
O JAMA Netw Open, periódico da Associação Médica Americana, publicou esta semana resultados de um estudo com voluntários com mais de 65 anos mostrando que muitos dizem que têm interesse em saber sob seus riscos de apresentar a Doença de Alzheimer, mas quase metade desses declinam. E não é por dar trabalho ou falta de recursos para realizar exames, pois eles já haviam sido feitos no decorrer de um longo projeto de pesquisa conduzido pela Universidade de Washington em Saint Louis. É não querer saber mesmo. E a principal razão apontada foi a de evitar a carga psicológica em saber sobre esse risco. Aqueles que tinham familiares com a doença tinham menos interesse em saber sobre os exames.
Pouco se estudou sobre o impacto psicológico sobre os resultados de biomarcadores da Doença de Alzheimer entre voluntários de estudos para a doença. Existem evidências ainda limitadas de que ter conhecimento dessa informação não traz repercussões psicológicas tão negativas. Um estudo pioneiro publicado ainda em 2009 pelo The New England Journal of Medicine avaliou o estado psicológico entre saber ou não saber sobre um desses biomarcadores (genotipagem da apolipoproteína E). Não houve diferença entre os níveis de ansiedade, depressão e estresse psíquico entre os dois diferentes grupos – saber ou não saber. Entretanto, aqueles que receberam resultados de menor risco no teste apresentaram menor grau de estresse psicológico, e aqueles que receberam resultados de maior risco apresentaram maior estresse psicológico, mas por um período de tempo limitado.
Esses estudos são de extrema importância no momento em que medicações que mudam o curso natural da doença arão a estar disponíveis e será fundamental que diagnósticos sejam feitos cada vez mais precocemente. Estaremos começando essa nova era no tratamento do Alzheimer com o Donanemab, um anticorpo monoclonal recentemente aprovado pela Anvisa e com resultados clínicos bem modestos e preços nada, nada modestos.
Por ora, esses exames não devem ser realizados na população geral, mas apenas em pacientes selecionados por médico especializado no assunto, pois um resultado sem a devida orientação e aconselhamento pode trazer prejuízos para o equilíbrio psíquico.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília