenta que a própria disponibilidade de Suzane de fazer parte desses momentos já é emocionante e faz com que ela se sinta mais próxima do filho. Para fortalecer ainda mais o vínculo, ela considera a indução da produção de leite materno, para que possa amamentar o bebê. 

E assim, de uma maneira que parece saída de um filme, Nayara está realizando o sonho que sempre teve: ser mãe de dois. 

Suzane e Nayara no dia da implantação do embrião
Suzane e Nayara no dia da implantação do embrião (foto: Arquivo pessoal)

Os diferentes caminhos

Para quem deseja se tornar mãe oficial e legalmente, mas não consegue engravidar naturalmente, existem alguns caminhos. Confira alguns deles: 

  • Adoção — O primeiro o é procurar a Vara da Infância e Juventude para se informar e pegar a lista de documentos necessários. Em seguida, é feito um estudo psicossocial que avalia as condições e motivações dos interessados em adotar. Caso sejam aceitos, os envolvidos precisam fazer um curso de preparação, ao fim do qual é emitido um parecer do Ministério Público. Por fim, um juiz avalia e aprova ou não a família no cadastro de pretendentes. A partir disso, quando aparecer uma criança que se encaixe no perfil escolhido, acontece o primeiro encontro, seguido de uma agenda de visitação e da guarda provisória. É importante ressaltar que, a depender da idade da criança, o seu desejo também deve ser respeitado e ela pode recusar a família. Após um período de acompanhamento, a adoção é finalizada e completa.
  • Adoção direta — Diferente das famílias que esperam na fila, os adotantes são apontados pela mãe biológica, mas depois disso também precisam ar pelas outras etapas do processo de adoção tradicional. 
  • Barriga solidária —Consiste na implantação de um embrião gerado por meio de fertilização in vitro com o material genético dos pais biológicos no útero de uma terceira pessoa, que vai gestar o bebê e entregá-lo aos pais ao fim. O embrião também pode ser fruto de fertilização usando material genético de outras pessoas, como no caso do bebê que terá dois pais. Nessas situações, o óvulo usado deve ser de outra doadora, não pode ser da mesma mulher que irá gestar a criança. A mulher que gesta a criança não tem nenhum vínculo legal ou parental com o bebê. A  cedente de útero precisa ter um parentesco de até quarto grau com os pais biológicos e não pode existir nenhum tipo de contrapartida financeira. 
  • FIV — A fertilização in vitro é uma das técnicas de reprodução assistida mais comuns. Nela, o óvulo e o espermatozoide dos pais ou doadores é colhida e avaliada. Em seguida, a fecundação é feita em laboratório e o embrião é transferido para o útero da mãe ou da barriga solidária. 
  • Inseminação artificial — Os espermatozoides do pai ou de um doador são inseridos diretamente no útero durante a fase de liberação dos óvulos, para que a fertilização aconteça naturalmente , dentro do corpo da mãe. 
  • Injeção intracitoplasmatica de espermatozoides — Muito semelhante à inseminação artificial, mas, nesse caso, um único espermatozoide selecionado é inserido diretamente dentro do óvulo, garantindo a fecundação. 

Os últimos embriões

A servidora pública Cristiane Coura, 48 anos, ou por 10 anos de espera antes de vivenciar a maternidade. Aos 29, ela e o marido, o servidor público Cláudio Sant'Ana, 51, pararam de usar métodos contraceptivos, resolveram se adiantar e fazer exames para conferir se estava tudo certo com a saúde reprodutiva. 

Cristiane e os filhos
Cristiane e os filhos: uma longa espera (foto: Arquivo pessoal)

Logo de início, descobriram que, por questões médicas dos dois, teriam dificuldade para engravidar naturalmente e, depois de seis meses de tentativas, decidiram partir para a inseminação por FIV.  Tranquila, Cristiane tinha tanta certeza de que tudo daria certo, que resolveu viajar antes de iniciar o processo. Eles aram quatro meses no Canadá e ela voltou ao Brasil com as malas cheias e um enxoval completo. “Achava que era igual novela, faz a FIV e pronto, ia engravidar e ter meu bebê.” 

