
Com olhos que lembram o gelo e uma pelagem digna dos invernos mais rigorosos, o husky siberiano carrega em seu DNA séculos de resistência e trabalho nas regiões congeladas da Sibéria. Hoje, espalhado pelo mundo como um dos cães mais desejados, ele encanta e desafia os tutores: exige atenção à saúde, adaptações ao clima e muita disposição para acompanhar seu ritmo.
Originário da Sibéria, mais precisamente criado pelo povo Chukchi, o husky siberiano foi desenvolvido como cão de trenó, resistente a longas distâncias em temperaturas extremamente baixas. Sua aparência imponente esconde um temperamento dócil e sociável, características que foram essenciais para a convivência com as famílias nômades do Ártico. No início do século 20, a raça foi levada ao Alasca, onde ganhou fama nas corridas de trenó e, posteriormente, espalhou-se pelo mundo como cão de companhia.
Segundo o veterinário Fernando Resende, especialista em saúde animal e docente do Centro Universitário Uniceplac, apesar da resistência herdada dos trens de trenó, o husky pode apresentar algumas condições específicas. "Entre os mais comuns estão as doenças oculares, como catarata e atrofia progressiva da retina, além de dermatites ligadas à deficiência de zinco e, ocasionalmente, displasia coxofemoral. A prevenção exige check-ups veterinários regulares, alimentação de qualidade e controle adequado do exercício físico."
E se o clima quente é uma realidade para muitos huskys fora da Sibéria, os cuidados precisam ser redobrados. "É essencial manter o husky em ambientes bem ventilados, com o constante a água, sempre fresca, e eios em horários mais amenos, como início da manhã ou fim da tarde. O risco de hipertermia é real e pode comprometer seriamente sua saúde", destaca Resende.
Energia de sobra
O husky é um cão que não conhece o tédio — desde que tenha como gastar sua energia. "Ativo e inteligente, demanda, em média, entre 60 e 90 minutos diários de atividades físicas. Caminhadas longas, corrida leve, natação ou brincadeiras interativas são formas ideais de evitar o tédio,
o estresse e o comportamento destrutivo", explica Fernando Resende. Ele também recomenda que o tutor ajuste a intensidade dos exercícios conforme o clima e as condições físicas do cão.
E para manter aquela pelagem impecável? A receita é uma combinação de escovação regular e uma boa nutrição. "A pelagem espessa e característica do husky exige uma nutrição rica em proteínas, ácidos graxos essenciais (ômegas 3 e 6) e zinco, nutrientes fundamentais para manter a pele saudável e o pelo brilhante", acrescenta o especialista.
Anne Caroline Gontijo e sua irmã Mariana têm dois animais dessa raça, Max e Ayla. "Eu e minha irmã sempre tivemos o sonho de ter um cachorro. Um amigo do meu pai criava alguns cães e ele tinha alguns huskies siberianos e foi por meio dele que meu pai nos presenteou, em 2019, com o Max. Em 2021, o Max teve quatro filhotes — três ficaram com a mãe, e nós escolhemos uma para cuidar. Assim, a Ayla entrou nas nossas vidas", conta Mariana.
O que mais atrai as irmãs nos huskies é o companheirismo e a energia que eles trazem para o dia a dia. "São muito brincalhões, às vezes agitados, e incrivelmente carinhosos. Além disso, são cães muito dóceis", diz Anne.
Como citado por Fernando, uma alimentação bem equilibrada é essencial para essa raça, e as irmãs concordam. "Aprendemos desde o início que é essencial incluir suplementos ou vitaminas pelo menos uma vez por semana. Isso ajuda no desenvolvimento da saúde geral e na qualidade do pelo. A alimentação também exige atenção. A ração precisa ser de alta qualidade, com boa composição nutricional. Não dá para economizar nesse aspecto, pois uma boa alimentação influencia diretamente na disposição, na imunidade e na longevidade dos cães", comentam.
Por serem afetuosos, Mariana diz que a alegria em casa é constante. "Eles são extremamente inteligentes e aprendem rápido. Digo isso porque até hoje respeitam comandos simples que ensinamos quando ainda eram filhotes. Além disso, fazem parte da nossa família de um jeito muito especial."
Os dois não são adestrados, o que exige atenção redobrada durante os eios — especialmente para evitar que comam algo do chão. Por isso, as tutoras dão um conselho importante: independentemente do porte do cachorro, o adestramento desde cedo facilita muito a convivência.
Comportamento
Além da saúde, o comportamento do husky siberiano merece atenção. Conhecido por sua independência — e, muitas vezes, teimosia —, ele pode ser um desafio na hora do adestramento. Igor Melo, diretor do Uniceplac, orienta: "Tudo começa na sociabilização do animal, e também procurar ajuda de um profissional especialista em comportamento animal".
Um dos traços mais comuns da raça é a tendência à fuga e ao comportamento destrutivo, mas, segundo Melo, há formas eficazes de prevenir. "Aprender os comandos básicos e praticar obediência são algumas formas de minimizar esses comportamentos", explica. Para ajudar a canalizar a energia abundante, ele recomenda: "Os huskys são cães de tração, sendo assim, atividades de corrida intensa ajudam a drenar essa energia".
Apesar do perfil independente, o husky pode ser muito sociável, especialmente se for estimulado desde cedo. "Depende da sociabilização do cão na fase pós-protocolo vacinal. Para garantir uma boa sociabilização é necessário frequentar locais com outros animais e crianças", orienta Igor Melo.
Com a combinação certa de cuidados com saúde, alimentação, exercícios e treinamento, o husky siberiano se adapta bem até mesmo longe dos invernos gelados de sua terra natal — sempre mantendo aquele ar selvagem e misterioso que tanto encanta.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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