A primeira tentativa não deu certo. Com os embriões congelados, frutos do primeiro ciclo, eles fizeram mais algumas, até que precisaram iniciar o segundo ciclo para criar novos embriões. Em cinco anos, foram cinco implantações que não resultaram em gestações. “Na quinta, eu fiquei arrasada, entrei em depressão e precisei parar, desabei. A chegada dos 35 anos me pegou, porque a gente sempre escuta que a partir disso é tudo mais difícil. Se dos 30 aos 35 eu não consegui, seria tudo pior porque até a qualidade dos óvulos cai.”

Além do desgaste emocional e do medo de não conseguir realizar o sonho, tratamentos de fertilidade envolvem altas doses hormonais, injeções e o organismo também fica sobrecarregado. Ela precisava de uma pausa, mas não pensava, nem por um momento, em desistir da maternidade. 

Cristiane, que nunca fez questão de ar pela gestação em si, conversou com o marido, que resistiu um pouco, mas logo aceitou partir para o plano C, a adoção. Por mais que fosse difícil para Cláudio, ele é espírita e sabia que o filho do casal chegaria, independentemente de ser pelo ventre de Cris ou não. 

Na fila para a adoção, já desgastados, o casal enfrentou outro baque. No meio do processo, a lei de adoção mudou e eles precisavam recomeçar do zero. “Era uma luta por todos os caminhos, na FIV, na adoção. Em um determinado momento, Cláudio quis desistir de tudo, o que também abalou o nosso casamento, afinal, isso não era uma opção para mim.” 

Cristiane conta que desde muito nova, todos os seus planejamentos de vida tinham um objetivo final: a maternidade. Ela queria encontrar um homem bacana para se casar, porque, assim, ele seria um bom pai para seus futuros filhos. Estudou para ar em um bom concurso público para atingir a estabilidade financeira que permitiria que ela cuidasse dos filhos com tranquilidade. “Tudo que fiz na vida foi em função desse sonho, então, quando me deparei com a possibilidade de não realizá-lo, fiquei muito perdida. Não me via sem ser mãe e não sabia o que fazer”, revela.

Planos B e C

Na fila de adoção, o casal resolveu seguir, também, com a FIV. Foram mais três tentativas malsucedidas. Exausta, tanto física quanto emocionalmente, ela recebeu uma ligação do Tribunal de Justiça do DF: eles eram os terceiros na fila para adoção. 

Nesse meio tempo, Cristiane e Cláudio ainda tinham dois embriões congelados. O marido insistiu para que tentassem uma última vez. “Eu não queria, mas ele não queria que a gente desperdiçasse aquela chance dos últimos embriões. Eu disse que faria, mas que depois disso ele nunca mais tocaria no assunto comigo.” 

Na última tentativa, a gestação veio. E não foi somente um dos embriões, os dois se desenvolveram bem e Cristiane se viu grávida de gêmeos. A felicidade que sentiu é algo que ela não consegue colocar em palavras, mas, ao mesmo tempo, o receio por toda a espera e as questões de saúde que poderiam se apresentar, o casal não saiu da fila da adoção, apenas foi para o último lugar. 

A gestação foi complicada, ela sofreu com pré-eclâmpsia e os bebês nasceram prematuros, com 33 semanas, além de enfrentarem uma série de problemas de saúde nos primeiros anos de vida. Mesmo com todas as dificuldades, ela diz que não faria nada diferente, e comemora não ter desistido. “Nada foi fácil, nem conceber, nem gestar e muito menos o pós-parto, mas, hoje, meus filhos têm quase 10 anos, nasceram na véspera do meu aniversário e nos fazem infinitamente felizes”, afirma.

Cristiane e a família
Cristiane e a família (foto: Arquivo pessoal)

Clara Coura Sant'Ana e Daniel Coura Sant' Ana, 9, nasceram quando Cristiane estava com 39 anos e depois dos perrengues enfrentados, o casal resolveu sair da fila de adoção. “Estávamos tão felizes com nossos dois bebês e percebemos que o ideal seria permitir que outras pessoas tivessem a oportunidade de viver esse amor por meio da adoção. Brasília tem uma fila muito grande”, conta. E completa, rindo: “Além disso, eu já estava com 39, muito cansada e não daria conta de mais um”. 

Pensando no destino e na ideia de que ela tinha um plano para sua vida, mas Deus tinha outros, Cristiane lembra que, no início da jornada, quando fez o enxoval no Canadá, o preparou para gêmeos, comprou tudo em dobro, para um menino e para uma menina. Na ficha de adoção, sinalizou que aceitaria gêmeos e, por fim, durante os exames iniciais da gestação, questionava o médico, não acreditando que os dois embriões estavam se desenvolvendo bem. Ela mal acreditava que teria não apenas um, mas dois bebês tão sonhados.

Espera recompensada

O sonho da maternidade demorou um pouco mais para despertar no coração da advogada Ana Paula Bezerra Monteiro, 35. Quando ela tinha 15 anos, sua mãe teve outro bebê e como trabalhava fora para sustentar a família, muitas das responsabilidades recaíram sobre Ana Paula. "Eu dizia que não queria ser mãe porque pensava em tudo que queria ter feito quando era jovem e não pude porque estava cuidando de um bebê", lembra. 

Apesar disso, quando estava casada com o bancário Carlos Aurélio, 45, há cerca de quatro anos, a ideia começou a povoar sua mente. O desejo apareceu e ficou por ali alguns anos, adiado em função de outros aspectos da vida. Em 2020, enfim, ela e o marido resolveram encarar a aventura. Depois de não ter sucesso, o casal foi em busca de ajuda médica e todos os exames demonstraram que tudo estava bem. "Era uma angústia, eu não engravidava, mas, ao mesmo tempo, não encontrava uma razão para isso." 

Três anos depois, o casal fez a primeira consulta para tentar fertilização in vitro. Mais um ano de investigação médica e nada acontecia. Perto de fazer 35 anos, Ana Paula bateu o martelo, faria a FIV mesmo que a médica aconselhasse um pouco mais de espera pela gestação natural. Para iniciar o processo, precisava estar perto de menstruar, e sentindo cólicas e um certo desconforto nos seios, ela confirmou que estava. Em 14 de maio foi feita, então, uma consulta para acertar o processo burocrático. 

Ana Paula, o marido e os gêmeos
Ana Paula, o marido e os gêmeos (foto: Arquivo pessoal)

Gratas surpresas

Na véspera da reunião, Ana Paula percebeu que o desconforto e a espera pela menstruação já durava cerca de 20 dias e resolveu fazer um teste de gravidez. "Não sei o que deu na minha cabeça, mas fiquei nessa agonia. Quase 10 da noite saímos para andar com nosso cachorro e ei na farmácia, comprei um teste baratinho porque não queria gastar dinheiro para me decepcionar de novo", lembra.

Ao ver a primeira listra no teste, indicando apenas mais um negativo, ela entrou no banho em paz, já com a FIV em mente. Ao sair, no entanto, Ana Paula foi jogar a bagunça do teste fora e gritou quando viu a segunda listra, que indicava a gravidez. "Meu marido veio correndo, achando que eu tinha me machucado. Saímos pela cidade procurando uma farmácia aberta, compramos mais três testes. Todos deram positivo e indicaram uma gestação de duas a três semanas." Ana Paula não dormiu e no dia seguinte correu para fazer um exame de sangue, que confirmou a gestação.

Na primeira consulta, comentou com a médica que, em meio a toda a felicidade, ficou um pouco triste, pois, com a FIV, poderia ter os gêmeos com os quais sempre sonhou. "Ela só respondeu que a natureza era sábia e nunca se sabe. Que primeiro eu precisava focar em ter um bebê e depois poderia tentar de novo", conta. 

No primeiro ultrassom, além do saco gestacional, elas viram outro volume, mas que parecia ser apenas os resquícios da vesícula que se forma antes do embrião. Na consulta seguinte, quando ouviriam o coração pela primeira vez, a surpresa: Ana Paula teria dois bebês. "Aquela coisinha que vimos anteriormente evoluiu para uma bolinha idêntica à primeira. Eram dois sacos gestacionais e os dois tinham batimentos cardíacos. Seríamos pais de gêmeos. Foi inacreditável e muito emocionante", lembra. 

A gestação foi difícil e os bebês nasceram prematuros, de 34 semanas, mas nada disso ofuscou a alegria da advogada ao conhecer Isaac e Henri Bezerra Monteiro, hoje com cinco meses. O milagre pelo qual esperava veio cheio de felicidade.

Um domingo especial

Grávida de cinco semanas, a bombeira militar Nayara Barbosa Sampaio, 33, ou por processo semelhante ao de Ana Paula e agora espera ansiosa pelo ano que vem, quando ará o Dia das Mães com seu bebê, Henrique Lacerda Sampaio, nos braços. 

Ela e o marido, o servidor público Daniel Lacerda de Lima, 36, estão juntos há sete anos e, em 2022, começaram a tentar engravidar. Nada acontecia e, ao procurar ajuda médica, descobriram que os dois tinham questões de saúde que dificultavam a concepção. 

Nayara e o marido em ensaio de gestante e no chá revelação
Nayara e o marido em ensaio de gestante e no chá revelação (foto: Arquivo pessoal)

“Meu marido tinha apenas 3% de chance de conseguir a fecundação, isso, junto com os meus problemas de saúde, afastou muito o nosso sonho. Assim que soubemos, começamos a fazer tudo o que podíamos para melhorar nossa qualidade de vida e saúde”, lembra. 

Foram meses de medicações e tratamentos hormonais e, mesmo com todas as medidas, o sonhado bebê não vinha. Os hormônios começaram a cobrar seu preço e Nayara, além de sofrer emocionalmente, não se sentia bem. Ela descobriu que o tratamento que tinha feito quatro vezes para estimular a ovulação estava prejudicando seu organismo e não seria mais uma opção. Ali, eles decidiram seguir para o caminho da FIV e, se esse também não desse certo, iriam para a adoção. 

“Fiquei muito mal psicologicamente e resolvi me dar um tempo. Além do sofrimento, desgaste emocional e físico, tudo custava muito dinheiro. Comecei uma terapia com uma psicóloga especializada em tentantes e decidi que, se até janeiro nada desse certo, faria a FIV”, lembra. 

Em novembro, Nayara voltou a menstruar, o que causou uma grande felicidade, afinal, assim ela teria chances de engravidar. Em dezembro, o atraso no ciclo a decepcionou, achou que voltaria a ter problemas para ovular. Em janeiro, nada. Em 8 de fevereiro, começou o processo para a FIV e, no dia 13 do mesmo mês, incrédula, descobriu a gestação. 

O primeiro Dia das Mães grávida é especial. Nayara perdeu a mãe com seis anos e a avó, que a criou, também já morreu. “Era um dia triste para mim há muitos anos, não tinha nenhuma mãe com quem ar e agora eu sou a mãe, estou muito feliz.” 

Nayara e o marido em Ensaio de gestante e no chá revelação
Nayara e o marido em ensaio de gestante e no chá revelação (foto: Arquivo pessoal)

 

 


  •  02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José e seu esposo Jusley José Soares.
    02/05/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Especial dia das mães.Vanuza Marinho com seu filho Lorenzo José e seu esposo Jusley José Soares. Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
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    Vanuza Marinho com o filho Lorenzo José e o marido Jusley José Soares Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
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    Nayara, Suzane, Paulo e Henrique no chá revelação Foto: Arquivo pessoal
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    Ana Paula, o marido e os gêmeos Foto: Arquivo pessoal
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    Nayara e Suzane, que gera o filho da prima Foto: Arquivo pessoal
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    Cristiane e os filhos: uma longa espera Foto: Arquivo pessoal
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    Cristiane e a família Foto: Arquivo pessoal
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    Suzane e Nayara no dia da implantação do embrião Foto: Arquivo pessoal
AC
postado em 11/05/2025 06:00
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